Por Augusto Nunes
Tanto sacerdotes quanto
devotos da seita que tem em Lula seu único deus sucumbiram a sucessivos e
violentos ataques de nervos. Contagiados pela epidemia de chiliques, milicianos
em serviço na internet tentaram articular outra feroz ofensiva contra o autor
da afronta intolerável. Isso não pode ficar assim, decidiram os comandantes da
tropa aquartelada na esgotosfera.
O que não podia ficar assim
era a eleição, que mobilizou milhares de leitores da coluna, para a escolha do título do livro que Lula deveria escrever para,
em seguida, candidatar-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. (Como a
ABL premiou com uma cadeira o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que está
para o Super-Macunaíma como a kriptonita verde para o Super-Homem, o doutor
honoris causa não resistirá à tentação de virar imortal também).
Indignados com as pérolas
de humor e sarcasmo produzidas pelos leitores-eleitores, blogueiros chapa-branca
publicaram quilômetros de linhas empilhadas por cretinos fundamentais que
alternam insultos em letras maiúsculas com dolorosas gargalhadas eletrônicas. E
promoveram a manifesto da subespécie o besteirol produzido por um ex-jornalista
que, corajosamente, coleciona declarações de guerra ao resto do mundo
entrincheirado num hospício longe do Brasil.
(Ele age assim para
prosperar subempregado - e para abrandar a angústia do anonimato irreversível
textos, publicados em blogs milionários em acessos mensais, que citam seu nome.
Aqui esse truque não funciona. Quem perde a vergonha perde também a identidade.
Na multidão dos desprezíveis, todos têm o mesmo rosto e nenhum tem nome. Ponto
e parágrafo).
Depois de trocar a camisa
de força pela farda de general da banda, o maluco internacional descobriu que a
eleição que zomba da Era da Mediocridade, vista de perto, configurou um
atentado à honra, à privacidade e à imagem imaculada de um estadista. Enquanto
algum enfermeiro providenciava o sossega-leão, teve tempo de escrever que é por
essas e outras que a internet precisa urgentemente de censura.
E jornalista independente
precisa de cadeia, foi em frente o redator de manicômio. Até que a
institucionalização do controle social da mídia proteja os superiores
interesses da pátria (e garanta os baixos interesses dos pelegos digitais), o
Código Penal está aí para isso. O que Lula espera para acionar judicialmente os
responsáveis pelo crime?, instigou o porta-voz da esgotosfera.
Ótima ideia: que venha o
processo. Para quem preza a verdade, tal perspectiva é tão agradável quanto a
contemplação da Costa Amalfitana num crepúsculo de outono. Entre outros motivos
porque, estacionado num tribunal, o palanque ambulante não poderá escapar de
temas que o mantêm insone nem de interpelações das quais anda fugindo como o
diabo da cruz.
Por exemplo: o que tem a
dizer sobre o escândalo que protagonizou em companhia de Rose Noronha? A
pergunta será feita tão logo o advogado do ex-presidente mencione a eleição que
chegou a seu desfecho neste domingo. Apurados os votos, três sugestões
dividiram a terceira colocação: O VENDEDOR
DE ILUSÕES; PT RICO, PAÍS POBRE;
TRAIR E ROUBAR É SÓ COMEÇAR.
O segundo lugar ficou com 50 TONÉIS DE PINGA. E o vencedor foi O BEBUM DE ROSEMARY. Eis aí um título
capaz de transformar em campeão de vendas até um livro com todas as páginas em
branco.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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