Por Josias de Souza
Francisco Rocha, o Rochinha, é um petista de mostruário. Preside
a Comissão de Ética do PT e coordena a corrente majoritária da legenda, à qual
pertence Lula. Na quinta-feira, 19, ele veiculou no site do partido um artigo que expõe o drama
do petismo. No texto, ele diz que Dilma Rousseff não pode jogar o peso da crise
econômica sobre os ombros dos trabalhadores.
Rochinha resumiu o que chamou de
'X da questão' nos seguintes termos: "O PT, que nasceu do meio das classes
sociais dos pobres, operários, comunidades, não pode sair dos trilhos da
esquerda. Um governo, seja ele qual for, eleito pelo Partido dos Trabalhadores
e por outros partidos de esquerda, especialmente no caso da reeleição da
presidenta Dilma no segundo turno, não pode, em hipótese alguma, jogar o peso
da crise econômica - criada sobretudo por ganância de especuladores financeiros
- nas costas do povo pobre e trabalhador."
O artigo de Rochinha foi ao ar
na Internet no mesmo dia em que Dilma recebeu no Planalto, fora da agenda
oficial, os ministros Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e
Carlos Gabas (Previdência). A presidente discutiu com os três a tramitação
legislativa das medidas provisórias 664 e 665, contra as quais o PT de Rochinha
se insurge. São aquelas medidas que dificultam o acesso dos trabalhadores ao
seguro desemprego, ao abono salarial, à pensão por morte e ao auxílio doença.
Dilma preocupou-se em afinar o
discurso com os ministros porque o governo terá de sair da toca na semana que
vem para convencer seus apoiadores no Congresso a aprovar os ajustes. A
presidente deseja que Levy, Gabas e especialmente Barbosa auxiliem os
operadores políticos do Planalto nos encontros que terão com líderes dos
partidos governistas.
Ecoando um discurso feito pelo
presidente do PT, Rui Falcão, na festa de aniversário de 35 anos da legenda,
Rochinha sugere que o governo lance um olhar para fora do Legislativo. "É
preciso manter diálogo constante com as classes sociais, movimentos sindicais
ao lado daqueles que em boa parte foram os principais responsáveis pelo
crescimento do partido e sustentação dos governos Lula e Dilma."
Dilma esgrime a tese segundo a
qual seu governo não está suprimindo direitos, mas corrigido
"distorções" que oneram os benefícios sociais. Espera economizar R$
18 bilhões. Sem consultar a calculadora, Rochinha acha que dinheiro poderia ser
retirado de outro lugar:
"Reconhecemos as
dificuldades que o Brasil e o mundo passam em relação à economia, mas chegou a
hora de nos mobilizarmos para fazer com que o preço da crise econômica do
Brasil seja pago por aqueles que acumularam grandes fortunas às custas da mão
de obra da classe trabalhadora." Ele quer taxar os "ricaços do Brasil".
De acordo com a mais recente
pesquisa do Datafolha, 60%
dos brasileiros acham que Dilma mentiu na campanha presidencial. Desse total,
46% avaliam que a candidata disse mais mentidas do que verdades. E 14% acham
que ele vocalizou apenas mentiras. Sem fazer menção à sondagem, Rochinha toma
as dores dos eleitores que deram mais quatro anos de mandato para Dilma.
Na visão do dirigente petista,
Dilma foi reeleita com os votos "de esquerda e progressistas que, mesmo
não fazendo parte do PT, foram para as ruas defender um projeto de inclusão
social" iniciado sob Lula há 12 anos. Agora, escreve Rochinha, "doa a
quem doer, o PT precisa assegurar para essa camada da população que seus
esforços não foram em vão."
Rochinha indica o caminho a
seguir: "É preciso mostrar para o povo, que não haverá desvio, e que o
partido e o governo se manterão nos trilhos a qualquer custo, comprometidos com
os direitos sociais e orientados pela ideologia de esquerda."
Por alguma razão que a lógica
desconhece, o coordenador da corrente majoritária do PT acredita que um governo
que tem em Renan Calheiros (PMDB-AL) um de seus pilares de sustentação
legislativa pode se considerar "de esquerda'". Por algum outro motivo
que foge à compreensão, Rochinha também ignora que toda ideologia precisa ser
baseada num orçamento. O mais dramático é que Rochinha não está só. Ele traduz
o pensamento médio do PT.
Fonte: "Blog do Josias"
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