Por Augusto Nunes
Na mesma semana do
naufrágio na Copa do Mundo, a política econômica amargou uma goleada tão
vergonhosa quanto à imposta pela Alemanha ao futebol brasileiro: a inflação
anual vai chegando a 7% e o crescimento do PIB previsto para 2014 caiu para 1%.
Outro desmoralizante sete a um. A reprise do placar do Mineirão - apesar da
maquiagem da contabilidade oficial e do congelamento eleitoreiro de tarifas -
chancelou a comparação recitada por Dilma Rousseff em 1° de julho de 2013: "Meu
governo é padrão Felipão".
Tal padrão também orientou
a forma e o conteúdo das entrevistas em que a presidente da República e o ainda
treinador da Seleção tentaram provar que o desastre foi menos feio do que
parece. Empenhados em manter o emprego, incapazes de montar um esquema tático
eficaz, ambos recorreram a vigorosos pontapés na verdade. "O trabalho não foi
de todo ruim, foi só uma derrota ruim", delirou Felipão na entrevista coletiva
em que o vexame inesquecível foi um mero acidente de percurso.
Em vez de pedir desculpas
pelo fiasco, o chefe da família Scolari ironizou potências futebolísticas
eliminadas antes do Brasil, esgotou o estoque de grosserias e louvou -se por
ter ido tão longe na Copa. "Conseguimos chegar à semifinal com toda essa
incapacidade, os capazes foram embora", disse mais de uma vez. No sábado,
depois de perder o terceiro lugar para a Holanda, tornou a cumprimentar-se pelo
malogro derradeiro: "Nós, no final da competição, não fomos bem, mas
conseguimos uma classificação entre os quatro melhores".
Dilma obedeceu ao padrão
Felipão na entrevista a Renata Lo Prete, exibida na sexta-feira pela Globonews.
A jornalista perguntou-lhe, por exemplo, se não considera preocupantes a
inflação em alta e o PIB em baixa. A presidente driblou o tema com um
palavrório tão surreal quanto o do professor de futebol. Começou por garantir
que "a taxa de juros nunca esteve tão baixa". Em seguida, jurou que "em torno
de 75% da nossa população está entre as classes C, B e A".
Como Felipão, repetiu que o
que não falta é gringo com inveja do colosso tropical. Nos Estados Unidos,
descobriu, o crescimento é menor do que no Brasil. "Não precisamos
demitir milhões e milhões de pessoas, como ocorreu em outros países", foi
em frente. Como Felipão, ensinou que o importante é manter o otimismo: "O que
eu acho mais grave no pessimismo é ele diminuir a capacidade das pessoas de
entender a realidade, e superar os desafios, resolver os problemas encaminhando
soluções".
O que parece conversa de
quem vive no mundo da Lua é vigarice de quem vive no mundo de Lula. Sempre que
se mete em enrascadas de bom tamanho, o chefe-supremo persegue a sobrevivência
política percorrendo o caminho da mentira. Acuados por vaias, desprovidos de
álibis convincentes, sitiados por fatos, Felipão e Dilma se homiziaram em
universos paralelos para livrar-se do merecidíssimo despejo.O professor de
futebol não escapou da demissão. A supergerente de araque ainda sonha com um
segundo mandato.
Os brasileiros mostraram
durante a Copa que sabem receber forasteiros. Precisam agora mostrar que
aprenderam a livrar-se de embusteiros. É hora de transformar vaia em voto.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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