Por Reinaldo Azevedo
Nada muda na campanha do PT com a ascensão de Marina Silva. É
difícil acreditar que assim seja, mas isso é, ao menos, o que diz Rui Falcão,
presidente do partido. Na noite de quarta-feira, Dilma Rousseff reuniu no
Palácio da Alvorada o comando político de sua campanha e os respectivos presidentes
das nove legendas que a apoiam. Falcão falou com a imprensa ao término do
encontro, que durou uma hora e meia, e afirmou que tudo ficará como está.
Segundo disse, o grupo avaliou que Dilma foi a que teve o melhor desempenho no
debate da Band. Não ficou claro se Falcão tentava enganar os jornalistas,
enganar a si mesmo ou enganar os seus pares.
Escreveu o poeta latino Catulo, numa de suas infindáveis crises
amorosas com a sua Clódia, que vivia a lhe pôr chifres: "Difficile est longum
subito deponere amorem". É difícil renunciar subitamente a um grande amor. E
mais difícil ainda é renunciar a um grande ódio - mesmo que seja um ódio sem
sentido, que serve apenas ao propósito político. Clódia e Catulo se amavam, mas
ela, possivelmente, o traía. Quem odeia não sabe trair: jamais abandona o
objeto de seu culto às avessas.
Por que digo isso? O PT combate o PSDB desde 1988, quando este
partido foi criado. De maneira sistemática, metódica, incansável, obsessiva,
desde 1995, quando FHC chegou à Presidência da República. Fez-lhe oposição
ferrenha durante oito anos e depois passou outros 12, no poder, a demonizá-lo.
O partido não tem repertório para enfrentar um adversário como Marina. Não que
ela represente algo de novo. Essa é uma das tolices mais influentes que andam
por aí. Em certa medida, nada representa mais a velha política do que Marina
Silva, aquela que pretende falar acima e além dos partidos. Ocorre que,
reitero, o PT não se preparou para isso. E, vejam vocês, segundo as pesquisas,
quem hoje vence Dilma no segundo turno, e com folga, é… Marina.
O ódio que o PT sempre devotou a seu adversário preferencial, o
PSDB, em certa medida, se voltou contra o próprio partido. Os petistas passaram
a ser tucano-dependentes. Não têm outro repertório que não a tal luta do "nós
contra eles", do "povo contra as elites"… Vem Marina e os carimba a todos como
políticos tradicionais.
Depois de 12 anos de poder, o partido de Lula viu-se tentado a
aderir à estética obreirista, do "construí e aconteci", que só tem passado, não
futuro, da qual Marina passou a fazer pouco caso, com sucesso até agora. Disse
Rui Falcão, no entanto: "Nós vamos continuar mostrando o que fizemos e
apontando as propostas de continuidade das mudanças. Toda vez que houver
oportunidade de expor tudo o que nós fizemos e tudo o que vamos fazer, isso é
favorável para nós".
Então tá. Destaco que essa política e essa estética são
desdobramentos daquela velha demonização do seu adversário preferencial:
afinal, "nós fizemos mais do que eles". Marina chega e diz: "Isso tudo é
propaganda; não é o país de verdade". E os petistas, até agora, estão sem
resposta.
Por quê? Porque é difícil renunciar subitamente a um grande ódio.
Se o que Falcão disse a jornalistas reproduzir a qualidade daquela hora e meia
de debate, Dilma pode começar a fazer as malas para mudar de endereço.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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