Por Ricardo Noblat
Previdente, esse rapaz. Sabe onde
pisa. Como relator do novo Regimento Interno do Senado, Edison Lobão Filho
(PMDB-MA), no exercício do cargo que seu pai, ministro das Minas e Energia,
deixou vago, decidiu sumir com a palavra ética.
Está no Houaiss: "Ética é
o conjunto de preceitos sobre o que é moralmente certo ou errado". Moral
"é o conjunto de regras de condutas desejáveis num grupo social".
Há dentro do Regimento um código de
ética. É sobre ele que juram os parlamentares na hora em que tomam posse dos seus
cargos. Se depender de Lobão Filho, a palavra desaparecerá do código.
Afinal, o que é ética para você
poderá não ser para ele, argumenta o senador. "A ética é uma coisa muito
subjetiva, muito abstrata". Daí... Daí que Lobão está sendo apenas
realista. E menos hipócrita do que seus colegas.
Fraudar notas fiscais para justificar
gastos com verba de gabinete é faltar com a ética ou não?
E omitir da Justiça dinheiro recebido
para pagar gastos de campanha?
E embolsar grana por fora para votar
como manda quem pode?
E retardar a instalação de uma CPI à
espera de que seus apoiadores desistam dela em troca de vantagens?
É espantosa a quantidade de políticos
que procedem assim impunemente. Quase todos.
Tem uma CPI Mista prontinha no Senado
destinada a se lambuzar com o mar de lama que escorre das obras da Copa do
Mundo. Poderia estar funcionando. Mas Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do
Senado, deu um tempo para que seus pares pensem melhor a respeito.
Um pensou e tirou a assinatura: Zezé
Perrela (PDT-MG). Outro, João Alberto de Souza (PMDB-MA), topa tirar desde que
empregue um dos seus filhos no governo.
Cadê o gigante? Ele não havia
acordado?
Foi em junho último que manifestações
diárias sacudiram o país. Num único dia, mais de três milhões de pessoas
gritaram slogans, enfrentaram a polícia e algumas botaram para quebrar.
Nunca os políticos temeram tanto o
povo. A presidente da República falou à Nação. O Congresso prometeu aprovar em
regime de urgência um lote de benfeitorias sob o título de Agenda Positiva.
Para aumentar o sufoco dos alvos
preferenciais do gigante, o Papa Francisco passou uma semana entre nós dando
lições de humildade. E antes de ir embora, aconselhou os jovens a irem para as
ruas.
O gigante ganhou na internet até a
companhia de um canal exclusivo de televisão só para amplificar seus maus
modos. No ar, a Rede Ninja!
Pois cansado - quem sabe? - resolveu
dormir outra vez. Para quê? Quanta preguiça!
O que a presidente propôs para
amansar o gigante fracassou - reforma política, constituinte exclusiva,
plebiscito ou mesmo referendo, dois anos a serviço dos mais pobres para quem
desejasse se graduar em medicina.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF)
qualificou de engodo o pacote de promessas do Congresso concebido sob medida
para entorpecer o gigante.
Desde então ministros e políticos
voaram nas asas da FAB e ofereceram caronas a amigos e parentes.
Amarildo desapareceu.
A cara de bom moço do PSDB foi
seriamente desfigurada pelo escândalo das licitações de trens dirigidas.
O lobista do PMDB na Petrobrás chocou
o distinto público com suas histórias medonhas. Uma delas sobre dinheiro para a
campanha de Dilma. Outras, que aguardam publicação, sobre gente só um tico
menos graúda do que Dilma.
Os Ninjas estão na berlinda de
castigo tamanha é a série de depoimentos que abalou sua reputação.
Quanto ao gigante...
Nada mais esquisito.
Faz o maior auê, sai de cena de mãos
vazias e se recolhe para pegar no sono.
Não, meu caro, não é hora de deitar
em berço esplêndido.
Fonte: "Blog do Noblat"
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