Por Reinaldo Azevedo
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aplicou mais uma
derrota às pretensões do Palácio do Planalto. Uma boa derrota, note-se. Por
votação simbólica, a Casa aprovou o projeto do deputado Mendonça Filho
(Democratas-PE), que cria uma carência de cinco anos para que uma legenda possa se
fundir a outras. Mas não e só isso. A proposta proíbe também que um novo
partido seja aquinhoado com o tempo de TV e a fatia do Fundo Partidário
correspondente aos parlamentares que mudarem para a nova sigla. O texto segue
para o Senado, onde não deve enfrentar resistências.
A mudança atinge em cheio as
pretensões de Gilberto Kassab (PSD), ministro das Cidades. Ele vem se
movimentando freneticamente nos bastidores para criar o PL (Partido Liberal).
Com a legislação ora em vigor, seria mel na sopa. O PL abrigaria parlamentares
das mais diversas siglas - mas ele está de olho, mesmo, é no PMDB -, levaria
tempo de TV e verba e, uma vez constituído, haveria a fusão com o PSD. Kassab
sonha em ter um PMDB para chamar de seu. A pretensão não era pequena, não! Ele
queria formar o maior partido da Câmara.
O texto aprovado, depois de
receber emendas, acabou ficando até mais duro do que o original. Segundo a lei
atual, é preciso que o correspondente a 0,5% do eleitorado que votou na eleição
anterior para a Câmara apoie a criação de nova legenda. Hoje, isso significa
500 mil assinaturas. Pois bem: na proposta ora aprovada na Casa, essas pessoas
não poderão ter filiação partidária. As mudanças também podem trazer
dificuldades para a Rede, de Marina Silva.
O que eu acho do texto? Apoio
integralmente. Não deixa de ser uma piada que o governo que diz querer fazer a
reforma política se lance, ao mesmo tempo, numa patuscada que incentiva o
troca-troca partidário de maneira desavergonhada. De resto, vamos torcer para
Kassab entrar para o livro dos recordes como, deixem-me ver, o político que
mais contribuiu para tirar brasileiros de áreas de risco. Que tal? Ficaria bem
a um ministro das Cidades. E seria um ganho aos brasileiros. O que não ficaria
bem seria entrar para o Guinness como o maior criador de partidos do mundo, não
é? Não parece sério. E não é sério.
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