Por
Reinaldo Azevedo
No dia 18 de setembro de 2010, durante um comício em
Campinas, com as presenças de Dilma Rousseff e Aloizio Mercadante - candidatos,
respectivamente, à Presidência da República e ao Governo de São Paulo -, o então
supremo mandatário da nação, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou o seguinte: "Tem
dias em que alguns setores da imprensa são uma vergonha. Os donos de jornais
deviam ter vergonha. Nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se
comportam como partidos políticos. Nós não precisamos de formadores de opinião.
Nós somos a opinião pública". Lula vinha numa impressionante escalada retórica
contra a imprensa livre. Quando as notícias eram favoráveis a seu governo, ele
as considerava apenas justas; se negativas, ele acusava sabotagem. Lula e o PT
nunca desistiram do tal controle da mídia. Em sua última resolução, há poucos
dias, o Diretório Nacional do PT pregou abertamente o controle de conteúdo do
jornalismo. Pois bem: seis dias depois de mais uma investida contra a liberdade
de imprensa, um líder evangélico fez publicar nos principais jornais do país um
anúncio pago em que rechaçava qualquer forma de censura promovida pelo estado
ou de controle da mídia. Lia-se naquela peça: "Nem o presidente da República,
partidos políticos, líderes religiosos, qualquer segmento da sociedade ou mesmo
a imprensa são, isoladamente, os donos da opinião pública". Já
voltarei a este anúncio - até porque publicarei a imagem aqui. Antes, algumas
considerações.
Crítico da imprensa
Outro dia um desses bobalhões que confundem alhos com bugalhos e joio com trigo enviou um comentário para este blog mais ou menos assim: "Pô, ultimamente, você critica tanto a imprensa que até parece Fulano de Tal…" E citou um anão moral que anda a soldo por aí, a pedir o "controle da mídia". Pois é. Dentre tantas outras, uma diferença fundamental se destaca entre mim e aquela coisa triste que foi citada: ele quer uma imprensa controlada pelo estado; eu quero uma imprensa livre, que não se deixe controlar nem pelo estado nem por corporações, qualquer que seja a sua natureza: ofício, crença, ideologia, valores. Aquele bobo do oficialismo sonha censurar o que os outros escrevem; eu aposto numa imprensa que não tem receio da censura - nem a das vozes eventualmente influentes e das maiorias de ocasião. Aquele cretino critica a imprensa porque a quer com ainda menos liberdade; eu a critico porque a quero mais livre. Aquele governista convicto, pouco importa o governo de turno, quer o jornalismo a serviço do poder; eu quero o jornalismo vigiando o poder.
Outro dia um desses bobalhões que confundem alhos com bugalhos e joio com trigo enviou um comentário para este blog mais ou menos assim: "Pô, ultimamente, você critica tanto a imprensa que até parece Fulano de Tal…" E citou um anão moral que anda a soldo por aí, a pedir o "controle da mídia". Pois é. Dentre tantas outras, uma diferença fundamental se destaca entre mim e aquela coisa triste que foi citada: ele quer uma imprensa controlada pelo estado; eu quero uma imprensa livre, que não se deixe controlar nem pelo estado nem por corporações, qualquer que seja a sua natureza: ofício, crença, ideologia, valores. Aquele bobo do oficialismo sonha censurar o que os outros escrevem; eu aposto numa imprensa que não tem receio da censura - nem a das vozes eventualmente influentes e das maiorias de ocasião. Aquele cretino critica a imprensa porque a quer com ainda menos liberdade; eu a critico porque a quero mais livre. Aquele governista convicto, pouco importa o governo de turno, quer o jornalismo a serviço do poder; eu quero o jornalismo vigiando o poder.
Assim, sou crítico, sim, da imprensa, especialmente nestes
tempos em que ela é tão cegamente liberticida; em que põe, voluntariamente, a
cabeça no cutelo. A Constituição nos garante a liberdade, e o Estado (não o
governo!) a tem assegurado - ainda que não seja pequeno o risco de censura pela
via judicial. Mas atenção! Só é verdadeiramente livre o que exerce a liberdade.
