Ruth de Aquino
“Los hermanos” jogam um belíssimo futebol. Como nós, brasileiros, sempre jogamos, antes da era retranqueira de Dunga e Parreira. Mesmo sem Ganso, Neymar e Gaúcho, ainda sonho, na África do Sul, com mais alegria, drible, criatividade e talento. Mas não é só pela bola no pé que eu não torço contra os argentinos. O cinema e a literatura deles são melhores. Nunca disputamos uma só guerra contra a Argentina. Tenho amigos portenhos. E me comove sua dramaticidade.
Perceberam as diferenças culturais entre os anúncios da Copa no Brasil e na Argentina? Nossa publicidade explora com muito humor a rivalidade com os vizinhos. Argentinos cortam “el pelo” longo para poder sambar, afogam as latinhas de cerveja falantes, reservam camisas brasileiras às pressas pelo celular para entrar no estádio verde-amarelo. Já a publicidade da patrocinadora oficial da seleção argentina mostra Deus falando a los hermanos. Todos param nas ruas. O texto vai num crescendo como se fosse um tango. É propaganda nacionalista que explora fundo o sentimentalismo, para rasgar o coração. Eu quase chorei por eles quando vi o anúncio (Veja o comercial da Quilmes "Dios Es Argentino" abaixo).
Não consigo deixar de torcer pela Argentina quando o adversário é qualquer outro que não seja o Brasil. Nem com toda a rivalidade histórica pela hegemonia econômica na América Latina - um jogo que os argentinos perdem hoje de goleada dos brasileiros. Nem com toda a irritação durante décadas diante da ignorância de europeus e americanos, que chamavam a capital do Brasil de Buenos Aires e nos respondiam em castelhano. Nem quando os argentinos, que não convivem com negros, começaram a chamar os brasileiros de “macaquitos”, na final do Sul-Americano em 1937, em Buenos Aires (De Sábato, do Quilmes, foi preso em 2005 por chamar de macaquito Grafite, do São Paulo, na Libertadores). Não parei de torcer pelos hermanos nem depois que Maradona deu um pontapé em Batista e foi expulso, em 1982, na Copa da Espanha - o Brasil ganhou de 3 a 1. Em 1990, um massagista argentino deu água com um pouco de sonífero para o Branco. Mas, quando a Argentina estreou agora contra a Nigéria, torci por eles. A eterna polêmica entre o bufão carismático Maradona e o rei Pelé não me impediu tampouco de admirar o jogo ofensivo de Messi, Higuaín, Tevez e Aguero contra a Coreia do Sul. Quem sabe a goleada argentina ajude a despertar o gigante adormecido de Dunga.
Nenhuma picuinha anula minha admiração e genuína amizade por nossos vizinhos. Não os acho soberbos. Sou muito bem tratada quando vou a Buenos Aires. Eles são profissionais no turismo e na gastronomia. Além de bonitos, os argentinos são galanteadores. Discutem política. Perguntam. São um povo que lê, respeita o idioma e sabe falar, dos pobres à elite. Um país que investiu na educação. Não é por acaso que os geniais Ernesto Sábato, Júlio Cortazar e Jorge Luís Borges são argentinos. E no cinema, hoje, dão de dez nos brasileiros. O filme mais incensado por nós neste ano foi o argentino "O Segredo de Seus Olhos", que ganhou o Oscar de estrangeiros. Por que nosso cinema só tem favela, violência e às vezes um humor pastelão? Onde estão os diálogos inteligentes, a sutileza e os dramas das relações humanas? Estão nos filmes argentinos.
Há também argentinos que torcem pelo Brasil. Alejandro Grimson, professor e pesquisador da Universidad Nacional de San Martín, é um deles. Mas ele reconhece que, de maneira geral, “o único caso em que os argentinos querem o triunfo brasileiro é contra a Inglaterra”. Segundo Grimson, “Brasil e Argentina são países que se deram as costas por muito tempo, cultivam estereótipos mútuos e têm muito a aprender um com o outro”.
Mas, talvez, seja outro o principal motivo que me leva a não torcer contra os argentinos. É porque somos melhores jogadores do que eles. Somos penta. E Pelé sempre foi o rei. Torço para disputar a final contra los hermanos. Não é verdade que os argentinos são italianos que pensam que são ingleses mas falam espanhol?
