Por Reinaldo Azevedo
Uma
Constituinte e mesmo o plebiscito não são a casa-da-mãe-Dilmona - vivendo, é
bom destacar, seus dias de Madrasta da Cinderela. Há regras para as duas
coisas. É impressionante - estupefaciente mesmo (sim, eu gosto dessa palavra!) - que o Brasil esteja a discutir uma reforma política quando a governante de
turno, ao empreender tal esforço, simplesmente ignora a lei. Escrevo de novo:
para reformar a política, que estaria cheia de vícios, a soberana decide
ignorar o que está devidamente regulamentado. A esmagadora maioria dos
brasileiros deve achar, a esta altura, que basta a presidente da República
pedir para que se faça um plebiscito.
Dilma
deve enviar nesta terça a sua mensagem ao Congresso. Sei lá que tipo de
documento será. Poderia ser um cartinha com coraçõezinhos vermelhos, um bilhete
perfumando, um torpedo do Aloizio Mercadante, o superministro sem pasta (não me
venham dizer que ele anda a cuidar da Educação…). Por que escrevo isso? É
simples.
O
plebiscito está previsto, sem qualquer detalhamento, no Artigo 14 da
Constituição. Mas existe uma lei que estabelece as condições para que seja
realizado - e também as duas outras formas de consulta: o referendo e a emenda
de iniciativa popular. Trata-se da 8.709. E ali estão dadas as condições para o dito-cujo. Uma delas é
esta:
"Art.
3o Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou
do Poder Executivo, e no caso do § 3o do art. 18 da Constituição Federal, o
plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por
proposta de um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do
Congresso Nacional, de conformidade com esta Lei."
Entenderam?
O plebiscito tem de contar, de saída com o apoio de pelo menos um terço da
Câmara (171 deputados) ou do Senado (27 senadores). Para que se transforme num
decreto legislativo, tem de ser aprovado pela maioria das duas Casas.
Ou por
outra: sabem o que a presidente da República tem com isso? Absolutamente nada!
Pode não parecer, mas Dilma está é atropelando o Congresso numa matéria que é
da exclusiva competência desse Poder. Nesta segunda, num ato já insólito, encaminhou
uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral sobre a viabilidade do plebiscito.
Também
isso é uma invasão de competência escandalosa, como notou o ministro Gilmar
Mendes, que participava de sessão do TSE, diante de uma Carmen Lúcia,
presidente desse tribunal, mais ou menos atônita. Basta ver o que dispõe o
Artigo 8º da Lei, que transcrevo:
Art. 8o Aprovado o ato convocatório, o Presidente do Congresso Nacional dará ciência à Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, nos limites de sua circunscrição:
I – fixar a data da consulta popular;
II – tornar pública a cédula respectiva;
III – expedir instruções para a realização do plebiscito ou referendo;
IV – assegurar a gratuidade nos meio de comunicação de massa concessionários de serviço público, aos partidos políticos e às frentes suprapartidárias organizadas pela sociedade civil em torno da matéria em questão, para a divulgação de seus postulados referentes ao tema sob consulta.
Art. 8o Aprovado o ato convocatório, o Presidente do Congresso Nacional dará ciência à Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, nos limites de sua circunscrição:
I – fixar a data da consulta popular;
II – tornar pública a cédula respectiva;
III – expedir instruções para a realização do plebiscito ou referendo;
IV – assegurar a gratuidade nos meio de comunicação de massa concessionários de serviço público, aos partidos políticos e às frentes suprapartidárias organizadas pela sociedade civil em torno da matéria em questão, para a divulgação de seus postulados referentes ao tema sob consulta.
Assim,
à presidente Dilma Rousseff não cabe enviar mensagem ao Congresso coisa nenhuma,
como não cabia também a consulta ao Tribunal Superior Eleitoral. Ontem, ela
comparou a sua equipe com a de Felipão… Não! Se o futebol estivesse funcionando
com o governo Dilma, José Maria Marin é que estaria dando dicas a Neymar. Vocês
podem imaginar o resultado…
Se
Dilma acha mesmo imperiosa a reforma política agora - é pura cascata! -, que
mobilizasse seus ministros encarregados da interlocução com o Congresso (Casa
Civil, Relações Institucionais e Justiça) para conquistar, então, aquele terço
necessário, que resultaria na proposta de decreto legislativo etc. Mas não! Em
vez disso, o governo sai por aí metendo os pés pelos pés.
A
menos que violente a lei - e, creio, a questão irá parar na Justiça -, só
haverá plebiscito se ao menos um terço de uma das Casas se manifestar nesse
sentido. Depois, as duas, por maioria, têm de aprovar a proposta. Que os "companheiros" da base aliada fiquem atentos. O principal objetivo dos petistas
é retirar dos partidos o direito de administrar o próprio caixa de campanha:
seja com financiamento público, como eles querem, seja com financiamento
privado, a petezada defende um caixa centralizado, que distribuiria os recursos
segundo o tamanho de cada bancada na Câmara - o que seria bom… para o PT! O
partido, de resto, continuaria a receber contribuições ilegais, ainda que não
necessariamente em dinheiro, de sindicatos, ongs, movimentos sociais…
O povo
se diz favorável à reforma política porque, obviamente, não tem como saber de
todos esses truques. Com a proposta, Dilma tenta sair da berlinda e fazer de
conta que o problema está ao lado, no Congresso.
Dilma
poderia dar uma primeira contribuição importante à reforma dos hábitos
políticos brasileiros: seguir a lei. O que lhes parece?
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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