Por Reinaldo Azevedo
O ministro José Eduardo Cardozo engana com aquela
aparência de urbanidade. É uma das faces cordiais da truculência do
petismo. Quem o conhece de perto não se surpreende que tenha feito reunião
com o advogado de uma das empreiteiras para, digamos, dar uma direção política
para o caso.
A sua atuação na investigação da formação de cartel
para a compra de trens em São Paulo e Brasília chegou a ser examinada pela Comissão de Ética da Presidência da
República. Até ela! O caso é escabroso. Um documento apócrifo - descobriu-se
depois que o autor é ex-diretor da divisão de transportes da Siemens Everton
Rheinheimer - com acusações contra secretários do governo Geraldo Alckmin
surgiu nas mãos do então deputado estadual do PT, Simão Pedro, hoje secretário
de Serviços de Fernando Haddad. O documento, em seguida, foi parar no Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica), presidido pelo petista Vinicius
Carvalho - que já havia sido subordinado de… Simão Pedro!
Dali, o papelucho foi parar nas mãos de Cardozo,
que o repassou à Polícia Federal, que decidiu abrir um inquérito. Ou por outra:
o ministro funcionou como um repassador de denúncias apócrifas. Pior: não existe
protocolo de entrada do documento na PF. A coisa assumiu ares de estado
policial mesmo. Nota: no dia 10, a Primeira Turma do STF arquivou o pedido
feito pela Procuradoria-Geral da República para investigar o deputado federal
Rodrigo Garcia (Democratas-SP) e o ex-deputado federal José Aníbal (PSDB-SP),
atualmente suplente de senador. Eram dois dos acusados no documento apócrifo
que Cardozo passou adiante.
Já fiz um levantamento neste blog demonstrando como
Cardozo colaborou, por atos e omissões, para que as jornadas de junho de 2013
degenerassem em violência. O post está aqui. Inicialmente,
o Governo Federal apostava que a bomba dos protestos explodiria no colo de
Geraldo Alckmin. Deu tudo errado. Não só isso: no Ministério da Justiça,
Cardozo se comportou como um chefe de facção, hostilizando permanentemente a polícia
de São Paulo.
Reportagem de setembro do ano passado da VEJA
informa que, no dia 5 daquele mês, a mando de Cardozo, Paulo Abrão, secretário
nacional de Justiça, encontrou-se com o delegado Leandro Daiello,
superintendente da Polícia Federal, para colher informações sobre o Inquérito
1209/2012, que apurou suspeitas de corrupção no Ministério do Meio Ambiente
quando Marina Silva era ministra, em benefícios que teriam sido concedidos à
empresa Natural Source International. Entre os investigados, estava o empresário
Guilherme Leal, que apoiava a candidata do PSB à Presidência. Atenção! O
inquérito já tinha sido arquivado por falta de provas, a pedido do Ministério
Público. Não custa lembrar: no começo de setembro, Marina aparecia à frente de
Dilma em simulações de segundo turno.
Abrão disse que estava apenas querendo saber em que
pé estava a coisa porque "uma revista" - ??? - estaria fazendo uma reportagem a
respeito e o havia procurado. Revista??? Abrão trabalha para a publicação? É "foca" do veículo? Está na folha de pagamentos? Se apenas quisesse informações,
por que foi pessoalmente à sede da PF? Não bastava um ofício? Teve de manter um
encontro que nem estava na agenda do superintendente da PF?
Leiam o farto material que a revista VEJA traz das
alucinações em curso nos bastidores do governo. Com a morte de Márcio Thomaz
Bastos, foi-se, de fato, o grande mago das operações para inocentar o PT.
Bastos servia ao regime exemplarmente, mas tinha uma qualidade que até os
adversários reconhecem: fazia a defesa de suas causas e clientes sem procurar
incriminar inocentes ou fazer vítimas "do outro lado". Está morto. Sobrou José
Eduardo Cardozo. Que, obviamente, jamais será Bastos na vida não porque lhe
sobrem qualidades, mas porque lhe faltam.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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