Por Reinaldo Azevedo
A gangue que invadiu o
consultório da dentista que Cinthya Magaly Moutinho de Souza já havia antes
embebidos suas vítimas em álcool, mas nunca havia acendido o isqueiro. Segundo
o depoimento dos assassinos, um fato foi determinante na decisão, o que o tal
menor sem nome e sem rosto narrou com frieza burocrática à polícia. Jonathan, o
tal que conduzia o Audi da mãe no assalto, tinha saído com o cartão de banco de
Cinthya para fazer um saque. Ao constatar que só havia R$ 30 na conta, ficou
furioso e ligou para seus comparsas. Estes, mais irritados ainda, resolveram
matar a dentista queimada. Decidiriam "isqueirá-la". Os malditos já criaram até
um verbo para o ato bárbaro.
Ou, como notou a minha
mulher, eles não suportaram o fato de que a dentista que eles assaltavam era
mais pobre do que eles próprios - que pobres não eram, é bom que fique claro.
Eles não suportaram o fato de que aquela que eles assaltavam, e que ganhava a
vida com o seu trabalho, tinha menos dinheiro do que eles próprios, canalhas
que viviam do que arrancavam dos outros.
Se há alguma "luta de
classes" nesse caso, como quer a delinquência moral pró-bandido que está
presente em boa parte da imprensa brasileira, está no fato de que marginais
endinheirados não toleraram o fato de encontrar pela frente uma vítima sem
dinheiro. E aí eles a “insqueiraram”.
Infelizmente, nem Cinthya
nem Victor Hugo Deppman sobreviveram para escrever um texto para a Folha. Ele teve os miolos espalhados na calçada. Ela virou carne queimada em
alguns minutos. Não tiveram tempo de passar pela ascese sociológica que, ao
chamar Justiça de vingança, advoga a impunidade e faz uma pacto com a
bandidagem.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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