Por Josias de Souza
Ao resumir o paradoxo em que se
meteu, o próprio Temer falou do sucesso de sua gestão conjugando o verbo no
passado: "Meu governo viveu nesta semana seu melhor e seu pior momento. Os
indicadores de queda da inflação, os números de retorno do crescimento da economia
e os dados de geração de empregos criaram esperanças de dias melhores. O
otimismo retornava. E as reformas avançavam no Congresso Nacional."
O otimismo virou desespero. E as
reformas foram enviadas ao freezer.
Temer prosseguiu: "Ontem, contudo,
a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de
crise política de proporção ainda não dimensionada. Portanto, todo um imenso
esforço de retirar o país de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós
não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do país."
As proporções da crise foram, sim,
dimensionadas. Nas palavras de um ministro de Temer, "o governo não está no
chão, já alcançou o subsolo." Foi Temer quem jogou os esforços no lixo.
Fez isso ao imaginar que poderia governar com a cabeça nas reformas e os pés no
lodo. Portou-se como se a Lava Jato não existisse. Deu no que deu.
E quanto às explicações? Bem, nessa
matéria tão essencial, Temer ficou devendo. "Ouvi, realmente, o relato de um
empresário que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do
ex-parlamentar." Evitou até mesmo dar nome aos bois. O empresário Joesley
Batista, agora um delator, não auxiliava a família de ninguém. As investigações
revelam que ele comprava o silêncio do presidiário Eduardo Cunha, um
ex-deputado que guarda segredos insondáveis sobre Temer.
"Em nenhum momento autorizei que
pagassem a quem quer que seja para ficar calado", disse Temer, sem fazer
referência à frase captada no autogrampo de Joesley: "Tem que manter isso,
viu?". "Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima: exata e
precisamente porque não temo nenhuma delação", vociferou Temer. A demora em
prover explicações, só agora expostas de maneira tão vagas, denuncia a
precariedade das convicções do orador.
Temer parece viver a neurose do que
está por vir depois que o Supremo Tribunal Federal levantar o sigilo da delação
do Gripo JBS. E tem fundadas razões para cultivar os seus receios. Um
presidente que precisa anunciar à nação que não renunciará perdeu a noção do
tempo. Convertido de presidente em personagem de inquérito aberto no Supremo
Tribunal Federal, Temer precisa cuidar dos minutos, porque suas horas já
passaram.
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