Por José Casado
Atônito, o secretário-geral
da Presidência da República, Gilberto Carvalho, viu alguém sair da plateia e
depositar um rolo de papel higiênico à sua frente. Foi xingado das mais
variadas formas, na noite de segunda-feira (28 de abril), da semana passada, apenas
porque representava o governo em um debate com jovens ativistas cariocas.
Ele deixou a sede do
Sindicato dos Bancários, antigo bunker do Partido dos Trabalhadores no Rio, sob
vaias e depois de uma frustrada tentativa de diálogo. Sentiu na pele o "problema de imagem" que tem atormentado a cúpula petista, incluído o
ex-presidente Lula.
Carvalho não sabia, mas
àquela altura vivia-se um desconforto no Palácio do Planalto, a 1.500
quilômetros de distância. Tudo porque o líder de um partido aliado, o PR, posou
para fotografias trocando o retrato da presidente Dilma Rousseff pelo de Lula,
com faixa presidencial, na parede do seu gabinete no Congresso.
Quatro dias depois, na
sexta-feira (2/5), Dilma foi a São Paulo para o cerimonial de sagração de sua
candidatura à reeleição. Em reunião com 800 delegados do PT foi recebida com
manifestações de "Volta Lula".
No dia seguinte, sábado
(3/5), viajou a Uberaba (MG) e enfrentou coro similar entoado por uma plateia
diferente, a dos empresários da agroindústria.
A novidade na praça é o
visível isolamento da presidente em plena campanha de reeleição. E o mais
insólito é o fato de que a desconstrução da candidata do PT começou no próprio
partido - dentro da ala majoritária petista que emerge dessa empreitada unida
ao conservadorismo religioso e ao empresariado devoto do capitalismo de laços
com os cofres públicos.
O Partido dos Trabalhadores
organizou a máquina eleitoral mais eficiente do país. Já ganhou três das seis
eleições presidenciais diretas realizadas desde a ditadura e está no poder há
12 anos. No entanto, se mostra vacilante em carregar a sua candidata, a gerente
da herança da era Lula, que transita pelas pesquisas com média de preferência
eleitoral muito superior à que possuía a cinco meses da eleição de 2010. Isso é
absolutamente incomum.
"Não vai ser moleza", disse
Lula na sexta-feira ao anunciar Dilma como alternativa eleitoral do PT neste
ano. Ele sabe, como poucos, que não há dia fácil numa disputa presidencial -
foi candidato durante 17 anos seguidos, de 1989 a 2006. Por isso mesmo, é
notável a complacência com que, nos últimos dez meses, assistiu à passagem da
procissão de petistas e aliados em conspirações para golpear a candidatura
presidencial à reeleição.
Se vencer, Dilma estará na
inédita posição de ter sido reeleita apesar de boa parte do PT e dos aliados.
Como toda vitória ajuda a curar feridas de campanha, talvez atravesse o segundo
mandato empenhada em reconstruir a própria base no PT e adjacências - a
alternativa será arrastar correntes no palácio até o último dia de 2018.
Se perder, Dilma vai para
uma posição singular na história recente: a de presidente-candidata abatida
pelo próprio partido e aliados em pleno voo, mesmo tendo liderado as pesquisas
durante a maior parte da campanha.
Então, Lula deverá voltar
no seu melhor papel de sempre, o de líder da oposição.
Fonte: "O Globo"
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