Por Reinaldo
Azevedo
Se o Brasil fosse um ente, com um centro organizador do
pensamento, seria o caso de lhe propor um desafio: escolher, afinal de contas,
que democracia pretende ter - desde, é claro, que fizesse uma escolha prévia:
decidir se pretende ou não continuar na trilha democrática.
Leio que Marina Silva deixou para revelar, na entrevista de hoje
ao Jornal Nacional, a sua explicação para o grave imbróglio do avião sem dono
que serviu à campanha do PSB. Ele não transportou apenas Eduardo Campos. A
própria Marina foi sua usuária. O aparelho era apenas a parte voadora de uma
estrutura de campanha que continua a servir a agora candidata titular.
Reportagem levada ao ar, nesta terça, pelo Jornal Nacional,
evidencia a existência de um esquema obviamente criminoso envolvendo o avião. E
não estamos falando apenas de crimes eleitorais. Também os há de outra ordem.
Resta evidente que há uma rede de empresas fantasmas para disfarçar a origem do
dinheiro - vindo de onde? Pessoas foram usadas como laranjas na operação,
algumas delas, é bem possível, sem que nem mesmo soubessem.
Vamos repetir, no caso no avião, o mesmo paradigma empregado no
caso do mensalão? Vamos considerar que aquela que acabou sendo a beneficiária
principal de um esquema criminoso não tem de responder nem politicamente por
ele? Não estou aqui a inferir que Marina soubesse, necessariamente, das
tramoias e das lambanças. A questão principal, no que lhe diz respeito, é de
natureza política, não penal.
No debate de terça-feira, na Band, a candidata insistiu na
tecla da "nova política". Mais de uma vez, pregou a necessidade de o país se
livrar do que considera "polarização" entre PT e PSDB, mesmo reconhecendo o que
considera heranças positivas dos dois partidos. Deu a entender que, com ela, a
coisa é diferente.
Vamos aguardar, então, as suas justificativas logo mais. Qualquer
coisa que não seja a admissão de um crime eleitoral escancarado, óbvio,
indisfarçável, será apenas expressão de uma farsa.
Ocorre que, numa sociedade democrática, existem leis, que devem
ser cumpridas. Se crime houve - e houve -, Marina é também beneficiária de seus
efeitos. A sua candidatura deriva daquela estrutura; aliás, ela só é candidata
porque aquele avião se tornou uma espécie de protagonista de uma narrativa, não
é mesmo?
Por muito menos, vereadores, prefeitos e deputados tiveram
cassados seus mandatos. Não é verdade, então, que Eduardo Campos e Marina
estivessem a tecer a rede de uma nova política. Ao contrário: nada mais velho
do que tudo o que se sabe sobre o avião e sua, esta sim, rede de empresas
fantasmas e laranjas.
Estou curioso para saber que resposta dará Marina 14 dias depois
do acidente. Que os brasileiros ouçam a sua explicação. E que decidam se
estamos, mesmo, diante do novo ou se, de novo, o velho lobo se finge de
cordeiro.
Naquele avião, está claro, não estava o voo do novo.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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