"Estamos criando um contexto socioeconômico propício ao
desenvolvimento do empreendedorismo na base da nossa pirâmide social".
Entrevista ao jornalista Jorge Magalhães
Lançado no início do mandato anterior do prefeito José
Ronaldo de Carvalho (Democratas), o Pacto da Feira, iniciativa que envolve
todos os segmentos organizados do car o comércio ambulante que se amontoa
desordenadamente nas ruas e praças centrais do município, dificultando a vida
dos cidadãos, que têm aviltado o seu direito constitucional de ir e vir, e
provocando incontáveis engarrafamentos de veículos nas suas principais
artérias.
Coube à Secretaria do Trabalho, Turismo e Desenvolvimento
Econômico, apresentar um plano que abrangesse os anseios coletivos e das partes
envolvidas. A construção do Centro Comercial Popular, que se encontra em curso,
está orçado em mais de R$ 50 milhões, através de uma Parceria
Público-Privada (PPP), e visa a acolher 1.800 camelôs.
Nesta entrevista, o secretário Antônio Carlos Borges Júnior
discorre sobre este ousado e polêmico projeto, detalhando como a pasta
que ocupa pretende tocá-lo, bem como busca dirimir as eventuais dúvidas que
pairam sobre sua execução, e, no seu entendimento, os benefícios
socioeconômicos que a coletividade e os permissionários vão absorver.
Pergunta - Recentemente o Governo foi acusado de
orquestrar uma ação com o objetivo de expulsar comerciantes do Centro de
Abastecimento. O que de fato ocorreu e o que há de verdade e de mistificação
neste tipo de denúncia?
Borges Júnior - Estamos colocando uma proteção para os
transeuntes, onde a obra do Centro Comercial Popular vem sendo realizada. Para
isso tivemos que demolir um banheiro que se encontrava em desuso e utilizado
como ponto de viciados em drogas. Infelizmente ocorre que há políticos
interessados em criar obstáculos para esta importante obra, orientando mal as
pessoas e tentando plantar factoides na imprensa. Registre-se que todas
as obras que são realizadas pelo governo municipal, além de áreas de fomento
econômico, a exemplo de feiras livres e mercados, viabilizamos, junto aos
permissionários, a devida relocação dos mesmos para locais provisórios,
com o necessário ordenamento e estrutura de apoio. A exemplo do ocorrido no
mercado do Tomba, no Centro Comercial Norte da Cidade Nova, no galpão de carnes
do Centro de Abastecimento, e, mais recentemente, na construção do Centro
Comercial Epifânio Cundes Ferreira, na Estação Nova, onde alugamos um espaço
para acolher os açougueiro e suas bancas.
Pergunta - E como o Governo pretende fazer frente a
estes ataques, inclusive materializados numa representação protocolada
pela Associação dos Artesãos de Feira de Santana, na 2ª Vara da Fazenda Pública
da Comarca local?
Borges Júnior - Estamos enfrentado estes ataques de
conotação político-partidária, infundados e legalmente descabidos, com a força
do nosso trabalho. Esta ação, inclusive, foi considerada improcedente pela
Justiça, em face da não constatação de nenhuma irregularidade, no tocante ao
projeto do Centro Comercial Popular.
Pergunta - Uma das alegações dos que se apresentam
como representantes dos comerciantes do Centro de Abastecimento, é que o
Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) teria embargado a
obra, porque ela interfere nas práticas culturais e coletivas do espaço. Neste
caso a obra não estaria sendo embargada?
Borges Júnior - Os termos constantes da representação da
Associação de Artesãos não procedem, uma vez que inexistem as irregularidades
alegadas pelos seus representantes, na referida ação. O Ipac não tombou o
patrimônio físico do Centro de Abastecimento. Ele exige a preservação das
práticas e saberes dos permissionários, o que vai ao encontro do nosso
projeto, que contempla um espaço específico e oferece as condições para que
eles continuem exercendo plenamente os seus ofícios. Tudo isso esta dentro do
mix de produtos do empreendimento, como também a agricultura familiar.
Pergunta - Que benefícios a população, mais
diretamente, e os comerciantes do Centro de Abastecimento, em particular,
terão a ganhar com a implantação deste mega projeto?
Borges Júnior - O único objetivo da Administração Municipal
é proporcionar benefícios a toda à sociedade, inclusive aos próprios artesãos
que exercem suas atividades no Centro de Abastecimento. Neste sentido, suas
famílias continuarão tendo direito ao sustento digno, extensivo a todos os seus
membros. Consequentemente, também serão respeitados os benefícios coletivos, em
obediência à supremacia da legalidade e do interesse público.
