Por Reinaldo Azevedo
Luiz Inácio Lula da
Silva e Marisa Letícia não vão mais depor nesta quarta sobre o polêmico tríplex
do Guarujá, no edifício Solaris. Os respectivos depoimentos da dupla estavam
marcados para às 11 horas e 13 horas no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, mas foram
suspensos por liminar concedida por Valter Shuenquener de Araújo, membro do
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), atendendo a pedido encaminhado
pelo deputado petista Paulo Teixeira (SP).
Já houve um tempo em
que, em situações assim, Lula se comportaria como o garoto da poesia "Meus Oito
Anos", de Casimiro de Abreu: iria com "a camisa aberta ao peito, pés descalços,
braços nus". Hoje, o Apedeuta é obrigado a mobilizar uma tropa de criminalistas,
tem de contar com a artilharia dos deputados petistas e precisa se esconder. Ou
por outra: Lula sabe que dar um jeito de não depor corrói um pouco mais a sua
imagem. Mas isso significa também quem ele tem a certeza de que falar seria
ainda pior. Lula e Marisa estão com medo.
Teixeira encaminhou
mais do que um pedido ao CNMP. Ele enviou um enorme chororô que demonstra,
adicionalmente, o ódio que tem - e que contamina todo o seu partido - pela
imprensa livre. A íntegra de sua petição está em http://s.conjur.com.br/dl/representacao-cnmp-paulo-teixeira.pdf.
Uma parte da
argumentação do deputado apela à questão técnica. Diz ele que a denúncia está
em fase de instrução na 5ª Vara Criminal do Fórum Criminal de São Paulo e que
ato normativo impõe que dela se encarregue a 1ª Promotoria de Justiça. O
promotor do caso, Cássio Roberto Conserino, é da segunda. Isso violaria o
princípio do promotor natural.
Teixeira não parou
por aí. Alega que, ao afirmar em entrevista à VEJA que iria, sim, denunciar
Lula e Marisa, Conserino antecipou uma decisão à revista. Até aí, vá lá,
eu mesmo já disse que ele não deveria tê-lo feito - à revista, que se registre,
cabe publicar. Um veículo de comunicação não é guardião de sigilo nem bedel de
promotor.
O que é
estupefaciente é o juízo de valor que Teixeira faz sobre a VEJA. Segundo ele,
trata-se de um "veículo de imprensa notoriamente engajado na persecução pessoal
e política do ex-presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores".
A VEJA só pode
receber como elogio a opinião que dela tem Paulo Teixeira, não é mesmo? Ora,
pense um pouquinho: tente-se lembrar, ou recorra ao arquivo, de todas as
reportagens que a revista publicou sobre os desmandos petistas. À luz do que se
sabe, quem estava falando a verdade? A VEJA ou o PT?
O ridículo chega a
seu estado da arte quando Teixeira infere que houve uma relação de troca.
Segundo ele, "O Reclamado (Conserino) teve por objetivo, nitidamente, agradar
os donos e responsáveis pela revista, em troca de um espaço de promoção pessoal
que lhe foi efetivamente concedido".
Como, no PT, quem
tudo decide é o dono - vale dizer: Lula -, Teixeira imagina que o mesmo se
passe na VEJA. Este senhor desconhece o fundamento da independência editorial
porque deve estar acostumado a lidar com os ditos "blogs sujos" - que hoje
adotam tal designação sem nenhuma vergonha; são mesmo uns sem-vergonhas -, que
fazem seu jornalismo de joelhos para o PT.
Segundo Teixeira,
todo mundo agora que conceder uma entrevista a um veículo de comunicação estará
fazendo uma troca com o dono. Quando Dilma falar a algum jornal, a alguma
revista ou a alguma TV, vamos perguntar quais foram as benesses trocadas.
Teixeira é um notório
militante em favor da descriminação da maconha. Mas vou apostar que estivesse
sóbrio quando redigiu seu trololó. Acho que ele não precisa queimar um mato
para escrever besteira.
Shuenquener de Araújo
não entrou no mérito nem fez considerações sobre a argumentação de Teixeira.
Apenas suspendeu os depoimentos em caráter liminar - e nem havia a certeza de
que o casal compareceria - para que seja examinado, então, pelo plenário do
Conselho.
Segundo o
conselheiro, o centro de sua decisão busca evitar uma eventual nulidade da
apuração caso exista mesmo o erro formal apontado, relativo à distribuição. Até
aí, vá lá.
Mas há também uma
consideração inaceitável. Segundo Shuenquener de Araújo, a notícia de que
grupos favoráveis e contrários a Lula estariam prontos a se manifestar poderia "comprometer o regular funcionamento e a segurança" do local. Aí não dá!
Milícias do petismo sempre estarão mobilizadas para defender a impunidade de
seus líderes.
Serão elas agora a
definir quando um petista presta e quando não presta depoimento?Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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