Por Reinaldo Azevedo
Dilma
Rousseff espalhou sobre si mesma, ou alguém o fez por ela, a fama de leitora
voraz. Lula, ao contrário, nunca quis se misturar com os livros. "Ler dá sono",
ele sentenciou certa feita. Depois do discurso que fez a presidente nesta
terça, na cerimônia de lançamento da primeira edição dos Jogos Mundiais dos
Povos Indígenas, tenho de concluir que é melhor um petista dormindo do
que ministrando aula de antropologia amadora. Os tais jogos ocorrerão em
Palmas, no Tocantins, entre 20 de outubro e 1º de novembro. A presidente estava
mesmo com Anhangá no corpo.
A mulher já cansou dessa conversa de ter de governar o Brasil.
Joaquim Levy cuida da economia, e os peemedebistas têm de tourear os petistas
na política. A ela sobrou o quê? O vasto terreno da reflexão. E ela mandou
brasa nesta terça, na cerimônia havida no estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Cantou as
glórias da mandioca. Destaco um trecho transcrito em reportagem da Folha: "Nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação,
e, aqui, nós temos uma, como também os índios e os indígenas americanos têm a
deles. Temos a mandioca, e aqui, nós estamos e, certamente, nós teremos uma
série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a
civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu tô saudando a
mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil".
Tudo isso saiu, assim, de repente, num supetão, em reflexão
certamente originalíssima. Um índio que estivesse com a cara cheia de cauim, a
bebida de mandioca fermentada que deixava os nativos doidões, não teria
produzido nada melhor. Ela não parou por aí, não. Resolveu evocar a Grécia
antiga, relata o Estadão:
"Foi em torno da paz que se recompôs aquilo que era a tradição grega que é transformar os jogos em um momento de união. Transformamos em um momento especial uma fase difícil do mundo que foi o entre guerras". O barão Pierre de Coubertin se revirou no túmulo, né? Os primeiros jogos olímpicos da era moderna se deram em 1894, não no período entre guerras.
"Foi em torno da paz que se recompôs aquilo que era a tradição grega que é transformar os jogos em um momento de união. Transformamos em um momento especial uma fase difícil do mundo que foi o entre guerras". O barão Pierre de Coubertin se revirou no túmulo, né? Os primeiros jogos olímpicos da era moderna se deram em 1894, não no período entre guerras.
Que diferença faz? Anhangá estava no comando. Dilma discursou
segurando uma bola feita de folha de bananeira. Havia chegado a hora da poesia
antropológica. Refletiu então:
"Aqui tem uma bola, uma bola que eu acho que é um exemplo. Ela é extremamente leve, já testei aqui, testei embaixadinha, meia embaixadinha… Bom, mas a importância da bola é justamente essa, é símbolo da capacidade que nos distingue".
"Aqui tem uma bola, uma bola que eu acho que é um exemplo. Ela é extremamente leve, já testei aqui, testei embaixadinha, meia embaixadinha… Bom, mas a importância da bola é justamente essa, é símbolo da capacidade que nos distingue".
Não entendeu nada, leitor amigo? Vem a explicação:
"Nós somos do gênero humano, da espécie sapiens, somos aqueles que têm a capacidade de jogar, de brincar, porque jogar é isso aqui. O importante não é ganhar e sim celebrar. Isso que é a capacidade humana, lúdica, de ter uma atividade cujo o fim é ele mesmo, a própria atividade. Esporte tem essa condição, essa bênção, ele é um fim em si. E é essa atividade que caracteriza primeiro as crianças, a atividade lúdica de brincar. Então, para mim, essa bola é o símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens".
"Nós somos do gênero humano, da espécie sapiens, somos aqueles que têm a capacidade de jogar, de brincar, porque jogar é isso aqui. O importante não é ganhar e sim celebrar. Isso que é a capacidade humana, lúdica, de ter uma atividade cujo o fim é ele mesmo, a própria atividade. Esporte tem essa condição, essa bênção, ele é um fim em si. E é essa atividade que caracteriza primeiro as crianças, a atividade lúdica de brincar. Então, para mim, essa bola é o símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens".
Por Tupã! Nós, os humanos modernos, somos do gênero "Homo", da
espécie "Homo sapiens", da subespécie "Homo sapiens sapiens". Dilma fez uma
salada taxinômica que resultou no que só pode ser um gracejo, a "mulher
sapiens", já que "homo" de "Homo sapiens sapiens" não se refere nem a homem nem
a mulher - na verdade, nem ao ser humano como o conhecemos, que pertence ao
gênero “homo”, mas não é o único. Antes houve o Homo neanderthalensis, o Homo
habilis, o Homo erectus, que ainda não cultivava a mandioca…
O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que tem o apelido de "Índio", estava entre os presentes. Dilma resolveu exaltar as suas qualidades
adivinhatórias, já que meio indígena: "Se ele pular uma janela, pode pular
atrás porque pode ter certeza de que ele achou alguma coisa absolutamente
fantástica".
A humanidade estava preparada para tudo, menos para o surgimento
de uma derivação teratológica do "Homo sapiens sapiens", que é o "Homo sapiens
stultus", o humano tipicamente petista, capaz de dizer e de fazer as mais
grotescas estultices.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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