Por
Reinaldo Azevedo
Há
coisas que não têm meio-termo. Ou são ou não são. Ou o ministro da Previdência
Social, Carlos Gabas, fala a verdade, e Dilma tem de vetar a nova fórmula de
aposentadoria aprovada pelo Congresso - aquela em que a soma de tempo de
contribuição e idade tem de alcançar 85 para mulheres e 95 para homens -, ou
ele está mentindo, tem de ser demitido, e a presidente sanciona a mudança.
Por
que digo isso? Em entrevista coletiva, depois de se reunir com centrais
sindicais, o ministro afirmou que a fórmula 85/95 começaria a inviabilizar a
Previdência desde já porque haveria antecipação de aposentadoria. Que haveria,
ah, isso haveria; se iria mesmo tornar inviável, não sei. Quem conhece a área
diz que seria um desastre.
E
por que é assim? Fácil compreender. O fator previdenciário, aprovado em 1999,
no governo FHC, quando os gastos com a Previdência ultrapassaram a arrecadação,
criou uma fórmula para desestimular as mulheres de se aposentar antes dos
60, e os homens, antes dos 65.
Dado
o modelo aprovado no Congresso, um homem que começasse a trabalhar aos 17, o
que é muito frequente, poderia se aposentar aos 56. Por quê? Simples: nessa
idade, ele teria contribuído por 39 anos. Trinta e nove mais 56 somam 95.
Começando aos 17, uma mulher se aposentaria aos 51: contribuiria por 34 anos,
que, somados aos 51, resultam em 85. Vale dizer: para quem começasse a
trabalhar aos 17, a aposentadoria ocorreria nove anos antes em relação ao
modelo que está em vigor.
A
reunião com as centrais sindicais resultou inútil. O governo estuda alguma
fórmula intermediária, mas ainda não sabe qual. Uma das possibilidades é
sancionar a emenda feita à MP como está e depois tentar uma regulamentação. Mas
nada indica que os sindicalistas não entrassem de novo em pé de guerra.
Eis
aí: essa é a hora em que Dilma precisaria contar com um PT unido, mas fatias
consideráveis do partido já deixaram claro que, se a presidente vetar a fórmula
85/95, votarão pela derrubada do veto. Disse o ministro: "A presidente ainda
não tomou decisão. Ela tem até quarta-feira para fazê-lo. Ela é muito
cuidadosa, não só com o cenário político, mas com o cenário das contas da
Previdência Social e com as contas da União".
Pois
é… A ser assim, tem de vetar. Mas isso implicaria dizer "sim" ao fator
previdenciário, aprovado no governo FHC, contra o qual o PT lutou bravamente,
embora não tenha feito nada para derrubá-lo em 13 anos de poder. Demorou, mas
chegou a hora da verdade. É bem possível que os petistas prefiram quebrar o
país a admitir que os adversários estavam certos.
Dilma
tem até amanhã para decidir.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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