Por João Cesar de Melo
A indicação do filme "Democracia em Vertigem" não
surpreende ninguém no meio artístico, muito menos um artista como eu, que vem
há anos denunciando a ditadura no meio cultural.
Antes de explicar a estrutura dessa ditadura, reproduzo
abaixo uma mensagem que um amigo escritor enviou a mim na semana passada.
"Em 2011 fui finalista num importante prêmio de
literatura. Foram alguns meses de assédio no meio cultural, acadêmico e
jornalístico. A galera esquerdista queria sondar esse tal escritor que vinha do
nada, sem passado, sem luta política, sem Cuba. Um dia recebi uma caixa de
Sedex com vários livros da autoria de um fulano influente na burocracia
cultural do Estado de São Paulo. Nunca tinha ouvido falar dele, o que não chega a ser
demérito para o fulano, mas me espantou ver como ele era bem relacionado e
badalado nos circuitos internos dos eventos culturais paulistas. Havia um grupo
de pessoas em torno de premiações, feiras, turnês, projetos etc. Sempre os
mesmos, e sempre gente de quem você nunca ouviu falar. Respondi ao fulano com
um e-mail gentil e na semana seguinte recebi revistas editadas por uma
organização que ele presidia (já não lembro o nome, mas era alguma coisa ligada
ao mundo acadêmico, tipo um núcleo de estudos ou coisa parecida).
A matéria de capa de uma das revistas era sobre o
Irã. Na verdade, toda a revista era sobre o Irã. Entrevistas, fotos, artigos
escritos lá e cá. A revista era claramente pró-aiatolás e antiamericana. Um de
seus artigos denunciava a propaganda ocidental contra o islamismo e em favor do
imperialismo americano etc. Joguei tudo fora e decidi não me aproximar dessas
pessoas. Tive uma relação educada e protocolar com alguns deles, inclusive numa
viagem internacional, mas ficou bem claro para todos que eu não partilhava de
seus ideais. Fui tolerado no começo e pouco a pouco excluído.
Em 2014 declarei meu voto em Aécio. Pronto. Nunca
mais me convidaram para nada nem fizeram menção ao meu trabalho. Em 2016 lancei
outro romance que não ganhou qualquer menção na imprensa paulista. Os convites
para eventos e artigos simplesmente sumiram".
O simples pedido de meu amigo para que eu não
revelasse seu nome nos mostra o poder da patrulha ideológica na cultura
brasileira. Eu mesmo tenho minhas histórias para contar.
Desde que comecei a escrever para o Instituto
Liberal, perdi literalmente centenas de amigos, com alguns se tornando quase
inimigos. Fui insultado e difamado. Murais foram vandalizados. Exposições foram
canceladas. Tornei-me persona no grata entre pessoas que só tinham
elogios a mim.
Na semana passada, tivemos o caso da censura ao
vídeo do Porta dos Fundos. Obviamente, repudio a ação judicial que o retirou do
ar. Não cabe ao Estado julgar a manifestação intelectual ou artística de
ninguém. Cabe às pessoas. No entanto, chama a atenção o cinismo da conhecida "classe artística" sobre isso, já que ela sistematicamente censura artistas
discordantes.
A ditadura ideológica no meio cultural funciona
desta maneira:
Militantes de esquerda tomam o controle de todas as
representações culturais para integrá-las a uma rede de cooperação com o
partido que lidera o movimento. No Brasil, o PT.
Enquanto apertam os nós dessa rede, vão impondo a
ideia de que peças de valor cultural são apenas aquelas avalizadas por eles
mesmos, pois apenas eles são amparados pelos teóricos acadêmicos formados em
universidades públicas, também controladas por militantes de esquerda.
Dessa forma, eles definem quem tem direito a
financiamentos e patrocínios diretos ou indiretos do governo e espaço na grande
imprensa como representantes da cultura nacional.
Nesse processo, vão criando prêmios para concederem
a si mesmos, para que cada medalhinha dê respaldo a suas opiniões políticas.
Por exemplo: fulano ganhou um prêmio em literatura, portanto, sua opinião sobre
o governo Bolsonaro é importante. Fazem isso em larga escala, criando centenas
de falsas notoriedades culturais, que se tornam formadores de opinião sobre
tudo. Cada uma delas convertendo as narrativas socialistas para a linguagem que
seus públicos entendem, cobrindo toda a cena artística e universitária,
descendo em cascata até a casa e o trabalho de cada pessoa, impedindo qualquer
expressão discordante, para que o cidadão comum acredite que todos os artistas
são socialistas e amam Lula.
O nome disso é marxismo cultural ou
gramscismo.
Enxergando isso, enxerga-se perfeitamente como
chegam a indicação de um filme ao Oscar. Fizeram a mesma coisa com o filme
sobre Lula. Fazem e continuarão fazendo a mesma coisa.
A grande maioria dos premiados em todas as
categorias artísticas atendem de uma forma ou de outra aos interesses da
esquerda. Um artista não-militante pode até conseguir uma medalhinha em alguma
coisa, mas será uma espécie de "cota da bondade", tentativa de passar uma
imagem de tolerância intelectual - como a Folha faz, que para cada vinte
artigos pró-Lula, publica um contra.
O fato é que não há tolerância no meio cultural. Em
todos os níveis, do estagiário ao diretor de alguma instituição, prevalece o
ódio a qualquer pessoa não-alinhada.
O extremismo é tanto que enxergam tucanos e
liberais como direita. Não enxergam a menor possibilidade de conciliação ou de
convivência com pensamentos divergentes. São paranoicamente anticristãos e
antiamericanos.
Uma amiga que trabalha numa instituição de arte
importante me contou recentemente sobre a discriminação e as piadinhas
ofensivas que ela escuta frequentemente porque… é religiosa, católica, vai à
igreja.
Minha última exposição foi uma brecha no sistema.
No entanto, durante todo o período em que durou o projeto de produção, a
diretora da instituição foi questionada sobre isso. A própria chegou a marcar
uma reunião comigo para dizer que a informação sobre minha exposição havia "vazado" e que estava provocando muitos questionamentos na equipe e entre
frequentadores do lugar. Ela teve que me pedir para "pegar leve" no Facebook,
para não atiçar os ânimos das pessoas. Dois integrantes da equipe de suporte da
exposição mal me cumprimentavam.
Ela me confidenciou ainda que previa um "ato
político" contra a minha exposição no dia da abertura. O que acontece
comigo e com meu amigo escritor acontece com TODOS os artistas que ousam
discordar da esquerda. A indicação do filme "Democracia em Vertigem" é apenas o
reflexo de uma ditadura que está consolidadíssima no Brasil.
A intelligentsia hollywoodiana fará sua
parte para "empoderar" o cinema brasileiro, dando aos petistas mais uma
narrativa estapafúrdia: "o Oscar comprova que o impeachment foi golpe".
O socialismo transformou o cinismo em
arte.
Quem quiser conhecer meu trabalho, estou no
Instagram: @demeloarte
Fonte: https://www.institutoliberal.org.br
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