Perceberam as diferenças culturais entre os anúncios da Copa no Brasil e na Argentina? Nossa publicidade explora com muito humor a rivalidade com os vizinhos. Argentinos cortam “el pelo” longo para poder sambar, afogam as latinhas de cerveja falantes, reservam camisas brasileiras às pressas pelo celular para entrar no estádio verde-amarelo. Já a publicidade da patrocinadora oficial da seleção argentina mostra Deus falando a los hermanos. Todos param nas ruas. O texto vai num crescendo como se fosse um tango. É propaganda nacionalista que explora fundo o sentimentalismo, para rasgar o coração. Eu quase chorei por eles quando vi o anúncio (Veja o comercial da Quilmes "Dios Es Argentino" abaixo).
Não consigo deixar de torcer pela Argentina quando o adversário é qualquer outro que não seja o Brasil. Nem com toda a rivalidade histórica pela hegemonia econômica na América Latina - um jogo que os argentinos perdem hoje de goleada dos brasileiros. Nem com toda a irritação durante décadas diante da ignorância de europeus e americanos, que chamavam a capital do Brasil de Buenos Aires e nos respondiam em castelhano. Nem quando os argentinos, que não convivem com negros, começaram a chamar os brasileiros de “macaquitos”, na final do Sul-Americano em 1937, em Buenos Aires (De Sábato, do Quilmes, foi preso em 2005 por chamar de macaquito Grafite, do São Paulo, na Libertadores). Não parei de torcer pelos hermanos nem depois que Maradona deu um pontapé em Batista e foi expulso, em 1982, na Copa da Espanha - o Brasil ganhou de 3 a 1. Em 1990, um massagista argentino deu água com um pouco de sonífero para o Branco. Mas, quando a Argentina estreou agora contra a Nigéria, torci por eles. A eterna polêmica entre o bufão carismático Maradona e o rei Pelé não me impediu tampouco de admirar o jogo ofensivo de Messi, Higuaín, Tevez e Aguero contra a Coreia do Sul. Quem sabe a goleada argentina ajude a despertar o gigante adormecido de Dunga.
Nenhuma picuinha anula minha admiração e genuína amizade por nossos vizinhos. Não os acho soberbos. Sou muito bem tratada quando vou a Buenos Aires. Eles são profissionais no turismo e na gastronomia. Além de bonitos, os argentinos são galanteadores. Discutem política. Perguntam. São um povo que lê, respeita o idioma e sabe falar, dos pobres à elite. Um país que investiu na educação. Não é por acaso que os geniais Ernesto Sábato, Júlio Cortazar e Jorge Luís Borges são argentinos. E no cinema, hoje, dão de dez nos brasileiros. O filme mais incensado por nós neste ano foi o argentino "O Segredo de Seus Olhos", que ganhou o Oscar de estrangeiros. Por que nosso cinema só tem favela, violência e às vezes um humor pastelão? Onde estão os diálogos inteligentes, a sutileza e os dramas das relações humanas? Estão nos filmes argentinos.
Há também argentinos que torcem pelo Brasil. Alejandro Grimson, professor e pesquisador da Universidad Nacional de San Martín, é um deles. Mas ele reconhece que, de maneira geral, “o único caso em que os argentinos querem o triunfo brasileiro é contra a Inglaterra”. Segundo Grimson, “Brasil e Argentina são países que se deram as costas por muito tempo, cultivam estereótipos mútuos e têm muito a aprender um com o outro”.
Mas, talvez, seja outro o principal motivo que me leva a não torcer contra os argentinos. É porque somos melhores jogadores do que eles. Somos penta. E Pelé sempre foi o rei. Torço para disputar a final contra los hermanos. Não é verdade que os argentinos são italianos que pensam que são ingleses mas falam espanhol?
* Ruth de Aquino é diretora da sucursal da revista "Época" do Rio de Janeiro
Assista ao vídeo:http://www.youtube.com/watch?v=wFh4lYpdD2g
Um comentário:
Muito bom e quer saber de uma coisa? Acho que muitos brasileiros também torcem prá que a Argentina chegue em 2ºlugar, depois do Brasil, pelas mesmas razões.
Acho que mesmo sendo antipáticos, atrevidos e confiantes demais da conta, chegando ao ponto de blasfemarem quando chamam Maradona de "deus", adoro vê-los jogar e, francamente, estão muito melhores que os nossos.
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