Por Helio Gurovitz
Ainda não se sabe que partido vencerá a eleição
presidencial, mas o maior perdedor parece claro: o PSDB. Se confirmados os
números das últimas pesquisas, os tucanos deverão sair das urnas com a maior
derrota de sua história.
O partido
que governou o Brasil nos dois mandatos do governo Fernando Henrique Cardoso
está prestes a ser derrotado nos dois principais pleitos que disputa: para
presidente da República e para o governo de São Paulo.
No
presidencial, o ex-governador Geraldo Alckmin, ao que tudo indica, superará a
própria marca de 2006, quando obteve menos votos no segundo turno que no
primeiro. Patinando nas pesquisas em torno de 8%, Alckmin será o primeiro
candidato tucano a não chegar ao segundo turno desde seu mentor Mário Covas, em
1989.
No
paulista, o ex-prefeito João Doria está apenas 2 pontos percentuais à frente do
emedebista Paulo Skaf no primeiro turno na média das pesquisas. Considerando apenas votos válidos, perde para ele por uma diferença superior a
5 pontos no segundo.
Na última
rodada divulgada hoje pelo Ibope, Skaf já aparece na frente de Dória no
primeiro turno, com 24% a 22%. No segundo, o derrota facilmente, com folga de
mais de 11 pontos percentuais em votos válidos. Pelos números de hoje, Skaf é o
franco favorito.
Sao Paulo
é governada pelo PSDB há 24 anos sem interrupção. O estado é o maior bastião do
partido no país. Votou majoritariamente pelos tucanos nas últimas sete eleições
presidenciais e é dominado por prefeitos do (ou ligados ao) PSDB.
Mesmo que
Doria consiga virar o jogo e levar o governo paulista, herdará um estado
dividido, em que as prefeituras do interior, outrora alinhadas com o governo
estadual, não hesitarão em explorar lealdades aos grupos políticos que saírem
mais fortes das urnas.
O domínio
sobre a maior economia e maior população do país sempre foi o esteio da
projeção tucana na política nacional. É de São Paulo que vêm seus quadros mais
importantes (como FHC, Serra, Covas ou o próprio Alckmin), suas políticas
públicas mais relevantes e a base de arrecadação que mantém a bancada do PSDB
como uma das maiores e mais fortes no Congresso.
A soma das
duas derrotas - no Brasil e São Paulo - tornará o PSDB uma sombra do que já
foi. O máximo a que pode almejar é ser o principal partido de oposição ao novo
governo. Mas só tem chance de conseguir isso se o PT vencer. No caso de vitória
de Bolsonaro, a oposição será evidentemente organizada em torno do PT.
A
derrocada tucana deriva, em primeiro lugar, da dificuldade que o partido teve
para assumir o papel de liderança da oposição nos governos petistas. Mesmo com
o PSDB consistentemente apontado como segundo partido na preferência dos
eleitores, sempre houve uma divisão entre aqueles tucanos que queriam um
enfrentamento mais duro e aqueles, como Alckmin, que defendiam a acomodação.
Na eleição
de 2006, diante da ameaça de derrota para Lula, Alckmin vacilou na defesa do
legado de FHC. Hesitante, sem estratégia coerente nos anos seguintes, o PSDB
abriu o flanco para que Bolsonaro galvanizasse o campo antipetista.
O segundo
fator que contribuiu para a derrocada peessedebista foi, naturalmente, a
sucessão de escândalos de corrupção que atingiram figuras de relevo no partido,
em especial o senador Aécio Neves. Ex-candidato à Presidência derrotado por
Dilma, Aécio foi flagrado em grampo, negociando com o empresário Joesley
Batista uma entrega de R$ 2 milhões em dinheiro vivo.
O próprio
Alckmin foi citado em delações da Operação Lava Jato como destinatário de
propinas, pagas pela Odebrecht na forma de caixa dois de campanha. Integrantes
de seu governo foram presos, sob a acusação de superfaturamento em obras do
Rodoanel paulistano. Embora, pessoalmente, nada tenha sido comprovado contra
ele, não há como evitar a associação de seu nome aos escândalos que atingem o
partido.
A
derrocada do PSDB terá consequências decisivas para o futuro da política
nacional. O voto de direita que o partido atraía estará doravante noutras plagas.
São Paulo governada por outro partido, provavelmente o MDB, terá um papel mais
fraco como contrapeso ao novo governo, quer vença Bolsonaro, quer vença
Fernando Haddad.
Outra
consequência será o enfraquecimento de todas as políticas bem-sucedidas implantadas
pelo partido em São Paulo ao longo dos anos, em áreas como educação, saúde e
segurança. Os demais estados e o governo federal teriam muito a aprender com a
longeva gestão tucana em São Paulo, em especial no que diz respeito à
responsabilidade fiscal.
A
consistência entre sucessivos governos explica por que o governo paulista se
distingue dos demais em todas essas áreas e por que a qualidade de vida da
população paulista atingiu um patamar superior ao do resto do país. Não é uma
coincidência que São Paulo seja governada por tucanos há tanto tempo. Nem que a
crise do PSDB no estado coincida com seu encolhimento na cena política nacional.
Fonte: https://g1.globo.com/
Um comentário:
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