Por Percival Puggina
No Brasil, um bom teste para saber se certa
ideia é boa consiste em identificar quem a ela se opõe. Tal é o caso, por
exemplo, das escolas cívico-militares, que encontram resistência entre
pedagogos paulofreireanos. No entanto, o Governo Federal, que lançou o programa
no final do ano passado, vai atender, neste ano, menos de 10% da manifestação
de interesse de quase 700 municípios brasileiros.
O interesse das administrações locais
expressa o desejo de muitos pais que acompanham a vida escolar de seus filhos.
Pais sabem o quanto a disciplina e a ordem cobradas em educandários com esse
formato resultam saudáveis e se expressam em resultados positivos no
aprendizado e na vida dos jovens. Então, logicamente, querem isso para os seus
filhos.
Acompanho há muitos anos os fatos relacionados à
Educação em nosso país. Minha mulher foi professora e, durante longo período,
diretora de escola estadual do ensino fundamental. Viveu na experiência
cotidiana as questões disciplinares e conheceu de perto os problemas que lhe
dão causa. Eles se situam entre dois extremos: o abandono pela família e a
sacralização dos pequenos rebeldes.
Em 2020, o Ministério da Educação canalizará R$ 54
milhões para 54 escolas cívico-militares, distribuídas entre as regiões do país
e tem planos para alcançar 216 escolas até 2023. O projeto-piloto prevê gestão
compartilhada entre professores civis e militares.
Reportagem da revista 'Veja', de 31 de agosto de
2018, relata que uma em cada cinco crianças de até oito anos, submetidas à
Prova Brasil, que compõe o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(Saeb), diante de uma imagem de pipoca, identificaram-na como piloto, pijama ou
pirata. Outro tanto se atrapalhou ao contar nove balões na mão de um palhaço.
Os dados da Prova Brasil, informa a matéria, mostram que "apenas 5% dos alunos
brasileiros se encaixam na faixa adequada, ou seja, possuem o conhecimento
esperado para sua série".
Os dados, aliás, tornam difícil entender que as
escolas cívico-militares encontrem resistência por parte daqueles profissionais
dos ambientes sindical e acadêmico que acompanham os fatos e os dados, com o
toco de giz na mão dos outros... A propósito, leio no site 'Último Segundo'
reclamação contra o Governo Federal por, de um lado, demonizar o pedagogo Paulo
Freire, que preconizava uma educação política, orientada para a conscientização
dos alunos sobre sua condição social e, de outro, enaltecer o modelo cívico-militar,
baseado na ordem e na disciplina. Disso deduz que tal opção "reforça uma
orientação autoritária e uma vontade de impor uma visão de mundo unificada e
conformista."
Enquanto a Educação disponibilizada fica tão aquém
do necessário para a inserção proveitosa do estudante no conjunto das relações
sociais e econômicas, a educação paulofreireana não se importa com o insucesso
nas avaliações contanto que o produto da sala de aula responda aos anseios
políticos do "patrono" da educação brasileira.
Não, não têm algo melhor do que isso para dizer. No
vazio de ideias em que orbita a Educação em nosso país, não há lugar para ordem
e disciplina.
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de "Crônicas Contra o Totalitarismo", "Cuba, a Tragédia da Utopia", "Pombas e Gaviões", "A Tomada do Brasil". Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de "Crônicas Contra o Totalitarismo", "Cuba, a Tragédia da Utopia", "Pombas e Gaviões", "A Tomada do Brasil". Integrante do grupo Pensar+.
Fonte:
http://www.puggina.org
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