Por Reinaldo Azevedo
São Paulo realiza hoje
mais uma edição da Parada Gay. A imprensa militante - isto é, a antigamente
chamada "grande imprensa" - fala em até 3,5 milhões de pessoas, o que é uma
sandice. No ano passado, o Datafolha mediu o público com critérios técnicos: os
anunciados 2 milhões se reduziram a 270 mil, considerando os curiosos que
ocupam as calçadas. "Paradeiros" mesmo, que fizeram todo o percurso,
estimou-se, ficaram em torno de 65 mil. Ainda assim, é bom notar, é bastante
gente! Mas não são 2 milhões, certo? Isso é número que serve à propaganda,
justificando, ainda que com dados falsos, o peso editorial desproporcional que
jornais, TVs e meios eletrônicos conferem ao evento.
Ao longo da semana,
publicaram-se várias reportagens de apoio: o mercado consumidor gay e a renda
dessa faixa da população; a indústria do entretenimento gay em São Paulo; os
preparativos e coisa e tal. Bem, todo é mais ou menos a mesma coisa. As pautas
ficam arquivadas, e aí é só atualizar o texto com entrevistados novos. Eis que,
no Estadão (e ninguém deveria se surpreender mais com isso) deste domingo, uma
reportagem foge da mesmice e informa: "Diversidade é maior entre casais gays".
É claro que há certa graça involuntária num título - ou terá sido picardia? -
que informa ser maior a diversidade de um casal em que o Zezinho se casa com o
Zezinho, não com a diversa Joaninha…
É que se falava de uma
outra diversidade, a social!!! Ah, bom! Os subprodutos, agora supostamente
acadêmicos, da cultura gay já ultrapassaram o limite da busca por aceitação e
igualdade. Chegou a hora de provar a superioridade moral, intelectual e
política da homossexualidade, no confronto com o que se passou a chamar de "heteronormatividade". Qual e o busílis da reportagem, assinada por Luciano
Bottini Filho e William Castanho? Prestem atenção!
Uniões de homossexuais
registrariam maior variação de idade entre os parceiros (58,59% contra 45,96%
dos héteros), de escolaridade (43,33% contra 37%) e de cor (36,74% contra
29,76%). Os dados foram coligidos pela economista Fernanda Fortes de Lena, da
Universidade Federal de Minas Gerais. Nisso é gasto o nosso dinheiro… Bem, bem,
bem… Como explicar, não é?
Qualquer pessoa dotada
de um mínimo de raciocínio matemático - seja hétero, gay, bi ou assexuado -
entende de imediato a razão de as coisas serem assim: como o universo em que os
gays podem escolher seus parceiros é absurdamente mais reduzido do que aquele
em que os héteros fazem as suas opções, então a condição obrigatória (ser gay)
acaba tornando menos importante as condições ligadas ao mero gosto (idade
parecida, mesma escolaridade ou mesma cor da pele). Ora, a condição exclusiva
do universo em que os héteros selecionam potenciais parceiros é mais ampla do
que a condição excludente - logo, eles podem partir para as exigências seguintes
com muito mais chances de sucesso. Com os gays, dá-se o contrário: a condição
excludente é muito maior do que a exclusiva, e o universo das escolhas se reduz
dramaticamente.
O mesmo se daria -
prestem atenção! - se viciados em Chicabon decidissem se casar só com outros
viciados em Chicabon. Seria preciso deixar de lado outros critérios para, como
dizia meu avô, "arrumar tampa pra binga" - a expressão quer dizer "achar o
devido complemento". Não estou comparando sexualidade com gosto por sorvete.
Estou apenas deixando claro que, quanto menor o universo em que incide a
condição necessária, mais se tende a relaxar nas condições meramente
satisfatórias.
"Ciência"
militante
Não, não, não! Se a coisa é óbvia, a chance de que
seja aceita em certas áreas da universidade brasileira é muito reduzida. A tal
economista Fernanda Fortes de Lena Prefere extrair do evidência dos fatos uma
lição de educação, moral e civismo: "Os
casais gays, em razão de suas características de associação de cor e
escolaridade, contribuem menos para a transmissão de desigualdades na estrutura
social". AHHH, BOM!!!
