Juraci Dórea montou escultura nos Jardins de Veneza
Dimas Oliveira com os artistas José Resende e Juraci Dórea
Há 34 anos, em junho de 1988, couro cru, varas, espinhos, cascalho e bosta de vaca foram exportados de Feira de Santana para Veneza, na Itália. Foi quando o artista plástico Juraci Dórea apareceu na XLIII Exposição Internacional de Arte - a Bienal de Veneza, com sua obra aberta, de uma singularidade significativa que se ocupava em buscar a afirmação de uma identidade brasileira e as raízes culturais. Sua obra esteve exposta nos jardins de Veneza, entre 26 de junho e 25 de setembro daquele ano. Obra de cor, cheiro e alma.
Juraci foi escolhido pela curadora Lélia Coelho Frota para representar o
Brasil junto com escultor paulista José Resende no grande evento internacional
e conseguiu transpor um pouco do pardo requeimado das caatingas, ambientando na
cosmopolita Veneza o cenário para suas quatro esculturas de couro e madeira.
Espinhos, cascalho, bosta de vaca foram componentes da instalação no pavilhão
brasileiro, sendo que causou certo frisson na considerada bem-comportada
Bienal, pois sendo polemizado, ganhando espaço em jornais como "Il
Gazzettino" e "Corriere Della Sera", consequentemente aumentando
o número de visitantes. Em tudo ficou a constatação de um equívoco: os
sensíveis narizes europeus não conseguiram entender que o cheiro era do couro
curtido utilizado nas esculturas e não do estrume que compunha o ambiente.
Para Juraci Dórea o que importou foi ter quebrado o isolamento cultural, pois
em contato com a criação estética e a crítica internacional surgiram as
consequências imediatas: convites para exposições na Suíça e nos Estados
Unidos, além da participação na Bienal de Cuba, no ano seguinte, o que se
confirmou. O crítico francês Pierre Restany, um dos jurados da Bienal, afirmou
então que Juraci "tem um trabalho de consciência nacional, com sensibilidade
ecológica e antropológica. Interessa-me muitíssimo". Já Belgica Rodriguez,
presidente da Associação Internacional dos Críticos de Arte, disse na época que
o artista "tem uma obra incomum, de uma singularidade impressionante na
recuperação de material fora de órbita não-tradicional". Para a curadora
Lélia Coelho Frota, a obra de Juraci Dórea "é um retrato possível entre os
retratos possíveis do Brasil".
Em Veneza, o Projeto Terra foi
apresentado por documentação fotográfica e vídeo além de duas esculturas nos
"Jardins de Veneza", em couro e madeira, 3,60x3,00. Também foram
apresentados os vídeos sobre a obra de Juraci: "Terra", 1982,
transcrito do Super 8, fotografia de Robinson Roberto; "Escultura da
Tapera", com imagens de Dimas Oliveira - que acompanhou o
artista em Veneza - e Juraci Dórea, texto de Antônio Brasileiro e edição de
Amadeu Campos (DB Vídeo) e Dimas Oliveira, músicas de Elomar e Fábio Paes.
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