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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Do ciclo do couro ao pós-modernismo na Uefs

Por Gil Mário
A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) tem estudado, incentivado e apoiado as artes plásticas desde 1976 - ano da sua criação.
Todo seu equipamento, desenvolvido ao longo deste período visa contemplar as etapas da carreira do profissional e amador desta vertente artístico-cultural beneficiando Feira de Santana como um todo.
Devo iniciar pela criação do Museu Regional em 1967 – um marco entre o fim do ciclo do couro com arte utilitária (século XX) e início da arte pura (arte pela arte) - onde o feirense viu pela primeira vez, exemplares da arte modera brasileira e inglesa. A vivência com o modernismo não desprezou o couro e a boiada. O Museu reservou a Sala do Couro para exemplificar esse importante momento do progresso da cidade.
Em 30 de julho de 1978, aconteceu a inauguração do Museu Casa do Sertão – uma iniciativa do professor Raimundo Gonçalves Gama, junto ao Lions Clube de Feira de Santana e por ele administrado por muitos anos.
No dia 20 de agosto de 1985, por iniciativa de Dival Pitombo o acervo do Museu Regional passa para a tutela da Uefs e em 1995, com a construção do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), no reitorado de Josué Mello e início do reitorado da professora Anaci Bispo Paim é transferido para o antigo prédio da Escola Normal totalmente recuperado e adaptado para a nova função, recebendo o nome de Museu Regional de Arte.
A partir de então, o Museu tem buscado parcerias com outras instituições como o Museu de Arte Moderna (MAM) de Salvador e o Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília, resultando no projeto “Coleções do Brasil”. São quatro grandes catálogos para registrar estes eventos.
Este Museu tem características próprias e contempla principalmente artistas já comprovados pela comunidade e pela crítica especializada. O projeto “A Escola Vai ao Museu” aumentou a visitação de escolas com 180 alunos por semana em média e as três exposições anuais com artistas convidados dinamizam e estimulam as escolas a participarem do referido projeto. A seleção dos artistas convidados é justificada pela responsabilidade das aulas ministradas, conceituando o que é artístico para os alunos em questão.
Ainda na gestão de Anaci Paim, foram criadas a Galeria de Arte Carlos Barbosa e o Museu Galeria de Arte Caetano Veloso (em Santo Amaro), dando apoio logístico ao artista emergente e profissional, colocando-o em contato com colecionadores, decoradores, arquitetos, marchands da capital baiana.
O Museu Casa do Sertão ficou definitivamente com o trabalho de apoio à história e divulgação da primeira fase do progresso da cidade. Agora com o professor José Carlos Barreto de Santana, novos projetos são acolhidos nas dependências do Museu: a professora e artista plástica Maristela Ribeiro criou junto a artistas da terra o grupo Gema - Grupo de Pesquisa em Arte Contemporânea proporcionando a pesquisa, fundamentado em três domínios: o âmbito investigativo, a produção propriamente dita e a conseqüente difusão. Esta iniciativa tem lugar no Museu Regional de Arte três vezes por semana, além de ações em várias escolas públicas da cidade. Um projeto abrangente e dinâmico desvendando as possibilidades da arte contemporânea.
A Uefs disponibiliza professores para jovens e emergentes artistas através das Oficinas de Criação Artísticas (OCA), onde Maristela Ribeiro coordena e incentiva os futuros artistas.
O Centro de Cultura Amélio Amorim tem sido palco de várias exposições coletivas em seu foyer, contemplando maior número de artistas possível, inclusive a realização dos Salões Estaduais de Artes Plásticas.
É preciso pensar o que acontece com a política e estratégias para alcançar um bom desempenho coletivo. Não o que um equipamento em separado realiza. Cada um desenvolve ações específicas. Os museus estão localizados no "ápice” da pirâmide, portanto do estágio áureo da carreira. Os artistas ali preservados para o futuro, são os que têm aprovação efetiva da comunidade, da critica especializada, do meio artístico como um todo.
Por isso, todo artista almeja conseguir uma exposição individual em um criterioso Museu. São estes cuidados, este conceito progressivo da carreira artística que contribui para enriquecer currículo de um respeitado artista plástico. Isto a Uefs tem preservado em função do próprio artista.
Já pensaram se fosse permitido a um professor sair com um Di Cavalcante ou Vicente do Rego Monteiro para ilustrar uma aula em colégio local? O que diriam os ex-diretores desta casa, como Antônio Barreto ou o falecido Dival Pitombo, que cuidou deste acervo por 22 anos de sua vida?
Segundo Odorico Tavares, “Feira de Santana merece o Museu que tem porque sua gente soube receber essa casa de cultura. Não podemos lembrar esse povo, sem o seu Museuzinho". No entanto, não posso deixar de citar Robert Hughes quando diz: “Seria um exagero dizer que se pode educar alguém por meio da arte. Mas ela é capaz de fazer de nós pessoas melhores e mostrar que existem muitos mundos além do nosso umbigo”.
* O artista plástico e professor Gil Mário é curador do Museu Regional de Arte

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