Por Reinaldo Azevedo
A gente
precisa tomar cuidado com os juízos que faz, não é?, para não cair vítima do
mal que denuncia. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não compõe
exatamente o meu perfil de super-herói. Mas eu abandonei essa bobagem faz
tempo. Os colunistas a serviço do PT agora deram para acusar o seu oportunismo.
É mesmo? Não importa a proposta que faça, sempre haveria algum interesse
subjacente. Bem, para que essa crítica seja válida, será preciso demonstrar que
os que se opõem a ele só se preocupam, como diria o poeta, com substantivos
celestes. Quem, afinal, não tem interesses a defender por ali? Então ficamos
assim: entre os interesses vários, a gente escolhe o que for melhor para o
país. Os pessimistas incorrigíveis ou os católicos escolham, como fundamento
ético, o mal menor. Por que essa introdução escrita com alguma galhofa e
melancolia, como diria aquele?
Na próxima
quarta, Cunha quer pôr em votação o projeto do deputado Mendonça Filho
(DEM-PE), que cria empecilhos à fusão de partidos. Ela seria permitida apenas
cinco anos depois da criação das legendas. Alvo número um: o tal PL (Partido
Liberal), que está em gestação no ventre do Ministério das Cidades, cujo
titular é Gilberto Kassab. Quando na Prefeitura de São Paulo, ele deu à luz o
PSD.
A manobra
de Kassab, todo mundo sabe, interessa ao governo. Como um parlamentar corre o
risco de perder o mandato se migrar de forma imotivada para outra legenda,
achou-se uma saída: uma nova agremiação poderia recebê-lo. É claro que o Planalto
apoia a movimentação de Kassab. O PL abrigaria parlamentares que estão hoje na
oposição e outros tantos do PMDB. Fundido ao PSD, o sonho grande é se tornar,
quem sabe?, a segunda sigla da Câmara, desbancando os peemedebistas. Acho a
pretensão exagerada, mas a ambição existe.
É claro que
ao PMDB não interessa a criação da nova legenda. O partido perderia poder de
fogo e de negociação. A chance de que a restrição seja aprovada é grande. Cunha
já demonstrou que tem cacife para derrotar o governo. E aí cabe a pergunta:
estará o presidente da Câmara sendo oportunista? Quem sabe… Mas e Kassab? Bem,
nesse caso, não cabe nem a dúvida.
Assim, se
estamos numa mera disputa de interesses, cabe perguntar: o que é melhor para o
país? Criar partidos com a facilidade com que se toma um Chicabon ou coibir um
pouco a sem-vergonhice? Respondo: coibir um pouco a sem-vergonhice. Se Cunha
apoia ou não; se é ou não do seu interesse, eis uma questão que só é relevante
para os petistas e os kassabistas. E eu não sou nem uma coisa nem outra.
Logo,
espero que a proposta de Mendonça Filho vá mesmo a votação e seja aprovada. Eu
sou, como sabem, um fanático da economia de mercado, mas sou contra a economia
de supermercado no Congresso. Esse negócio de pegar parlamentar na gôndola e passar
no caixa não é bom para o país.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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