Por Reinaldo Azevedo
Na próxima quinta, na Bahia,
começa o 5º Congresso do PT, que se estende até sábado. Os companheiros queriam
a presidente Dilma Rousseff logo na abertura, para que ela pudesse ouvir
palavras de ordem contra Joaquim Levy, ministro da Fazenda. A mandatária houve
por bem incluir-se fora dessa. Vai dar uma passadinha lá na sexta ou no sábado.
É o previsto. Com um pouco mais de prudência, fica no Palácio da Alvorada,
lendo Gilberto Freyre e Sílvio Romero. A grande estrela do evento será mesmo
Luiz Inácio Lula da Silva. Como sempre. E mal se pode esperar para ouvir as
suas explicações.
Laudo da Polícia Federal demonstra que, entre 2011 e 2013, a
Camargo Correa, uma das principais investigadas do caso Lava Jato, repassou
para o instituto Lula nada menos de R$ 3 milhões. A mesma empresa depositou na
conta da LILS Palestras, Eventos e Publicidade, que também pertence ao Poderoso
Chefão petista, mais R$ 1,527 milhão. Ao todo, sabe o leitor fazer a conta,
foram R$ 4,527 milhões.
Muito bem! Digamos que Lula realmente fosse o palestrante mais
caro do mundo, e a bolada em sua empresa privada tivesse decorrido de sua
cascata metafórica, de seu otimismo bronco e de sua disposição para oferecer,
em palestras, respostas simples e erradas para problemas difíceis,
parafraseando o jornalista americano H. L. Mencken. Como explicar, no entanto, os
R$ 3 milhões ao Instituto Lula?
No encontro da Bahia, é bem provável que o PT tenha a cara-de-pau
adicional de vituperar contra o financiamento privado de campanha, em defesa do
financiamento público. A tese esdrúxula, como sabem, é hoje majoritária no STF - caso os ministros não mudem de ideia. Eis aí o que se esconde por baixo da
inocência dos magistrados - inocência da maioria ao menos: o PT, como já
escrevi aqui tantas vezes, adoraria que a lei proibisse as doações privadas
porque ele próprio dispõe de muitos outros instrumentos para, como dizer?,
captar dinheiro no mercado. Suponhamos ainda que a Camargo Correa tenha feito
uma doação ao instituto. Por quê? Afinidade de propósitos? A empreiteira também
aposta no socialismo, como os companheiros dizem apostar?
Que explicação Lula tem a dar no 5º Congresso do PT? E que se
note: a Camargo Correa é apenas uma das investigadas. Dalton Avancini e Eduardo
Leite, dois executivos da empreiteira, já fizeram acordo de delação premiada e
confirmaram que, ao longo de seis anos, a empresa pagou R$ 110 milhões em
propina: R$ 63 milhões para a Diretoria de Serviços, que era comandada pelo
petista Renato Duque, e R$ 40 milhões para a de Abastecimento, de Paulo Roberto
Costa, que pertencia à cota do PP.
Segundo a PF, entre 2008 e 2013, a empresa doou para campanhas
eleitorais R$ 183,79 milhões, distribuídos em diversas legendas, e outros R$ 67
milhões para o lobista Júlio Camargo, que, também em delação, afirmou ter
repassado R$ 40 milhões para Fernando Baiano, operador do PMDB.
Os números sempre despertam a tentação de dar um murro na mesa: "Proíbam-se as doações privadas…" É mesmo? E quem vai impedir uma empresa de
transferir alguns milhões para coisas como a LILS e o Instituto Lula, ambos
controlados pelo Babalorixá de Banânia?
Volto a um ponto no qual tenho insistido, ainda que alguns bobos
não entendam - ou finjam não entender: é a existência de um cartel que permite
que Lula se mova com tanta desenvoltura, seja por meio do instituto que leva
seu nome, seja por meio da sua empresa de palestras? Tenham a santa paciência,
não é? Eu jamais afirmei ou sugeri que as empresas são vítimas nessa história
toda. Eu sustento, isto sim, é que elas se organizaram para conviver
organicamente com um sistema apto a extorquir o empresariado que presta
serviços ao Estado. E este se deixou levar gostosamente porque a maquinaria
também lhe era vantajosa. Uma coisa é certa: quem não aderisse às práticas
consagradas estava fora do negócio. Isso não absolve ninguém. Apenas põe as
coisas nos seus devidos termos.
Sim, claro!, Lula também poderá alegar que dava, sei lá,
consultoria, palestras e que seu instituto arrecadava dinheiro para distribuir
às criancinhas pobres ou pensar os caminhos do socialismo na América Latina. O
que não se explica é por que as empresas mais generosas nessas ofertas eram
justamente aquelas que dependiam da boa-vontade dos companheiros para exercer
as suas funções.
Bem, agora perguntas que gritam: não se vai nem mesmo pedir a
abertura de um inquérito para apurar as circunstâncias dessas doações? A
propósito: José Dirceu, por acaso, está na mira por algo muito diferente? Se
ele é um investigado, por que não Lula?
Ah, sim: os trouxas que não receberam R$ 4,527 milhões começarão a
gritar nas redes sociais o famoso: "Lula é meu amigo/ mexeu com ele,/ mexeu
comigo?"
Eis o homem que, de vez em quando, resolve ameaçar o processo
político: "Olhem que eu volto a disputar…" Volte, sim, Lula! Volte mesmo!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário