Por
Ricardo Noblat
Brilham de forma mais intensa os olhos da
maioria dos deputados federais e dos senadores de todos os partidos - alguns
deles do próprio PT.
No final da tarde de ontem, um deputado do
PMDB do Nordeste aproveitou uma roda de colegas na Câmara para cantar baixinho,
feliz, o estribilho de antiga música da dupla Antonio Carlos e Jocafi:
"Você abusou / tirou partido de mim abusou /
tirou partido de mim abusou / tirou partido de mim abusou..."
O alvo de tanta felicidade: a presidente
Dilma Rousseff.
A hora do troco chegou!
Como Dilma imaginou enfrentar o ronco das
ruas?
Jogando nas costas do Congresso o peso das
reclamações.
De sua parte, fez pouco para conter a ira dos
manifestantes. Disse que investirá R$ 50 bilhões em transporte, prometeu
contratar milhares de médicos, até mesmo estrangeiros se necessário, e o que
mais?
Em seguida, sacou da bolsinha de mão o que
imaginava serem três poderosos trunfos: um plebiscito, uma Assembleia Nacional
Constituinte exclusiva e a reforma política.
Por meio de um plebiscito, o povo diria sim
ou não à convocação de uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política
que o Congresso ignora.
O trunfo da Constituinte foi pelo ralo menos
de 24 horas depois. "Para a solução atual, não se faz necessária uma
Constituinte. Ou seja, não se faz necessária romper a ordem jurídica", decretou
Michel Temer, vice-presidente da República.
Juristas de peso deram razão a Temer.
O trunfo do plebiscito começou a perder seu
valor quando Dilma encaminhou, ontem, ao Congresso sugestões para a reforma
política.
O que ela e o PT querem é que os efeitos da
reforma se façam sentir nas eleições gerais do próximo ano, o que poderia
beneficiá-los.
Para isso o Congresso seria obrigado a
aprovar a reforma até 5 de outubro - um ano antes das próximas eleições.
Se isso não for possível, as consequências da
reforma só incidiriam sobre as eleições de 2016.
A Justiça Eleitoral deu a entender que
dificilmente haverá tempo para realizar o plebiscito e aprovar a reforma no
Congresso até o dia 5 de outubro.
O PSB, aliado do governo, defendeu que o
plebiscito coincida com as eleições de 2014.
O PMDB da Câmara dos Deputados não quer ouvir
falar em plebiscito para já. E se puder dará um jeito para que a reforma
política acabe outra vez esquecida.
Em resumo: por tratá-los mal, Dilma abusou
dos políticos.
Por terem sido abusados, e diante da queda
dela nas pesquisas de intenção de voto, eles agem para enfraquece-la ainda
mais.
Está em curso a peleja da amadora contra os
profissionais. O resultado é previsível.
Fonte: "Blog do Noblat"
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