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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

"Vocês acham normal alguém comprar um imóvel com dinheiro vivo? E guardar grandes somas 'em casa'? E se este alguém for o presidente de um banco? E se for o presidente do maior banco do país? Pois bem…"



Por Ricardo Setti

Está nos jornais e na web: o presidente do Banco do Brasil - nada menos do que o Banco do Brasil -, Aledemir Bendine, pagou uma salgada multa de 122 mil reais à Receita Federal em 2012 para se livrar de questionamento dos auditores sobre duas questões:
1. A evolução de seu patrimônio que apareceu na declaração do Imposto de Renda de 2010, que os auditores entenderam não poder ser justificada pelos rendimentos então recebidos;
2. A compra, em 2010, de um apartamento no interior do Estado de São Paulo no valor de 150 mil reais, pagos em dinheiro vivo. Para justificar a compra, o presidente do BB informou ter guardado em casa, na ocasião, 200 mil reais em dinheiro.
Como bem lembrou reportagem que justifica a manchete de hoje do jornal Folha de S. Paulo, que levantou o caso já em 2010, não é crime comprar imóveis com dinheiro vivo, e nem guardar dinheiro em casa. "Mas essas práticas são consideradas pelo Fisco como sinais de sonegação de tributo", afirma o texto da reportagem, "e por isso despertam a curiosidade dos auditores".
Desperta também das CPIs e da Justiça: quem não se lembra das declarações cara-de-pau de mensaleiros julgados pelo Supremo Tribunal sobre dinheiro debaixo do colchão para justificar o que não tinha justificativa?
Aldemir Bendine, que preside o BB desde 2009, acabou preferindo pagar a salgada multa de 122 mil reais, quase o valor do tal apartamento, do que discutir com a Receita a origem dos recursos, após o órgão autuá-lo por não estar convencido das explicações. O presidente do BB não quer falar sobre o tema, informando apenas que cometeu um "erro no preenchimento da declaração".
Em diferentes anos, em outras declarações de IR, Bendine afirmou guardar dinheiro em casa - somas que variam entre 50 mil e 200 mil reais.
Pode até ser, o benefício da dúvida é direito que assiste a qualquer cidadão em uma democracia.
Mas, santo Deus, um BANQUEIRO deixar dinheiro debaixo do colchão, sem investir? E logo o presidente do maior banco da América Latina?
Parece piada pronta - é o mínimo que posso dizer.

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