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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Uma análise conservadora

Deu no Blog Reinaldo Azevedo:
A jornalista Melanie Phillips, da The Spectator, tem um blog no site da revista britânica, bem antiga, fundada em 1828. É uma conservadora sem dúvida. Escreveu um texto muito duro sobre a eleição de Barack Obama. Melanie não tem dúvida de que, com a eleição do democrata, o mundo se tornou bem menos seguro. Não tenho sobre o mandato do democrata a mesma perspectiva pessimista que ela tem - e espero que uma analista sem dúvida aguda, inteligente, esteja errada. Ou estamos todos fritos.
Mas há pelo menos dois trechos do seu artigo com os quais concordo inteiramente. No primeiro, ela observa que a América votou, aparentemente ao menos, por mudança. Mas qual mudança? Não quer mais Bush? E, então, vem a sacada realmente importante: “Bush já deixou de ser Bush. Sua política externa está zanzando na paralisia (redimida apenas pelo gênio estratégico do general Petraeus” - ela se refere ao comandante das tropas americanas no Iraque; indaga também o que será dele agora. Ela lembra ainda que os EUA estão submetidos às exigências do Tesouro e que o Congresso, controlado pelos democratas, ajudou a criar a crise da bolha imobiliária. Em suma, o Bush que está sendo aposentado – “a” mudança – não é mais Bush, mas um pato manco.
Entende-se que Melanie considera que o verdadeiro sentido do “change” de Obama é outro. E agora vem a segunda questão importante, que é uma preocupação reiterada da colunista - e, como sabem, minha também. Primeiro vamos a ela. Depois faço algumas considerações necessárias:
Segundo Melanie, a eleição revela que a América votou para mudar porque, de fato, já está em processo de mudança. E não por conta de questões demográficas, com a diminuição da importância dos brancos e maior diversidade étnica. Ela acredita que a “mudança” é o resultado do que chama de “guerra cultural”. E não tem dúvida: a civilização ocidental está perdendo. A agenda da extrema esquerda, diz Melanie, foi incorporada pelo “mainstream”. Nas escolas, por exemplo, ensinam as crianças a odiar os valores fundamentais do seu país, e elas são “seqüestradas” pela cultura do vitimismo das minorias.
Isso é exato. É fato nos EUA, na Grã-Bretanha ou no Brasil. Ou não é verdade que a cultura média - estimulada pelo mainstream infiltrado pela esquerda - trata o terrorismo islâmico, por exemplo, como mera reação às ações do Ocidente (entenda-se: EUA)? De fato, o Bush de verdade foi o “Bush de manual” com o Irã, por exemplo?Onde não endosso inteiramente o pensamento de Melanie? Vamos ver: não tenho a menor dúvida de que as pessoas empenhadas nessa guerra cultural - tenham ou não clareza do que estão fazendo - votaram em Obama ou são seus entusiastas. E continuam a ser elas a pautar boa parte das análises feitas no Brasil e mundo afora. O que não dou como certo, e ela sim, é que Obama vá seguir essa pauta. Por alguma estranha razão, sem conhecê-lo - nem eu e nem ninguém -, acho que ele vai decepcionar essa turma. Olhem como sou otimista!!!
Mas é, sim, inquestionável que os inimigos dos Estados Unidos e do Ocidente estão em festa. Não é questão de juízo de valor, mas de fato. Eles estão nos jornais e nas revistas dizendo o que acham.
O artigo de Melanie traz algumas outras abordagens muito interessantes. Ela acusa os conservadores americanos - e britânicos - de não atacar os adversários nas questões que realmente dizem respeito aos valores fundamentais do país, aderindo, também eles, entende-se, à agenda do “progressismo”. Sobre McCain, observa que, quando ele se lembrou de fazer isso, a vaca já tinha ido pro brejo, e o expediente cheirou a desespero de perdedor.
Vale a pena ler o artigo. Reitero: não tenho sobre as questões que ela aponta a mesma perspectiva pessimista, sempre torcendo para ela estar errada. Mas o aparato intelectual, com raras exceções, que tem explicado a vitória de Obama, a despeito do próprio, revela o quão profundo é o ódio ao Ocidente e à América em particular.

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