Por Cesar Maia
A história ajuda a
projetar o cenário pós votação do impeachment de Dilma. A começar pela vitória
do general Pirro em 280 a.C. contra os romanos. Foram tantas baixas que Pirro
cunhou a frase: "Mais uma vitória dessas e estamos arruinados". Dilma enfrenta
o impeachment com a votação do baixo clero. Se impedir o impeachment será a
vitória da tropa de choque de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara por
curto período, renunciando em 2005 após um pequeno pixuleco por prestador de
serviço no restaurante da Câmara.
Se a base aliada, a partir da eleição de 2014, não garantia mais nada na
Câmara, imagine-se o que seria a base aliada após um resultado apertado na
votação do impeachment? Dilma, desde o início de seu segundo mandato, não tem
tido base para aprovar leis ordinárias e menos ainda leis complementares e
emendas constitucionais. As vitórias em plenário têm sido na contramão do que
Dilma queria ou propunha.
Conseguir uma minoria de pouco mais de 1/3 dos votos e das ausências sequer
resolve a necessidade de votos para emendas constitucionais que são aprovadas
com 60% dos votos e leis complementares com 50% e das leis ordinárias.
O dia seguinte seria trágico com a certeza da ingovernabilidade agravada, do
refluxo ainda maior de investimentos, de repique inflacionário, explosão da
taxa de câmbio, desmonte da bolsa, queda ainda mais acentuada do PIB, estados e
municípios indo a pique, mais desemprego e necessidade de taxas de juros
extravagantes. Isso tudo com a coreografia e a exposição internacional das
Olimpíadas. Por cima da vaidade e do orgulho de Dilma, sua renúncia - ou pedido
de licença por tempo indeterminado - seriam os caminhos racionais para conquistar
o reconhecimento futuro pelo sacrifício.
Pior é sua saída pela porta dos fundos. Num exemplo recente, na Ucrânia,
entre dezembro de 2013 e março de 2014, o presidente eleito Yanukovych cometeu
um enorme estelionato eleitoral. Comprometeu-se em assinar o acordo de comércio
com a União Europeia e por isso elegeu-se. Mas no dia seguinte foi visitar
Putin, seu parceiro, e abandonou o compromisso de campanha gravado na TV.
Conseguiu atrair os deputados com os conhecidos favores e pixulecos e a
Câmara de Deputados o respaldou com votações simbólicas num simples levantar
dos braços, sem nominá-los com registros, para não desgastá-los.
Iniciou-se um movimento de protesto na praça principal com não mais que 300
pessoas. E foi crescendo, crescendo. Era um protesto cumulativo e permanente na
praça. Yanukovych achou que resolvia com repressão e a mobilização só crescia
com adesão completamente apartidária dos cidadãos, das Igrejas, de artistas e
da opinião pública internacional. Solidariedade presente e ativa. O presidente
Yanukovych resistiu - a ferro, fogo e sangue - por 90 dias, até que num início de
noite saiu sorrateiramente no helicóptero presidencial para se asilar na
Rússia, deixando sua renúncia com a Câmara de deputados, que girou 180 graus e
marcou eleições para maio de 2014.
Dilma poderia entrar no NetFlix e assistir ao documentário "Winter On Fire
Ukraine's Fight For Freedom", legendado.
Fonte: "Ex-Blog do Cesar Maia"
Nenhum comentário:
Postar um comentário