Por Reinaldo Azevedo
O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, tem o
dom de irritar muitos brasileiros, eu sei. Infelizmente, dadas as suas
intervenções, nem sempre muito simpáticas, ele tem estado mais certo do que
errado. Nesta segunda, por exemplo, ele afirmou: "A Copa do Mundo é uma maneira
de acelerar uma série de investimentos em um país. É fácil criticar a Fifa; é
fácil usar a Copa das Confederações ou a Copa do Mundo para organizar
manifestações. Mas, se o alvo é a Fifa (…), ele [o alvo] está errado. Se um
país se candidata à Copa do Mundo, é com a ideia de se desenvolver, a ideia não
é destruí-lo".
Na mosca. Ele também acerta quando diz que a Copa
do Mundo pode deixar um legado positivo nos países - e talvez deixe no Brasil,
ainda que bem menor do que se supunha. A questão é saber por que as coisas por
aqui saíram tão diferentes do planejado. Quando a gente se lembra de que o
Brasil teve de abrir mão de sua Lei de Licitações, criando uma legislação
especial para conseguir realizar algumas obras, a gente se dá conta de que algo
estava e está muito errado por aqui.
A Folha publica nesta terça, a 30 dias da Copa,
um levantamento das obras. O país cumpriu menos da metade do que se dispôs a
fazer. Das 167 prometidas, só 68 estão prontas - ou 41%. Nada menos de 88 (53%)
estão incompletas ou ficarão prontas só depois da Copa. Onze jamais saíram, nem
sairão, do papel.
E, convenham, nesse caso, cabe a pergunta: o que a
Fifa tem a ver com isso? A resposta é óbvia: nada! O problema é nosso: do
governo e do povo brasileiros. Quando indagadas, as autoridades brasileiras têm
as mais diversas - e, às vezes, disparatadas - desculpas. Até o excesso de
chuvas é usado como justificativa em alguns casos. Ora, é mesmo?
O Brasil foi confirmado como sede da Copa de 2014
no dia 30 de outubro de 2007, há quase sete anos, e sua disposição de se candidatar
data, pasmem!, de 2003. Conhecem-se as cidades-sede da Copa - e foram 12 por
exigência de Lula, então presidente da República, não da Fifa - desde maio de
2009. Assim, o país esboçou sua pretensão há 11 anos; sabia que abrigaria o
evento há quase sete e conhecia as sedes há cinco.
Antes de se ocupar com planejamento, tijolos,
argamassa, recursos - essas bobagens -, o governo petista se ocupou do
foguetório eleitoral nas eleições municipais de 2008 e estaduais e federais de
2010. O mês de junho de 2013 trouxe o susto para Dilma: o que era para ser a
apoteose virou fonte permanente de dor de cabeça. Muita gente começou a cobrar
na rua obras de mobilidade padrão… Fifa!
Ocorre que até a Fifa está cobrando que o Brasil
faça uma Copa padrão Fifa! Até porque, no Brasil, nem a Fifa conseguiu ter um
padrão… Fifa!
Fonte: "Blog Reinaldo
Azevedo"
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