Por Everaldo Góes
Talvez eu esteja enganado - e até gostaria que estivesse - mas tenho percebido que os grupos de WhatsApp de amigos das antigas, aqueles que estudaram juntos até o ensino médio nas décadas de 1970, 1980 e 1990, estão morrendo. Silenciando. Desaparecendo, como as fotografias que desbotam com o tempo, guardadas em álbuns que a gente já não abre com tanta frequência.
No meu caso, estudei o antigo segundo grau entre 1979 e 1981 aqui mesmo em Feira de Santana. Ali se formaram amizades, cumplicidades, risadas que ecoavam pelos corredores, a descontração da educação física e das partidas de futebol e sonhos que ainda estavam em construção. Como muitos, perdi o contato com boa parte daquela turma ao longo dos anos. Mas, no fim da década de 1990, com o surgimento da internet, algo começou a mudar.
Vieram os grupos de e-mail. E vieram graças a gente persistente - colegas que guardavam telefones fixos anotados em cadernos, que ligavam para um, perguntavam por outro, montavam redes manuais de reencontro. E deu certo. Por volta de 2005, começaram os encontros presenciais. Sorrisos, abraços, aquele espanto gostoso de reconhecer rostos que o tempo transformou, mas não apagou. Era emocionante.
Com o avanço da tecnologia, surgiram o Orkut, o Facebook e, mais recentemente, o WhatsApp. Os grupos se multiplicaram. Um para a turma da manhã, outro da noite. Um só com os colegas, outro incluindo os professores e ainda outro com ambos. Compartilhávamos tudo: histórias antigas, fotos reencontradas, os tropeços e as conquistas da vida adulta, e também as dores - como a perda de pais, mães e, em alguns casos, de colegas que partiram cedo demais.
Mas, de um tempo para cá, os grupos começaram a esfriar. O entusiasmo murchou. As mensagens rarearam. As figurinhas de bom dia se tornaram o único sinal de vida. Alguns grupos simplesmente silenciaram. E, aos poucos, deixamos de falar até sobre a possibilidade de novos encontros.
Por quê?
Talvez a curiosidade sobre o paradeiro de cada um tenha sido saciada. Talvez a empolgação do reencontro tenha servido ao seu propósito e esgotado seu fôlego. Talvez as diferenças - especialmente as políticas - tenham azedado o clima, como de fato aconteceu em muitos grupos. Talvez a idade pese, embora isso não devesse ser desculpa. Envelhecer não é se calar.
Às vezes me pergunto: será que teria sido melhor não termos nos reencontrado? Que tudo tivesse ficado apenas na memória, guardado com aquela aura idealizada do passado? Talvez fosse mais bonito cruzar um ou outro na rua, trocar um abraço espontâneo, rir de uma lembrança rápida, prometer um café e seguir. Ou encontrar por acaso num barzinho qualquer, brindar com uma cervejinha, e deixar a vida seguir sem tentar reconstruir o que só existia naquele tempo.
Mas a verdade é que não dá pra saber. A vida é feita dessas tentativas - de se reconectar, de revisitar, de reaprender. E se por um lado o reencontro pode decepcionar, por outro, ele também revela que seguimos vivos, com marcas, histórias e alguma vontade - mesmo que tímida - de lembrar de onde viemos.
Hoje, quando olho os grupos silenciados no meu celular, fico pensando se é mesmo o fim ou apenas uma pausa longa demais. Quem sabe um dia um de nós resolva enviar um "e aí, turma?", e esse sopro seja o suficiente para reacender a chama.
Ou talvez não. Talvez reste apenas o que sempre resistiu: a memória.
Por Everaldo Goes é editor do Feira Hoje

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