Por Reinaldo Azevedo
Graça
Foster e quase toda a diretoria da Petrobras pediram demissão. Até agora, só
José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e um dos "Três Porquinhos" da Dilma
Rousseff de 2010, não assinou a carta de renúncia. Só para refrescar a memória:
ele foi um dos coordenadores da primeira campanha presidencial da petista, ao
lado de José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça, e de Antonio Palocci.
A então candidata os apelidou de seus "Três Porquinhos". Então tá. Ela devia
ter os seus motivos.
No
Facebook, o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), publicou a seguinte
mensagem sobre a saída de Graça:
"O
curioso na saída de Graça Foster da presidência da Petrobras é que depois de
mais de um ano fazendo de tudo para proteger a presidente da República, sua
amiga Dilma Rousseff, a presidente Graça Foster resolveu falar a verdade e, há
poucos dias, admitiu no balanço da empresa uma perda de ativos de mais de R$ 88
bilhões. No mesmo momento, admitiu um prejuízo de mais de R$ 2,5 bilhões pelo
início das obras feitas irresponsavelmente nas refinarias do Ceará e do
Maranhão. Falar a verdade não faz bem a ninguém neste governo".
Em
parte, claro!, Aécio tem razão. Tenho cobrado há quase um ano a saída de Graça
Foster - e de toda a diretoria da Petrobras - em razão de seus defeitos. Mas há
uma possibilidade de que ela tenha caído em razão de suas virtudes. De todo
modo, é evidente que há muito Graça havia perdido a condição de permanecer no
cargo. A reação da Bolsa de Valores diz tudo. A permanência da atual diretoria
acabaria levando a empresa à lona. Aliás, está bem perto disso, não é mesmo?
Vamos
ver quem vai aceitar o desafio. Um monte de gente séria está declinando do
convite. Espero que se chegue a bom termo. É preciso que seja uma equipe que
inspire credibilidade; que, a um só tempo, tenha conhecimento da área e não
esteja disposta a servir de esbirro de um projeto político.
Por
que as pessoas correm do convite para comandar a Petrobras? Porque nunca sabem
quando vão esbarrar em anéis burocráticos na empresa contaminados pela sujeira
política. Ora, tomemos José Sérgio Gabrielli: ele diz, por exemplo, que
ignorava toda a roubalheira. Curiosamente, tem passado mais ou menos incólume
pelo furacão. Logo, deve-se concluir que as diretorias de Abastecimento,
Serviços e Internacional - as três enroladas na investigação - gozam de tal
autonomia que se podem roubar bilhões sem que o presidente se dê conta ou mande
investigar. Será mesmo?
Não
que eu acredite em Gabrielli. Não acredito numa vírgula! A empresa, no entanto,
deve ter mecanismos de decisão que tornam o seu discurso ao menos verossímil,
ainda que falso. Logo, a futura diretoria tem de promover uma revolução na
estatal. Vai ser fácil? Ah, não vai mesmo! A melhor síntese pode ser buscada no
pensamento de um ícone da esquerda, não dos conservadores. Prestem atenção: "A
tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos
vivos". E Marx foi adiante, afirmando que, justamente quando algumas forças
parecem empenhadas na mudança, em vez de buscarem o futuro, ancoram-se nas
forças do velho.
E
só para não esquecer: a Operação Lava Jato investiga apenas os desvios na
Petrobras. Como a roubalheira era parte de um sistema, não uma exceção que só
valesse para a estatal, imaginem a limpeza que está a pedir a vida pública e o
estado brasileiros.
Por
bons ou por maus motivos, Graça vai tarde. O que se lamenta é que sua saída não
interfira nos métodos empregados por uma quadrilha para assaltar o estado
brasileiro.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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