Editorial
Os atos de vandalismo que
têm feito parte do final de manifestações ultrapassam todos os limites
aceitáveis, já são um grave problema de segurança pública, e não apenas no Rio.
Aqui eles ganharam
características próprias na noite de quarta e madrugada de ontem, por transcorrerem
a partir de mais um protesto nas proximidades da residência do governador
Sérgio Cabral, provocando uma onda de destruição no Leblon, um dos
bairros-símbolo daquilo que a cidade tem de mais positivo.
O problema, porém, cresce
de dimensão desde junho, e há o risco de o vandalismo entrar no roteiro das
cidades, algo impensável, por ser a negação do estado de direito. São Paulo,
Brasília, Porto Alegre e centros menores têm enfrentado a mesma dificuldade.O avanço desta violência
requer um profundo exercício de reflexão das autoridades, assim como da
sociedade, para que democracia não passe a ser entendida como sinônimo de
insegurança e anarquia - que não é.
Trata-se de aperfeiçoar a
atuação das forças de segurança, de forma integrada, e num sentido amplo.
Afinal, vive-se um momento grave na segurança pública. E não é uma crise
qualquer, como outras já enfrentadas.
Depois da reunião de
emergência convocada pelo governador fluminense para ontem de manhã, a cúpula
da Segurança do estado concedeu entrevista coletiva na qual a chefe de Polícia
Civil, delegada Martha Rocha, interpretou uma pergunta como de crítica à
polícia e, com voz emocionada, explicou que nada pode ser feito à margem da
lei. Por suposto.
Há, de fato, trâmites
exigidos pela legislação que devem ser cumpridos. "Dano ao patrimônio", por
exemplo, explicou a delegada, requer a representação da vítima contra o
acusado. E poucos se dispõem a ir à delegacia depor contra alguém. Martha Rocha
lamentou, ainda, que pedidos encaminhados pela Polícia sobre vândalos não foram
acolhidos pelo Ministério Público e Justiça.
Assim deve ser. Nem tudo o
que a Polícia pede é razoável. Mas vivem-se tempos diferentes, que exigem uma
operação fora do padrão. O momento é indicado à criação de um "gabinete de
crise" em que, ao lado das polícias, já integradas, e outros organismos de
segurança, haja também representantes da Justiça e do MP. Algo como o anunciado
ontem pelo governo.
É inconcebível que pessoas
disfarçadas de "manifestantes", com vestimentas já características e
inseparáveis mochilas, continuem a transitar em liberdade na área de passeatas,
apenas à espera do momento de atacar. E não importa a sua motivação - se da
delinquência da política regional, do crime organizado ou de delirantes
organizações ideológicas.
Também partidos e
organizações que, com legitimidade, têm ido às ruas levar reclamações justas
precisam entender que se transformaram em pretexto e escudo para ações de
banditismo.
Fonte: "O Globo"
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