No princípio Deus criou
o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face
do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus:
Haja luz. E houve luz. (Genesis)
Fiat Lux. Numa explicação simples podemos
dizer que o que enxergamos não são os objetos, mas a luz - ou melhor, o seu
reflexo nos objetos. É essa luz, matéria prima da formação da imagem no
cérebro, que nos dá a noção de textura, de profundidade, de cor.
O filme mais antigo
colorido no mesmo processo da captação da imagem data de 1902 - antes os
fotogramas eram pintados a mão um a um. Foi um inglês, Edward Turner, que
desenvolveu um complexo processo em que o filme em preto e branco era
fotografado diversas vezes e submetido a filtros nas cores verde, vermelho e
azul. Exibidos em um projetor especial que combinava os fotogramas, via-se as
imagens coloridas (assista
aqui um pequeno documentário de 2012 da BBC sobre a descoberta destes
filmes, que passaram 110 anos no anonimato). É incrível perceber
que o cinema nasceu em 1895 e, em 1902, já existia a tecnologia para se filmar
em cores.
Mas
é a partir de 1922 que se populariza o processo de colorização mais conhecido
da história do cinema: o technicolor (patenteado pela Technicolor Motion
Picture Corporation). A técnica se aprimorou com o passar do tempo. Num
primeiro momento, era parecida com a de Edward Turner, mas só usava dois
filtros (vermelho e verde). A mais difundida, de 1929, utilizava uma câmera em
que três rolos de filmes preto e branco rodavam simultaneamente, cada um com um
filtro diferente. No fim do processo de revelação obtinha-se uma só película e
não havia mais a necessidade de um projetor especial. Essa técnica perdeu a
hegemonia na década de 1950 para outras mais modernas, como a da Kodak
Ektachrome, que eram capazes de capturar as três cores no mesmo fotograma.
O filme abaixo é um dos 274 traveltalks feitos pelo produtor James
A. Fitspatrick, que é também o narrador. Fitspatrick percorreu o globo para
fazer esses curtas sobre as cidades que visitava. A idéia era levar aos
espectadores a possibilidade de descobrir lugares desconhecidos. Para a nossa
sorte ele veio ao Brasil em 1936 e filmou o Rio de Janeiro. Apesar de ser
falado em inglês e não ter legendas, vale a pena ver a beleza da Cidade
Maravilhosa na década de 30, antes da verticalização - e em tecnicolor.
Fonte: "Feira Livre", Coluna de Augusto Nunes
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