Por
Aninha Franco
A criação artística brasileira enfrentou dois tsunamis nos últimos anos, a era digital e a hegemonia lulopetista. Não necessariamente nessa ordem. São delas, entrelaçadas, os teatros fechados no RJ, as salas vazias em SP, a falta de trabalho da atriz Joana Fomm porque, talvez, foi simpatizante do PT um dia e, inteligente, caiu fora da arapuca e tem sido boicotada, a obrigação de explicar ao assessor de comunicação da Osba - pobre Osba! - que não existem ex-atriz, ex-dramaturga ou ex-idiota, depois de um ataque virulento do rapaz à atriz Rita Assemany e a mim no Facebook. Seu chefe (?), o secretário de Cultura do estado, evocou em texto assinado, nessa semana, um Gavrilo Princip brasileiro para resolver o Fora Temer. Gavrilo assassinou o imperador da Áustria em 1914. A assessora de uma secretária colega do aiatolá Jorge Portugal disse recentemente, diante de uma amiga, que eu estava merecendo uma surra. Nunca ouvi a diretora da Fundação Cultural falar sobre cultura. Ouvi-a exortando grevistas e manifestantes a usar o microfone, a depender do momento, prum Volta Dilma ou prum Fora Temer. É o cangaceirismo cultural como nem na ditadura de Médici.
O dinheiro que o estado destinou à Cultura na Bahia é dividido entre os colaboracionistas do governo através de editais mais tendenciosos que a "política de balcão" que dava frutos. Os editais não dão. É preciso ser muito desprezível para interagir com um governo que fecha teatros, desmonta cadernos de cultura, persegue pensadores, desemprega artistas e aparelha equipamentos culturais com apaziguados intelectualmente despreparados para proteger seus acervos. As bibliotecas e museus do estado da Bahia estão em perigo. Em junho, rolou forró no Museu de Arte Moderna. E como só gente bacana faz coisa bacana, ainda temos que assistir ao desespero dos editaleiros - os mensaleiros de edital - divulgando seus produtos que ninguém quer assistir. Público tem gosto.
A arte evita a Bahia. Dentro e fora dela. Os "pensadores" do Complexo do Castro Alves reuniram, em dias próximos, 100 espectadores na sessão de Plácido Domingos Júnior no Teatro e lotaram a Concha com espectadores de Proparoxítona de Whindersson Nunes. Eles pensam cultura como as frases de mainha, sem processar que milhares de moradores da cidade raciocinam além de mainha, de suas frases e dos proparoxítonos de Whindersson porque já saíram da fase oral há muitos, muitos anos. De dentro pra fora também é trágico. Conheço um artista baiano que mora na Itália, e veio "morar" na Bahia por uns dias para receber o prêmio de Edital de Viagem. Esse pelo menos é artista e morou na cidade uma semana para receber a verba, viajar e fazer alguma coisa interessante lá fora. É ilegal, é imoral, mas deve ter produzido resultados.
Outros são como a chegada de Temer na Noruega. O "artista" viaja porque é colaboracionista ou parente dele e quando chega ao destino e encontra consumidores culturais como Temer encontrou estadistas na Noruega, desmoraliza a Bahia. E parece que ninguém está fiscalizando nada, apesar de tudo que está acontecendo feder muito. Poucos denunciam e muitos lamentam o esvaziamento cultural da cidade que não merece o que está sofrendo. Eu, como Jesus Cristo em Mateus, denunciarei sempre porque quem não está com a arte está contra mim.
Aninha Franco é escritora e pensadora
Fonte: Correio
A criação artística brasileira enfrentou dois tsunamis nos últimos anos, a era digital e a hegemonia lulopetista. Não necessariamente nessa ordem. São delas, entrelaçadas, os teatros fechados no RJ, as salas vazias em SP, a falta de trabalho da atriz Joana Fomm porque, talvez, foi simpatizante do PT um dia e, inteligente, caiu fora da arapuca e tem sido boicotada, a obrigação de explicar ao assessor de comunicação da Osba - pobre Osba! - que não existem ex-atriz, ex-dramaturga ou ex-idiota, depois de um ataque virulento do rapaz à atriz Rita Assemany e a mim no Facebook. Seu chefe (?), o secretário de Cultura do estado, evocou em texto assinado, nessa semana, um Gavrilo Princip brasileiro para resolver o Fora Temer. Gavrilo assassinou o imperador da Áustria em 1914. A assessora de uma secretária colega do aiatolá Jorge Portugal disse recentemente, diante de uma amiga, que eu estava merecendo uma surra. Nunca ouvi a diretora da Fundação Cultural falar sobre cultura. Ouvi-a exortando grevistas e manifestantes a usar o microfone, a depender do momento, prum Volta Dilma ou prum Fora Temer. É o cangaceirismo cultural como nem na ditadura de Médici.
O dinheiro que o estado destinou à Cultura na Bahia é dividido entre os colaboracionistas do governo através de editais mais tendenciosos que a "política de balcão" que dava frutos. Os editais não dão. É preciso ser muito desprezível para interagir com um governo que fecha teatros, desmonta cadernos de cultura, persegue pensadores, desemprega artistas e aparelha equipamentos culturais com apaziguados intelectualmente despreparados para proteger seus acervos. As bibliotecas e museus do estado da Bahia estão em perigo. Em junho, rolou forró no Museu de Arte Moderna. E como só gente bacana faz coisa bacana, ainda temos que assistir ao desespero dos editaleiros - os mensaleiros de edital - divulgando seus produtos que ninguém quer assistir. Público tem gosto.
A arte evita a Bahia. Dentro e fora dela. Os "pensadores" do Complexo do Castro Alves reuniram, em dias próximos, 100 espectadores na sessão de Plácido Domingos Júnior no Teatro e lotaram a Concha com espectadores de Proparoxítona de Whindersson Nunes. Eles pensam cultura como as frases de mainha, sem processar que milhares de moradores da cidade raciocinam além de mainha, de suas frases e dos proparoxítonos de Whindersson porque já saíram da fase oral há muitos, muitos anos. De dentro pra fora também é trágico. Conheço um artista baiano que mora na Itália, e veio "morar" na Bahia por uns dias para receber o prêmio de Edital de Viagem. Esse pelo menos é artista e morou na cidade uma semana para receber a verba, viajar e fazer alguma coisa interessante lá fora. É ilegal, é imoral, mas deve ter produzido resultados.
Outros são como a chegada de Temer na Noruega. O "artista" viaja porque é colaboracionista ou parente dele e quando chega ao destino e encontra consumidores culturais como Temer encontrou estadistas na Noruega, desmoraliza a Bahia. E parece que ninguém está fiscalizando nada, apesar de tudo que está acontecendo feder muito. Poucos denunciam e muitos lamentam o esvaziamento cultural da cidade que não merece o que está sofrendo. Eu, como Jesus Cristo em Mateus, denunciarei sempre porque quem não está com a arte está contra mim.
Aninha Franco é escritora e pensadora
Fonte: Correio
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