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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

"O naufrágio eleitoral do PSDB"

Por Helio Gurovitz

Ainda não se sabe que partido vencerá a eleição presidencial, mas o maior perdedor parece claro: o PSDB. Se confirmados os números das últimas pesquisas, os tucanos deverão sair das urnas com a maior derrota de sua história.
O partido que governou o Brasil nos dois mandatos do governo Fernando Henrique Cardoso está prestes a ser derrotado nos dois principais pleitos que disputa: para presidente da República e para o governo de São Paulo.
No presidencial, o ex-governador Geraldo Alckmin, ao que tudo indica, superará a própria marca de 2006, quando obteve menos votos no segundo turno que no primeiro. Patinando nas pesquisas em torno de 8%, Alckmin será o primeiro candidato tucano a não chegar ao segundo turno desde seu mentor Mário Covas, em 1989.
No paulista, o ex-prefeito João Doria está apenas 2 pontos percentuais à frente do emedebista Paulo Skaf no primeiro turno na média das pesquisas. Considerando apenas votos válidos, perde para ele por uma diferença superior a 5 pontos no segundo.
Na última rodada divulgada hoje pelo Ibope, Skaf já aparece na frente de Dória no primeiro turno, com 24% a 22%. No segundo, o derrota facilmente, com folga de mais de 11 pontos percentuais em votos válidos. Pelos números de hoje, Skaf é o franco favorito.
Sao Paulo é governada pelo PSDB há 24 anos sem interrupção. O estado é o maior bastião do partido no país. Votou majoritariamente pelos tucanos nas últimas sete eleições presidenciais e é dominado por prefeitos do (ou ligados ao) PSDB.
Mesmo que Doria consiga virar o jogo e levar o governo paulista, herdará um estado dividido, em que as prefeituras do interior, outrora alinhadas com o governo estadual, não hesitarão em explorar lealdades aos grupos políticos que saírem mais fortes das urnas.
O domínio sobre a maior economia e maior população do país sempre foi o esteio da projeção tucana na política nacional. É de São Paulo que vêm seus quadros mais importantes (como FHC, Serra, Covas ou o próprio Alckmin), suas políticas públicas mais relevantes e a base de arrecadação que mantém a bancada do PSDB como uma das maiores e mais fortes no Congresso.
A soma das duas derrotas - no Brasil e São Paulo - tornará o PSDB uma sombra do que já foi. O máximo a que pode almejar é ser o principal partido de oposição ao novo governo. Mas só tem chance de conseguir isso se o PT vencer. No caso de vitória de Bolsonaro, a oposição será evidentemente organizada em torno do PT.
A derrocada tucana deriva, em primeiro lugar, da dificuldade que o partido teve para assumir o papel de liderança da oposição nos governos petistas. Mesmo com o PSDB consistentemente apontado como segundo partido na preferência dos eleitores, sempre houve uma divisão entre aqueles tucanos que queriam um enfrentamento mais duro e aqueles, como Alckmin, que defendiam a acomodação.
Na eleição de 2006, diante da ameaça de derrota para Lula, Alckmin vacilou na defesa do legado de FHC. Hesitante, sem estratégia coerente nos anos seguintes, o PSDB abriu o flanco para que Bolsonaro galvanizasse o campo antipetista.
O segundo fator que contribuiu para a derrocada peessedebista foi, naturalmente, a sucessão de escândalos de corrupção que atingiram figuras de relevo no partido, em especial o senador Aécio Neves. Ex-candidato à Presidência derrotado por Dilma, Aécio foi flagrado em grampo, negociando com o empresário Joesley Batista uma entrega de R$ 2 milhões em dinheiro vivo.
O próprio Alckmin foi citado em delações da Operação Lava Jato como destinatário de propinas, pagas pela Odebrecht na forma de caixa dois de campanha. Integrantes de seu governo foram presos, sob a acusação de superfaturamento em obras do Rodoanel paulistano. Embora, pessoalmente, nada tenha sido comprovado contra ele, não há como evitar a associação de seu nome aos escândalos que atingem o partido.
A derrocada do PSDB terá consequências decisivas para o futuro da política nacional. O voto de direita que o partido atraía estará doravante noutras plagas. São Paulo governada por outro partido, provavelmente o MDB, terá um papel mais fraco como contrapeso ao novo governo, quer vença Bolsonaro, quer vença Fernando Haddad.
Outra consequência será o enfraquecimento de todas as políticas bem-sucedidas implantadas pelo partido em São Paulo ao longo dos anos, em áreas como educação, saúde e segurança. Os demais estados e o governo federal teriam muito a aprender com a longeva gestão tucana em São Paulo, em especial no que diz respeito à responsabilidade fiscal.
A consistência entre sucessivos governos explica por que o governo paulista se distingue dos demais em todas essas áreas e por que a qualidade de vida da população paulista atingiu um patamar superior ao do resto do país. Não é uma coincidência que São Paulo seja governada por tucanos há tanto tempo. Nem que a crise do PSDB no estado coincida com seu encolhimento na cena política nacional.

Um comentário:

Danny Danials disse...

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