Por Reinaldo Azevedo
O Congresso Brasileiro ainda está vivo também para as virtudes.
Essa é uma boa notícia. Avançou a resistência ao decreto bolivariano da
presidente Dilma Rousseff, o 8.243, que institui a chamada Política Nacional de
Participação Social (PNPS) e busca regular a participação de conselhos
populares na administração federal. Nesta terça-feira, a Câmara dos Deputados aprovou
o regime de urgência para o Decreto Legislativo (DL) que busca tornar sem
efeito a medida presidencial. A partir de agora, havendo quórum, o DL pode ser
votado, mas é possível que isso só aconteça depois do recesso branco de julho.
Mais de dez partidos - e isso significa que muitos deles são da base aliada,
como o PMDB - pressionaram para que se aprovasse o regime de urgência nesta
terça. Só o PT e as legendas de esquerda defendem hoje aquela estrovenga.
Vamos ver. Entre muitas, há três maneiras principais de entender o
Decreto 8,243:
a) a apocalíptico-barulhenta;
b) a da Poliana distraída;
c) a realista.
a) a apocalíptico-barulhenta;
b) a da Poliana distraída;
c) a realista.
A apocalíptico-barulhenta pretende que, uma vez em vigência, o
decreto institui definitivamente o comunismo no Brasil, e nada mais se poderá
fazer. Seria o golpe final das esquerdas na democracia representativa. Por
intermédio dele, os esquerdistas tomariam conta da administração e ponto final.
O passo seguinte seria, sei lá eu, o Armagedom ou a luta armada. É uma tolice.
Aliás, os esquerdistas que defendem aquela porcaria vibram quando encontram um
caricato desses pela frente porque não é difícil ridicularizar esse delírio.
Há a leitura das Polianas Distraídas. Essas insistem em afirmar
que o decreto de Dilma, o que é verdade, não cria nenhum conselho novo. E daí?
Só faltava, agora, o Executivo criar também os conselhos por iniciativa
unipessoal da chefe do Executivo. Aí estaríamos numa monarquia absolutista.
Esses distraídos também dizem que a participação popular está prevista na
Constituição e que não há nada de errado nisso.
E há a versão realista. O PT não vai instituir, obviamente, o
comunismo no Brasil porque, pra começo de conversa, nem comunista é. Mas tem
uma visão autoritária do poder e busca, desde que foi criado, tomar conta do
Estado Brasileiro, um processo que, obviamente, está em curso. E, isto sim, não
é difícil de demonstrar.
O que o decreto de Dilma faz de estupidificante, em primeiro
lugar, é definir o que é sociedade civil. Está lá no Inciso I do Artigo 2º: "I - sociedade civil - o
cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não
institucionalizados, suas redes e suas organizações;" É evidente que o "indivíduo", no caso, não existe nesse contexto. Como se daria a sua
participação? Ele teria de, necessariamente, integrar um dos "coletivos" e "movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados", ou suas "redes e organizações", se quisesse ser ouvido. Vale dizer: a chamada
participação popular será monopólio de militantes políticos. Um Congresso
escolhido por 140 milhões de eleitores corre o risco de ser menos influente na
definição de políticas públicas do que alguns poucos milhares de militantes.
E quem é que vai comandar essa coisa? A Secretaria-Geral da
Presidência - hoje, seria Gilberto Carvalho, aquele mesmo que tem conversado
com índios, com os resultados conhecidos; com o MST, com os resultados
conhecidos, e com os black blocs, com os resultados conhecidos.
Ademais, já chamei a atenção para um aspecto especialmente
preocupante do decreto de Dilma. Ele institui uma "justiça paralela" por
intermédio da "mesa de diálogo", assim definida no Inciso VI do Artigo 2º: "Mecanismo de debate e de
negociação com a participação dos setores da sociedade civil e do governo
diretamente envolvidos no intuito de prevenir, mediar e solucionar conflitos
sociais".
Como a Soberana já definiu o que é sociedade civil, podemos
esperar na composição dessa mesa o "indivíduo" e os movimentos "institucionalizados" e "não institucionalizados". Se a sua propriedade for
invadida por um “coletivo”, por exemplo, você poderá participar, apenas como
uma das partes, de uma "mesa de negociação" com os invasores e com aqueles
outros "entes". Antes que o juiz restabeleça o seu direito, garantido em lei,
será preciso formar a tal "mesa"…
É o "comunismo"? Não! Mas se trata de uma óbvia agressão à
propriedade privada. De resto, não cabe a Dilma Rousseff, por decreto,
estabelecer os mecanismos da chamada democracia direta. Isso é tarefa do
Congresso Nacional. A governanta está usurpando uma prerrogativa do Congresso.
Não é o golpe final das esquerdas, mas é mais um golpe da democracia.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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