Sabia sobre "Mandacaru Vermelho", mas nunca havia assistido - a rara oportunidade ocorreu neste sábado, 17 -, ao filme de Nelson Pereira dos Santos, realizado em 1961, que nos créditos tem o nome de O. São Paulo (Olney São Paulo) na Continuidade. Um nordestern - western nordestino, faroeste bem brasileiro. Um dos primeiros exemplares do gênero e representante legítimo.
Como se sabe, há mais de 60 anos, Nelson veio à Bahia para filmar "Vidas Secas", em Juazeiro, mas choveu demais. O tempo deveria estar estiado para retratar bem a aridez do sertão fundamental na obra de Graciliano Ramos. Assim, ele improvisou outro filme, sem roteiro detalhado, mas inspirado na literatura de cordel. Um rascunho de filme, como o cineasta dizia. Era considerado um filme menor. O certo é que o resultado é um filme de qualidade surpreedente. Cinema Novo desabrochando.
Glauber Rocha refere-se ao filme como "o primeiro e mais autêntico nordestern brasileiro, frágil numa história superficial, mas semelhante aos clássicos de Humberto Mauro pela captação do meio ambiente, beleza visual, lirismo dos primitivos peronagens seranejos".
Nelson nunca pensou em fazer esse filme. "Não foi um filme planejado. Foi um filme que aconteceu porque eu tive que abandonar o projeto que tinha me levado lá para o Nordeste, em virtude de uma chuva inesperada que deixou a caatinga um jardim. E esse filme era 'Vidas Secas'. E eu inventei uma história para 'Mandacaru', uma história que se ouve muito no Nordeste, questões de família, relações amorosas", contou.
Na trama, de amor e vingança mais conflitos familiares, uma moça orfã, Clara (Sonia Pereira), apaixona-se pelo vaqueiro Augusto (o próprio Nelson como galã). A diferença social é empecilho para a união dos dois, que fogem pela caatinga em busca do vigário para casar. Eles são ajudados por Pedro (Miguel Torres), irmão de Augusto. A tia da jovem, a despótica Dona Dusinha (Jurema Penna) com seus filhos (Ivan de Souza e Luiz Paulino dos Santos) mais o seu irmão (José Teles de Magalhães) vão atrás do casal, pois ela já está prometida a outro homem, o fazendeiro Mendonça (Enéas Muniz). A perseguição termina de modo violento, no mesmo local onde no início houve um massacre comandado por Dona Dusinha e que foi abandonado, onde habita um beato (Mozart Cintra), personagem que desvenda o passado de Dusinha. No lugar, nasceu um mandacaru encarnado - daí o nome do filme. Passado o tempo será palco de mais um acerto de contas.
Na trilha sonora, "O Sol C'o a Mão", de Mozart Cintra, e "Mandacaru", de Remo Usai e Pedro Bloch. Os títulos de apresentação são da artista plástica Lygia Pape.
Em 1961, "Mandacaru Vermelho" recebeu o Troféu Jornal Diário Carioca como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia (Helio Silva) e Melhor Composição Musical (Remo Usai). Também o Prêmio Associação Brasileira de Cronistas Cinematográficos de Melhor Composição Musical para Remo Usai. Foi indicado como Melhor Filme na Competição Internacional do Mar Del Plata International Film Festival.






Nenhum comentário:
Postar um comentário