Por Ricardo Noblat
Se você imaginava que o PT
se resignaria em ser expulso das ruas pelos manifestantes que convulsionam
pedaços das maiores cidades do país, sinto muito, enganou-se. Avalizada por
Dilma, a ordem foi emitida pela direção do partido: lustrem as estrelas
guardadas junto com antigas lembranças. Espanem a poeira das bandeiras rotas. Dispam-se
dos trajes de burocratas. Todos às ruas na próxima quinta-feira.
Pouco
importa que o "Dia Nacional de Luta", que prevê passeatas e greves, tenha sido
convocado pelas centrais sindicais e movimentos afins. O PT não amanhecerá
menor no dia seguinte só porque pegou carona em ato alheio. De resto, é o
governo que tudo financia. Até mesmo o que poderá machucá-lo um pouquinho. O
peleguismo renovou-se. Mas não deixou de ser peleguismo.
Que palavras de ordem
gritará o PT? O que cobrará por meio de faixas e cartazes? O governo encomendou
o apoio à reforma política elaborada por uma Assembleia Nacional Constituinte
exclusiva e submetida a um plebiscito. O PT entregará a encomenda. Por absurda,
a ideia da Constituinte foi sepultada em menos de 24 horas. O plebiscito
naufragou por falta de tempo para que seus efeitos incidissem sobre as eleições
do próximo ano.
Dilma esperava lucrar com
uma reforma que lhe garantisse melhores condições de concorrer ao segundo
mandato. E que levasse o PT a emergir da eleição ainda mais forte. Casuísmo
descarado, pois - não a reforma, necessária. Mas a pressa com que seria feita e
a tentativa de empurrar goela abaixo do Congresso pontos da reforma destinados
a agradar Dilma e o PT.
A insistência com a
Constituinte e o plebiscito trai o desejo de Dilma em responsabilizar o
Congresso pela reforma que ele não quer fazer. E denuncia o momento confuso e
delicado que o governo atravessa. Uma pena o PT não poder dizer aqui fora o que
diz quando se reúne no escurinho do cinema. Ou mesmo o que começou a dizer
recentemente a Dilma. A coragem muitas vezes é movida pelo medo. E o PT receia
perder o poder.
A política econômica está
uma droga. A culpa não cabe apenas a Guido Mantega - aquele que Fernando
Henrique chamou de "bem fraquinho" quando virou ministro da Fazenda do governo
Lula. Cabe também a Dilma - aquela que Lula apresentou como melhor gestora do
que ele. Maluf elegeu Celso Pitta prefeito de São Paulo pedindo para não
votarem mais nele, Maluf, caso Pitta fracassasse. Pitta fracassou. Lula não foi
tão longe em relação a Dilma.
Aumenta a inflação.
Diminuem os investimentos. Desequilibram-se as contas públicas. Revisa-se para
baixo o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas do país. O
governo carece de uma estratégia compartilhada por seus 39 ministros. Há
ministros demais e competência de menos. Em larga medida, o voluntarismo de
Dilma é responsável pelo mau desempenho da economia. Seu desprezo pelos
políticos só lhe cria problemas.
Lula montou uma gigantesca
coligação de partidos para eleger Dilma e ajudá-la a governar. Esqueceu de
escalar ministros aptos a cuidarem da articulação política. Apostou suas fichas
em Palocci, posto na Casa Civil para escorar Dilma. Descobriu-se que ele se
tornara milionário enquanto fazia política. Acabou demitido. A coligação ameaça
se esfarelar. A persistir a queda de Dilma nas pesquisas, ela será abandonada.
O PT do passado teria
material de sobra para na quinta-feira ecoar a voz das ruas. O de hoje, não. É
apenas uma fotografia na parede.
Fonte: "Blog do Noblat"
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