Editorial
À medida que saem pesquisas
que mostram redução de apoio popular a Dilma Rousseff e cresce a possibilidade
de segundo turno nas eleições do ano que vem, o PT se agita e a relação com a
presidente fica tensa, enquanto cresce no partido a turma do "queremismo", pela
volta de Lula.
Muita coisa, afinal, está
em jogo: 22 mil cargos de confiança, usados no aparelhamento da máquina
pública, controle de estatais com ambicionados orçamentos etc.
É neste contexto que a
presidente, no fim de semana, não foi à reunião da Executiva Nacional do
partido, alegando uma agenda de trabalho sobre a visita do papa Francisco. Em
carta aos militantes, defendeu as "ruas", o plebiscito da reforma política e se
colocou ao lado de Lula.
Dilma está entre o partido
e a Presidência. Como a reeleição entrou em zona de risco, surgem pressões de
alas petistas para que ela seja mais militante e menos presidente do Brasil. É
uma armadilha, na qual Dilma cairá se não agir como chefe da nação.
Ela não deve se
impressionar com pesquisas feitas a mais de um ano das urnas. Neste momento,
elas refletem o clima detectado nas manifestações.
A presidente deve é se
concentrar em governar, ser intransigente com a corrupção, levar a inflação o
mais rapidamente possível para a meta (4,5%), recuperar, enfim, a credibilidade
da política econômica, por ações como a restauração da seriedade na
apresentação das contas públicas.
Isso atrairá investimentos
externos em geral, e, em particular, para as licitações de projetos de
infraestrutura a serem feitas neste segundo semestre. Assim, poderá conseguir
uma taxa de crescimento econômico mais elevada este ano. E, se tudo isso
acontecer, deverá chegar ao final do primeiro semestre de 2014 com boa parte da
popularidade recuperada.
Ela precisa fugir da agenda
de confronto a que petistas tentam levá-la. A ideia do plebiscito surgiu da
inviabilidade legal da "constituinte exclusiva", sonho de consumo destas alas
do partido, para, numa assembleia sem a barreira da maioria qualificada,
poder-se alterar regras eleitorais e, com facilidade, contrabandear para a
Carta mecanismos de “democracia direta” de inspiração chavista.
Querer forçar Dilma e
aliados a entrar em rota de colisão com o Poder Judiciário, em nome do tal
plebiscito, é um desvario.
Fingem esquecer a nota do
Tribunal Superior Eleitoral, em que é reafirmada a barreira da anualidade para
qualquer alteração na legislação eleitoral entrar em vigor. A tese de facções
petistas está isolada.
O deputado Candido
Vaccarezza, de São Paulo, escolhido pelo presidente da Câmara, Henrique Alves,
para presidir a comissão da reforma, foi alvo de manifesto de um grupo do
partido por não ser muito firme na defesa do plebiscito.
O PMDB, o maior aliado,
nunca embarcou no projeto.
Mesmo assim, forçam Dilma a
tomar o rumo de uma crise político-institucional.
Fonte: "O Globo"
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