Por
Mary Zaidan
Em qualquer atividade e para qualquer um,
perder uma oportunidade é deixar passar uma chance que poderia ser única.
Na política isso pode ser fatal. Situação,
oposição e até os que não têm cheiro tentam se aproveitar ao máximo quando elas
surgem. Absolutamente legítimo.
Mas, não raro, oportunidades acabam por
irrigar canteiros de oportunistas - gente que rouba, que vende voto, que leiloa
o mandato. E de oportunistas ideológicos - aqueles que em público xingam o
demônio e que entre quatro paredes com ele se confraternizam.
O discurso do presidente do PT deputado Rui
Falcão, na quinta-feira, em Curitiba, em mais uma comemoração pelos 10 anos de
invenção do Brasil, é um exemplo acabado disso. "São quatro grandes monopólios
ou oligopólios que urge desmontar: o monopólio do dinheiro, controlado pelo
capital financeiro; o monopólio da terra, em mãos dos latifundiários que se
opõem à reforma agrária; o monopólio do voto, garantido pelo financiamento
privado e o poder econômico; e o monopólio da opinião e da informação, dominado
pelos barões da mídia", disparou Falcão.
Uma fala inflamada para alegrar a militância
e fazer bonito frente ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff,
estrelas maiores do encontro.
Nela, ele xinga os demônios, cospe no prato
em que come e esconde os conchavos que há anos sustentam o PT.
Que monopólio do dinheiro? O que está
concentrado nas mãos de empreiteiros - os mesmos para os quais Lula tem sido
garoto propaganda? Dos banqueiros aliados que lucram ano a ano e ainda fazem
transações espúrias com o partido, como o BMG do mensalão?
O monopólio da terra abriga o agronegócio,
setor que cresceu 9,7%, evitando o completo desastre do já tão magro PIB de
0,6% do primeiro trimestre. É com esse oligopólio do capeta, e com a
representante dele - senadora Kátia Abreu (PSD-TO) –, que Dilma conta.
O monopólio do voto? O maldito dinheiro
privado que abarrota o caixa oficial e o caixa 2 confesso das campanhas do PT,
as mais caras desde 2004, ano da primeira eleição depois que Lula chegou ao
poder?
Por fim, os barões da mídia. Como se o
incômodo fosse com os donos da mídia, com quem governos sempre se compõem. A
pedra no sapato é o jornalismo - classificado por Dilma como "terrorismo
informativo" - e os jornalistas, "vendedores" ou "profetas do caos". Gente que
ousa relatar que a inflação bateu no teto da meta, que mostra erros de gestão,
gastos a rodo, obras de infraestrutura caras e em passo de tartaruga;
desacertos e improvisações na política econômica e fiscal.
O problema são esses diabos que não batem
ponto e não estão à venda.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou
nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo", em Brasília.
Fonte: "Blog do Noblat"

Nenhum comentário:
Postar um comentário