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segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

"Bolsonaro veio para ficar"


Por Pedro Mundim
É essa a conclusão a que chego, após um ano de governo. E para que não digam que é uma opinião particular minha, mostro esse e mais esse artigos publicados na imprensa francesa.
Quando o fenômeno Bolsonaro começou a tomar corpo, especulei se ele não seria mais um daqueles cometas que periodicamente cruzam o céu de nossa política para logo desaparecer no horizonte, como foram Jânio Quadros e Collor de Mello. Decorrido um ano de governo, o desempenho parece aquém das expectativas. O índice de aprovação caiu para cerca de 30%. O crescimento da economia foi pequeno. A maior parte do pacote anti-crime de Moro foi vetada.
Mas convém lembrar que em sete meses, Jânio Quadros já havia renunciado, e em menos tempo ainda Collor de Mello e seu pacote econômico já estavam desmoralizados. A queda do índice de aprovação de Bolsonaro segue o padrão de todos os presidentes após a "lua de mel" da época da eleição, não se trata de uma queda brutal e inesperada. A economia avançou pouco, mas avançou. A reforma da previdência foi aprovada sem grande alarde. Estatísticas mostram uma diminuição nos crimes. Não há grandes escândalos de corrupção, nem manifestações massivas contra o governo.
Enfim, penso estar autorizado a concluir que Bolsonaro não segue o roteiro dos "cometas" que o precederam, e ao que tudo indica terminará seu mandato e tem grandes chances de fazer seu sucessor, conforme mostram as projeções. Para o bem ou para o mal, o fenômeno Bolsonaro parece que vai cristalizar-se em nossa política, congregando facções conservadoras até então desgarradas ou naufragadas no antigo DEM, dando partida, talvez, a um bipartidarismo com facções de esquerda moderada, papel que o PSDB falhou em executar. O mais é futurismo, pois nossa política é inerentemente instável, mas considero factíveis essas previsões.
Aos que se desapontam com este quadro, resta tentar encontrar uma explicação. Penso que aqueles que apostaram contra Bolsonaro, subestimaram o personagem que ele representa. Sim, pois todo líder que ascende pela via do carisma, sem estar apoiado por lideranças políticas estabelecidas, cria um personagem para si mesmo, e passa a representá-lo. E Bolsonaro, que passou de oficial subalterno sem prestígio para político exótico e alternativo, mais conhecido por suas declarações polêmicas do que por seus projetos, soube de fato criar um personagem que foi acolhido por uma multidão órfã de líderes de direita e cansada de líderes de esquerda. De fato, desde que a vanguarda da direita do Brasil foi liquidada, paradoxal que pareça, pelo regime de 1964, que cassou Carlos Lacerda, Adhemar de Barros e Juscelino Kubitschek, e atirou os demais na vala comum da Arena, não surgiu no país um líder convincente de direita para além do exótico Enéas Carneiro. E tampouco os líderes de esquerda souberam se renovar, ao contrário, desgastaram-se por suas práticas corruptas e por seu discurso que feriu os sentimentos conservadores e religiosos do povão, que preferiu correr para os pastores pentecostais das periferias.
Mas por que Bolsonaro não se queimou, como tantos outros linguarudos? Eu acredito que o segredo de Bolsonaro foi nunca se colocar na pele de seu personagem, ao contrário do que fizeram Jânio Quadros e Collor de Mello, que efetivamente se entusiasmaram, acreditaram ter o prestígio que se creditava aos personagens que criaram, e como diz o ditado popular, deram um passo maior que as pernas. Bolsonaro, no fundo, não deixou de ser aquele homenzinho enfezado que diz coisas escatológicas, provocando ora riso, ora indignação. Mas ao redor dele há um governo que, bem ou mal, caminha devagar, mas caminha na direção prometida. É esse governo que tem merecido a confiança de uma população desalentada e cansada de promessas não cumpridas. Voltando a recorrer a ditos populares, Bolsonaro não deixou a peteca cair nem o caldo entornar.
O futuro, veremos.

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