Uma imprensa que ou se deixa assombrar pela patrulha ou a ela adere, em nome da
legitimidade, atropelando as garantias fundamentais da Constituição, está SE
DEGRADANDO.
É evidente que uma imprensa que estivesse submetida a isso
que chamam "controle social" já não seria livre, especialmente no tempo em que
uma força política assegura ser ela mesma “a opinião pública”. Mas o controle
do estado não é o único que pode tolher a liberdade. Se admitirmos que policiais
informais do pensamento - por mais que tentem falar em nome do bem - imponham a
sua vontade na base do berro, da intimidação e da satanização, expomo-nos nós
mesmos à hordas do amanhã. Quais serão elas? Falarão em nome de quais valores?
Trata-se, então, de saber em nome de qual ideal de sociedade
agimos; trata-se, então, de saber que modelo abstrato perseguimos com nossas práticas
e escolhas cotidianas. Ainda que eu repudie as ideias do deputado Marco
Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara,
cumpre indagar se uma sociedade em que um parlamentar eleito, escolhido para
uma função segundo as regras do Regimento Interno, fosse deposto por delito de
opinião seria mais saudável do que outra em que o protesto é, sim, livre -
porque a praça é do povo, como o céu é do condor -, mas sem agressão aos
fundamentos de um regime democrático e de direito. Feliciano não é um
usurpador. O surrealismo alcança tal dimensão que o deputado Jean Schopenhauer
Wyllys, numa passeata, chega a INDICAR o nome do PSC que ele quer presidindo a
comissão. Sim, o deputado do Psol se considera no direito de escolher o nome do
outro partido que gostaria de ver no cargo. E o jornalismo o trata como a voz
da ponderação e do bom senso.
Esses que agora estão em marcha se consideram, a exemplo de
Lula, "a" opinião pública. E se preparam, podem escrever aí, para um embate que
virá: e ele versará justamente sobre o controle dos meios de comunicação.
Alguns estrategistas mancos - espero não ser processado pela Associação da
Inclusão dos Claudicantes Ofendidos - escolheram um caminho estupidamente
errado. Imaginam que, se cederem às patrulhas politicamente corretas, estarão a
salvo da sanha dos censores. Não estarão porque já fizeram uma opção cujo dano é
maior do que o perigo, como escreveu Camões. O perigo que se corre - e existe,
sim! - é haver formas oblíquas de controle estatal da imprensa. Mas o dano, que
já é visível, é esse controle nem ser assim tão necessário porque já exercido
na base da sujeição voluntária.
Aposta na liberdade de imprensa
Seis dias depois de Lula ter regurgitado impropérios contra a imprensa livre num palanque, num ambiente, então, de franca hostilidade à liberdade de opinião, um líder evangélico fez publicar este anúncio pago (Clique na imagem para ampliar) nos maiores jornais brasileiros. Trata-se de uma resposta clara a Lula.
Seis dias depois de Lula ter regurgitado impropérios contra a imprensa livre num palanque, num ambiente, então, de franca hostilidade à liberdade de opinião, um líder evangélico fez publicar este anúncio pago (Clique na imagem para ampliar) nos maiores jornais brasileiros. Trata-se de uma resposta clara a Lula.
A assinatura está ali. Trata-se do "polêmico", como querem
alguns, Silas Malafaia. Temos, e ambos sabemos disso, enormes discordâncias,
inclusive religiosas. Jamais estivemos juntos, mas ele sabe o que penso e sei o
que ele pensa. E daí? Eu estou preparado para enfrentar a divergência. O que não
aceito, e não aceito, é que tentem me calar - ou calar a outros - ao arrepio
dos fundamentos constitucionais; o que rechaço é a tentativa de criar leis que
criem categorias superiores de homens, infensos à crítica.