Sabem aquela ideia
antiga de que, afinal de contas, a heterossexualidade responde, vá lá, pela
continuidade da espécie? Esqueçam. Os héteros contribuem mesmo é para "transmitir a desigualdade na estrutura social". A afirmação desta gigante do
pensamento traz alguns desdobramentos lógicos, a saber:
a: quanto mais casais
gays, então, menos desigualdade na estrutura social;
b: o incentivo à
formação de casais gays seria um estímulo à igualdade;
c: mas esperem…
Imaginemos, sei lá, uma cidade formada por milhões de gays de todos os tipos:
jovens, velhos, ricos, pobres, negros, brancos, mestiços, universitários,
secundaristas… Falo de um lugar em que houvesse um exponencial aumento da oferta
de parceiros. Será que essa dita "diversidade" maior de manteria? Ora…
A psicóloga Adriana
Numan até ensaia a resposta correta - a população reduzida de homossexuais
limita as escolhas -, mas, depois, fica com medo do óbvio e solta uma pérola do
politicamente correta: "Os gays não
precisam copiar os modelos dos heterossexuais; eles criam suas próprias
regras." É? Quais regras? União
civil, casamento e adoção de crianças, tudo indica, significa justamente "copiar as regras", não é? Até mesmo nos casos de inseminação artificial. Mas
atenção para o que vem agora.
"Há
preponderância da valorização da diferença no universo homossexual, e não falta
de escolha. Entre os heterossexuais, existe um ideal romântico, no qual o homem
deve ser um pouco mais velho, e as uniões devem obedecer a certos padrões.
Existem orientações culturais, como se fossem fantasias coletivas".
Quem afirma essas
barbaridades é uma senhora chamada Regina Facchini, antropóloga do Núcleo de
Estudos de Gênero Pagu a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Huuummm…
Entendi! Os heterossexuais participam de uma fantasia coletiva, orientadas pela
cultura. Por alguma razão que a antropóloga deve saber, mas não conta para
ninguém, os homossexuais estariam imunes a esse determinismo cultural. Não sei
se a dona colabora com a causa. Passa a impressão de que o indivíduo decidiu
escolher alguém do mesmo sexo só para demonstrar que não é desses que se deixa
levar pela maioria… Se ela estiver certa, a gente deve acreditar que uma mulher
escolhe um homem um pouco mais velho porque é uma tonta romântica; já o gay que
casa com um parceiro mais maduro o faz para deixar claro que valoriza a
diversidade. Escrevo de novo: quando a Joaninha se casa com o Zezinho, está
apenas reproduzindo a mesmice sem imaginação; se, no entanto, o Zezinho pega o
Zezinho, e a Joaninha, a Joaninha, aí, sim, existe diversidade!!!
Evangélicos
No dia 25 do mês passado, aconteceu no Rio a "Marcha
para Jesus”, promovida por denominações evangélicas. Reuniu, segundo
estimativas da própria Polícia, 500 mil pessoas. Digamos que tenha sido a
metade. É muita gente mesmo assim. O evento foi solenemente ignorado pela
antiga grande imprensa. Era como se aquilo não tivesse acontecido. As marchas
da maconha em São Paulo ou no Rio, que juntam entre 1 mil e 1,5 manifestantes,
sempre mereceram cobertura mais ampla e mais entusiasmada - e invariavelmente a
favor. No dia 5, na quarta-feira, denominação cristãs - e os católicos
também estão sendo convidados - realizarão em Brasília, a partir das 15h, outra
manifestação, desta feita em defesa da liberdade de expressão, da liberdade
religiosa, da família tradicional e da vida - leia-se: contra o aborto. Também
será ignorada? Vamos ver.
Antes que alguns
bobalhões comecem a "bobalhar", deixo claro: não estou contra passeata de
ninguém - embora seja um absurdo realizar o ato gay na Paulista por razões
óbvias. Chegar a pelo menos 10 hospitais da região se torna tarefa impossível.
Cada um faça o que achar melhor, nos limites da lei. A minha questão diz mais respeito
à imprensa do que aos manifestantes; diz respeito aos fatos. Ah, sim: o Félix
da novela ficou inconsolável com essa parte da "igualdade social"….
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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