Por Reinaldo Azevedo
A presidente Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, reuniu
na noite desta quarta, no Palácio da Alvorada, o comando de sua campanha e os
presidentes das nove legendas que a apoiam. O objetivo era discutir a nova
realidade eleitoral, com a ascensão de Marina Silva, do PSB. Ao fim do encontro,
Rui Falcão, do PT, disse que nada mudaria na estratégia petista. De fato, o
partido continua refém de uma ideia fixa: atacar os tucanos. Mas há, sim, uma
discreta mudança em curso.
Nesta quinta, a petista participou de um encontro da Confederação
Nacional dos Trabalhadores da Agricultura. Recebeu o apoio oficial da entidade
e discursou. Disse duas coisas dignas de nota, referindo-se, ainda que de modo
oblíquo, a Marina. Vamos à primeira:
"Essa história de que você acha os bons ou os melhores sem aferição não está certa. Como é que eu vou fazer uma política para agricultura familiar com quem não defende agricultura familiar?".
"Essa história de que você acha os bons ou os melhores sem aferição não está certa. Como é que eu vou fazer uma política para agricultura familiar com quem não defende agricultura familiar?".
Bem, por mais que a proposta de Marina de fazer um "governo só com
os melhores" seja uma bobagem, uma cascata, é evidente que nem ela própria
pensaria em nomear para a agricultura familiar alguém que não a defenda, né? De
fato, o discurso de Dilma traduz outra coisa: o PT é um partido corporativista
e entende que governar consiste em entregar fatias do governo a "pessoas da
área". Ora, governar é algo bem diferente disso. Trata-se de eleger,
necessariamente, prioridades para determinados setores que tenham alcance
universal. Ou por outra: é necessário, sim, contar com alguém favorável à
agricultura familiar, mas ele não pode ser de tal sorte um representante do
setor que acabe tomando medidas que prejudiquem outras áreas do governo.
Já a segunda fala é um daqueles momentos em que o "dilmês
castiço", uma língua que lembra o português, aflora com toda a sua força.
Leiam:
"Eu acho que as pessoas não têm de ser más, não tem de ser… todas as pessoas são… podem ser boas ou podem ser más. Mas as boas pessoas podem não ter compromisso. A pessoa é muito boa, mas o compromisso dela é com outra coisa".
"Eu acho que as pessoas não têm de ser más, não tem de ser… todas as pessoas são… podem ser boas ou podem ser más. Mas as boas pessoas podem não ter compromisso. A pessoa é muito boa, mas o compromisso dela é com outra coisa".
O que será que Dilma quis
dizer com isso? Com alguma boa-vontade, a gente pode inferir que, para a
petista, as pessoas, tomadas individualmente, têm menos importância na política
do que o arco de interesses que ela representa. Se é isso mesmo, até tendo a
concordar com ela - embora, obviamente, os indivíduos possam fazer toda a
diferença.
O que me espanta é essa incapacidade de Dilma de deixar clara uma
ideia tão simples, até meio boboca. Parece haver um complicômetro na cabeça da
presidente que a impede de falar com um mínimo de clareza. Tendo a achar que
quem pensa de modo tão tumultuado acaba agindo de maneira igualmente
tumultuada. E aí temos o governo que aí está.
Na reunião da Contag, Dilma voltou a atacar FHC, com aquela
conversa do "nós" contra "eles". Parece não ter percebido que esse tipo de
abordagem só reforça a candidatura de… Marina Silva! Pois é… Mas como se livrar
de uma ideia fixa?
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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