Quantos partidos de esquerda assinariam esse anúncio posto nos jornais por Malafaia? O PT? O PC do B? O Psol de Jean Wyllys, Chico Alencar e Marcelo Freixo? Nunca!!! E olhem que, como ele próprio lembra, não se trata de uma pessoa exatamente paparicada pela imprensa cuja liberdade defende. Ao contrário: costuma ser alvo das piores vilanias; preferem transformar o que ele diz numa caricatura para que fique fácil, então, combatê-lo. Eu preferiria estar aqui a discordar do pastor, numa ambiente de civilidade democrática, a ter de defender uma questão de princípio: o direito à liberdade de opinião e de expressão.
Quantos partidos de esquerda assinariam esse anúncio posto nos jornais por Malafaia? O PT? O PC do B? O Psol de Jean Wyllys, Chico Alencar e Marcelo Freixo? Nunca!!! E olhem que, como ele próprio lembra, não se trata de uma pessoa exatamente paparicada pela imprensa cuja liberdade defende. Ao contrário: costuma ser alvo das piores vilanias; preferem transformar o que ele diz numa caricatura para que fique fácil, então, combatê-lo. Eu preferiria estar aqui a discordar do pastor, numa ambiente de civilidade democrática, a ter de defender uma questão de princípio: o direito à liberdade de opinião e de expressão.
"Ah, mesmo na democracia, nem tudo pode ser dito, não é,
Reinaldo?" É, nem tudo - sempre destacando que, ainda assim, existe uma diferença
importante entre dizer e fazer. Mas admito, como princípio, que a democracia não
aceita todo e qualquer desaforo, mesmo se apenas falado. Mas fiquemos, então,
no caso em espécie, com o que deu à luz o inimigo público nº 1 do Brasil: será
mesmo que Feliciano foi além do que pode tolerar o regime democrático? A
resposta, obviamente, é "não". E nem por isso preciso concordar com ele.
Malafaia, ele próprio nota, não fala em nome de todos os
evangélicos. Mas professa um valor que, creio, expressa o pensamento da
maioria: a aposta na liberdade de imprensa, a aposta da liberdade de opinião, o
repúdio a qualquer forma de controle estatal da informação.
Infelizmente - e já digo a razão desse advérbio -, o credo que Malafaia anuncia está muito acima, em termos qualitativos, do entendimento médio hoje vigente nas redações sobre liberdade de imprensa e liberdade de opinião. Já houve coleguinha pregando, abertamente, que eu fosse censurado, por exemplo. Por quê? Ora, porque discorda de mim. Não se dá conta de que, ao fazê-lo, expõe-se ele próprio a uma eventual censura.
No país em que um líder evangélico consegue ser mais desassombrado na defesa da liberdade de expressão do que boa parte dos jornalistas, ousaria dizer que esse pastor agregou a seus valores religiosos os valores inegociáveis da democracia e do estado de direito. Mas também é preciso dizer que os jornalistas renunciaram à sua missão para se comportar como membros de uma seita de fanáticos e linchadores.
Infelizmente - e já digo a razão desse advérbio -, o credo que Malafaia anuncia está muito acima, em termos qualitativos, do entendimento médio hoje vigente nas redações sobre liberdade de imprensa e liberdade de opinião. Já houve coleguinha pregando, abertamente, que eu fosse censurado, por exemplo. Por quê? Ora, porque discorda de mim. Não se dá conta de que, ao fazê-lo, expõe-se ele próprio a uma eventual censura.
No país em que um líder evangélico consegue ser mais desassombrado na defesa da liberdade de expressão do que boa parte dos jornalistas, ousaria dizer que esse pastor agregou a seus valores religiosos os valores inegociáveis da democracia e do estado de direito. Mas também é preciso dizer que os jornalistas renunciaram à sua missão para se comportar como membros de uma seita de fanáticos e linchadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário