Por Reinaldo Azevedo
Não me peçam para aderir a ondas de opinião com base no que pensam
este ou aquele, especialmente gente que detesto ou execro. Imaginem se
justamente pessoas que desprezo iriam determinar os rumos das minhas escolhas.
Seria um contrassenso. Alguém me viu aqui a tratar delinquentes que saíam
quebrando tudo por aí como aliados objetivos só porque a popularidade de Dilma
caía? Quem passou a mão na cabeça deles foi Gilberto Carvalho, não eu. Dá-se o
mesmo agora com a "onda Marina", que pode, reconheço, virar tsunami e devastar
nosso futuro: "Ah, entre a Dilma e a Marina, tudo contra o statu quo…" Não é
assim que eu penso. Não é assim que eu opero. O voto nulo, numa democracia, é
um direito. Se necessário, eu o usarei.
Imbecis dizem por aí: "Claro! Reinaldo é simpático ao PSDB!" Sou?
Perguntem aos tucanos para ver se eles acham isso. Mas vamos ao que mais
interessa: hoje é dia 26. Já se passaram 13 dias desde o acidente que matou
Eduardo Campos e outras seis pessoas. Até agora, o PSB não conseguiu dizer a
quem pertencia o jatinho. Pior: tanto Marina Silva como Beto Albuquerque,
candidato a vice, tiram ares de ofendidos e ainda tentam cutucar a Polícia
Federal, cobrando dela um esclarecimento. Até parece que havia alguma
conspiração possível, cuja investigação coubesse à PF. De resto, tivesse
havido, a única beneficiária seria Marina, não é? Ou terei perdido alguma
coisa? Adiante.
Nesta segunda, a candidata do PSB à Presidência falou a respeito.
Foi a primeira vez que resolveu pedir para a procissão parar o andor para que
ela se dirigisse aos fiéis. E se saiu com estas palavras, prestem bem atenção:
"Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade dos fatos, e, para termos a materialidade dos fatos, é preciso que haja tempo necessário para que essas explicações tenham as devidas bases legais".
"Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade dos fatos, e, para termos a materialidade dos fatos, é preciso que haja tempo necessário para que essas explicações tenham as devidas bases legais".
Você não tem culpa nenhuma se não entendeu patavina. Eu também não
entendi nada. Marina não entendeu nada. Beto Albuquerque não entendeu nada. Os
demais leitores não entenderam nada. Os outros jornalistas não entenderam nada.
E é fácil explicar por que é assim: Marina não falou para ser entendida. A isso
se chama técnica do despiste. Ela já é dona, no mais das vezes, de uma retórica
incompreensível porque faz questão de deixar claro que não habita este mundo em
que mortais arrastam suas vidas terrenas. Ela desfila sua figura e seu olhar
etéreos como quem se comunica com dimensões que nos escapam, daí falar uma
língua que quase sempre sugere, mas nunca explica.
Desta feita, ela exagerou. Vamos quebrar em pedaços o que ela
disse: "Queremos que sejam dadas as explicações de acordo com a materialidade
dos fatos". Como? Que sejam dadas por quem? Eu não voei naquele avião. Você não
voou naquele avião. Ela sim! Quem é o agente da passiva de sua sintaxe? Marina
quer que as explicações sejam dadas por quem? Aí a candidata diz que é preciso
tempo para que as "explicações tenham as devidas bases legais". Como assim? Com
um pouco de severidade, é possível inferir que está a nos dizer: "Olhem aqui:
nós estamos tentando arrumar alguma desculpa legal para dar; quem sabe a gente
consiga até amanhã".
Dilma resolveu tirar uma casquinha na entrevista coletiva
concedida nesta segunda quando indagada sobre o avião: "Eu não estou acompanhando
isso, porque, você vai me desculpar, mas não é objeto do meu profundo
interesse. Agora, acredito que nós, que somos candidatos, inexoravelmente temos
de dar explicação de tudo. (…) Candidato a qualquer cargo eletivo,
principalmente a presidente da República, está sujeito a ser perguntado sobre
qualquer questão e deve responder, se puder, né?"
Dilma sabe bem do que fala porque deixou e deixa de responder a
muita coisa. Querem um exemplo: até agora, a pergunta que lhe dirigiu William
Bonner no "Jornal Nacional" segue sem resposta. Ele quis saber se o PT não fez
mal em tratar corruptos condenados como heróis do povo brasileiro. A candidata
Dilma afirmou, então, que, como presidente, não se pronunciava sobre julgamento
do Supremo. Ora: era uma questão dirigida à candidata, não à presidente, e
dizia respeito ao PT, não ao Supremo. Como diria a petista, candidatos devem
responder a qualquer questão - se puderem… Ela, por exemplo, não pôde.
Mas volto a Marina. Hoje, dia 26, 13 dias depois do acidente,
vamos ver a desculpa que o PSB arrumou para a fábula do avião sem dono…
Encerro
Para encerrar: não me peçam para brincar daquela historinha de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo…" Isso é ruim até como exercício de guerra, como não cansa de provar a realidade. De resto, em política, existem adversários, não inimigos a serem destruídos. Mais: não faço política - e, portanto, nessa área, nem adversários eu tenho. No máximo, há ideias e valores que não me servem. E é sobre eles que falo.
Para encerrar: não me peçam para brincar daquela historinha de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo…" Isso é ruim até como exercício de guerra, como não cansa de provar a realidade. De resto, em política, existem adversários, não inimigos a serem destruídos. Mais: não faço política - e, portanto, nessa área, nem adversários eu tenho. No máximo, há ideias e valores que não me servem. E é sobre eles que falo.
Marina não terá o meu voto enquanto falar uma língua que, segundo
entendo, avilta a razão e enquanto defender propostas que violam os fundamentos
da democracia representativa. E ponto.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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