Pergunta - No que pese as boas intenções
manifestadas pelo senhor para justificar a implantação do Centro Comercial, não
haveria interferências na estrutura original do projeto arquitetônico do
entreposto, concebido há 40 anos?
Borges Júnior – Não consta do projeto do Centro Comercial
Popular, nenhuma medida técnica que venha a alterar as características ou
finalidades do projeto original do Centro de Abastecimento. A filosofia do
nosso projeto, aliás, busca a ampliação e a modernização de todas as
instalações. Basta lembrar que o Governo Municipal já procedeu melhorias nos
balcões de carnes refrigerados, em atenção à Portaria 304, do Ministério da
Agricultura; instalação do Restaurante Popular, estacionamentos para carga e
descarga, e, agora, em julho, estaremos entregando catorze banheiros totalmente
reformados, que será administrado pela Associação dos Comerciantes e
Trabalhadores do Centro de Abastecimento, através de um acordo de cooperação
técnica.
Pergunta - O pano de fundo deste projeto, conforme
anunciado pelo prefeito José Ronaldo de Carvalho, no início do mandato
anterior, mais precisamente no dia 25 de fevereiro de 2013, quando lançou o
Pacto da Feira, seria a erradicação dos camelôs que enfestam as ruas e praças
do comércio tradicional do centro da cidade, impedindo o fluxo de pessoas e
veículos. Este objetivo continua sendo perseguido como principal
estratégia do Pacto da Feira?
Borges Júnior - Sim. O projeto visa a desempenhar
papel importante na promoção da ordem pública, através de uma transformação
gradual do vínculo existente entre estes pequenos empreendedores e o Poder
Público. Trata-se de uma alternativa concreta ao comércio de rua, porque os
quase dois mil camelôs que atuam no comércio do centro da cidade, vão ter a
oportunidade de migrarem da informalidade em direção à formalidade, otimizando
seu potencial e assumindo responsabilidades. Noutras palavras, o Pacto da Feira
visa a integração entre o poder publico e a sociedade civil organizada, visando
a requalificação do centro comercial de Feira de Santana. Neste sentido,
21 instituições assinaram o termo de adesão ao projeto. Dentre os
diversos objetivos, consta o vídeo-monitoramento do centro da cidade; a
viabilização da implantação da Zona Azul (em processo de licitação), bem
como a requalificação dos pontos de ônibus. À nossa Secretaria concerne a
relocação concatenada dos ambulantes para o futuro Centro de Comércio Popular
Pergunta - Uma das alegações sempre presente por
segmentos organizados que operam no Centro de Abastecimento e que se
mostram contra o projeto, é que o Poder Público não está sendo transparente
quanto aos seus reais interesses na execução deste plano, passando por cima dos
interesses da coletividade, camelôs e antigos permissionários.
Borges Júnior - Desde o lançamento do Pacto da Feira, não
medimos esforços para promover e intensificar diálogos francos e abertos com
todos os segmentos envolvidos direta ou indiretamente neste projeto.
Apresentamos o projeto aos permissionários e ao Conselho de Desenvolvimento
Econômico, aos vendedores informais que, inclusive, aplaudiram por
unanimidade; e, em audiências públicas e em várias oportunidades, reiteramos
todas as nossas intenções e fornecemos os esclarecimentos solicitados de forma
democrática e com a mais absoluta transparência. Além disso, realizamos
uma ampla consulta pública, no período de trinta dias, entre 6 de janeiro a 6
de fevereiro, cujos resultados foram amplamente divulgados através da imprensa
oficial e de jornais de grande circulação.
Pergunta - A Secretaria do Trabalho, Turismo e
Desenvolvimento Econômico, joga uma cartada complexa, importante e decisiva ao
tocar um projeto de tamanha envergadura e tendo que enfrentar os obstáculos que
vem enfrentando, sem perder o foco dos objetivos traçados. O que move o Governo
e o senhor, em particular, ao defenderem com tanto afinco a
execução desta obra?
Borges
Júnior - Se me permite, o que nos move, em poucas palavras, é a
certeza de que estamos criando um contexto socioeconômico propício ao
desenvolvimento do empreendedorismo na base da nossa pirâmide social. O valor
subjacente ao projeto será a organização do comércio informal, repito,
capacitando-o para aproveitar ao máximo o seu potencial socioeconômico.
Em verdade, não considero uma ação complexa, pois a entendo como uma ação
simples, mas que exige o bom senso de todas as partes envolvidas.
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