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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"José Serra, o antiquado"

Por Nivaldo Cordeiro
O artigo de José Serra, ""A nova vanguarda do atraso", publicado no Estadão (dia 12), revela porque ele perdeu as eleições e porque seu partido deixou de ser uma alternativa política e eleitoral para os brasileiros. José Serra continua escravo das velhas e ultrapassadas idéias cepalinas e quer com elas construir um discurso oposicionista, supostamente técnico, contra o que chama de lulopetismo. Serra quer ser a esquerda da esquerda, enquanto que a esquerda o enxerga como a direita da esquerda, por força das administrações do seu partido.
Desde logo digo que o único discurso capaz de tirar o PT do poder é o conservador, na linha do Partido Popular da Espanha ou do Partido Republicano dos EUA. É o tempo de caminhar para a direita. Sobretudo no Brasil, onde o campo esquerdista está completamente congestionado. Até o Guilherme Afif Domingos entrou na canoa que apóia o PT. A bandeira conservadora está sem dono e sem mestre. E ela aponta para o futuro.
No artigo, José Serra insiste no discurso técnico-econômico, quando o que se sobressai diante do eleitorado órfão é o discurso na esfera dos valores. É a bandeira dos costumes que pesa, o combate à tese do aborto, a defesa franca dos valores cristãos, uma consistente defesa da minarquia, o cultivo da sociedade aberta e livre das amarras estatais. Mas tudo isso soaria falso em José Serra. No artigo, até que ele ensaiou ir contra a carga tributária exorbitante paga pela indústria, a seu ver "elevada e distorcida". Com que autoridade um socialista fala contra a carga tributária elevada? Se o PSDB a elevou brutalmente? Se o próprio José Serra é um crente na função distribuidora de renda do Estado?
Essas palavras soam falsas e oportunistas. Seria diferente se o próprio José Serra viesse a público fazer um profissão de fé na economia liberal. No fundo, o artigo não propõe uma redução geral na carga tributária, mas um alívio na indústria, automaticamente elevando-se em outro setores. Isso é aumentar as distorções. O que encantaria o eleitorado é a redução geral na carga tributária, não esse artificialismo que propõe.
José Serra tem o apego cepalino à indústria de transformação, herdada do Partido Comunista Brasileiro. Ora, depois da revolução da informática e das telecomunicações esse discurso, já velho nos anos 50, hoje padece de decrepitude. Uma velharia digna de um museu de paleontologia. Se tem algum apelo emocional para os integrantes da sua geração, para as novas ele não faz sentido algum. Estamos na era dos serviços, que veio para ficar. Vimos o que houve nas últimas décadas: os países desenvolvidos enviaram suas indústrias para a China e mesmo o Brasil fez isso, está fazendo isso. O que agrega valor são os serviços. Ademais, com a carga tributária e a legislação trabalhista estúpida que por aqui temos, mais e mais indústrias serão reinstaladas na China.
A pobreza teórica do Serra é consoante sua proposição política indigente. Basta ler o seguinte trecho: "Ao se desindustrializar, o País está perdendo a sua maior conquista econômica do século 20. Estamos a regredir bravamente à economia primário-exportadora do século 19; a médio e a longo prazos, esse modelo é vulnerável no seu dinamismo, por ser muito dependente do centro (hoje asiático) da economia mundial. Os países com desenvolvimento brilhante têm sido puxados pela indústria, setor que é o lugar geométrico do progresso tecnológico e da geração dos melhores empregos em relação à média da economia". Uma ova: o Brasil perderia se os serviços estivessem estagnados, mas não estão. Esse é um dos fatores legitimadores do PT, que não se colocou no caminho da corrente principal do processo econômico. Por não atrapalhar, ele se legitima.
José Serra, com suas idéias antiquadas, se chegar ao poder pode inaugurar um período obscurantista de intervenção estatal. E quer justificar essa indigência como se portasse uma teoria superior. O que ele tem, na verdade, é velharia que já nasceu velha, extemporânea quando Celso Furtado a trouxe ao mundo. Mais extemporânea ainda nos dias de hoje. José Serra não serve nem para posar de esquerdista.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"

2 comentários:

Thomas disse...

Muito correto o artigo. É por conta de coisas como essas que eu já decidi. Enquanto não aparecer um candidato de direita, é voto nulo, e as esquerdas que se engalfinhem nesse teatro. Eu não participo mais.

Mariana disse...

Pegaram pesado com Serra, desta vez, heim! Um sujeito super inteligente mas que não ousou nem se propõs a questionar uma "mudança de hábito" nessa briga com os petralhas. Estagnou, dançou, diferente de Aécio Neves, que de bobo não tem nada. A briga em 2014 promete ser boa e continuo apostando na oposição, apesar de tudo. A oposição não é só Serra ou quem quer que seja, dentre os políticos; a oposição é mais do que isto, é a consciência de muitos eleitores que não pactuam com um tantão de coisas erradas que acontecem nas esferas federal, estadual e até municipal, com as digitais dos petralhas.