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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

NON DVCOR, DVCO

Do Blog Reinaldo Azevedo:
Daria aqui para brincar com o brasão da cidade de São Paulo, que traz o lema “Non ducor, duco” (no título, aparece "V" porque é o "u" maiúsculo), escolhido pelo poeta Guilherme de Almeida, talvez inspirado numa frase de Goethe. “Não sou conduzido, conduzo”. Ou “Não sou liderado, lidero”. Mas não vou aqui me estender sobre “este orgulho máximo de ser paulistamente”, como escreveu Mário de Andrade. Sim, a cidade já se rendeu uma vez ao petismo, com Erundina - a coisa teria de ser relativizada porque não havia dois turnos. E já elegeu Paulo Maluf. Também já pôs Celso Pitta na prefeitura. Já se fez, como se vê, muita besteira em São Paulo. Embora essas pessoas todas sejam tão diferentes entre si, uma coisa há em comum: a cidade parece rejeitar a tutela, a intervenção, o dedaço, mesmo o amparo das boas almas que, às vezes, acham que eleições têm resultados injustos.
Ah, não! Eu sou, digamos assim, muito “materialista” para me fixar em esferas de sensações ou no “espírito da cidade”. Isso é papo de boteco. Não existe. A cidade de São Paulo é um organismo vivo que tem exigências, composta por pessoas que são impelidas, pela natureza da economia, a ganhar a vida, a batalhar, a não esperar que as coisas caiam do céu, a reivindicar, a exigir. A população de São Paulo, tão diversa, feita de tantas diferenças, aceita e quer a assistência social organizada por entes estatais. Mas não é presa fácil do assistencialismo.
O PCB, o Partido dos Comentaristas Brasileiros, previa, como vocês sabem, que Lula esmagaria os adversários na disputa. Aí se descobriu que a tese era mentirosa, como sempre se disse aqui. O PT ficou longe das almejadas 700 prefeituras - elegeu 558, 230 a menos do que o PSDB - e, nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, fez apenas o prefeito de uma capital: Vitória. No Nordeste, duas: Fortaleza e Recife. E as outras três foram conquistada na Norte: Rio Branco, Porto Velho e Palmas. Aí o PCB mudou de rumo: de súbito, então, a eleição municipal já não queria dizer mais nada - só teria especial significado se Lula ganhasse...
Sim, a eleição quer dizer alguma coisa. Não exatamente a tal antecipação de 2010. Marta, se vocês observarem, teve, no conjunto dos votos, aquilo que o PT sempre tem na cidade: um terço do eleitorado - e ela perdeu eleitores na comparação com 2004 nos dois turnos. E um terço não quer nem ouvir falar do partido. O outro pode pender para qualquer lado. Pendeu esmagadoramente para Gilberto Kassab porque, vejam só!, ele faz uma gestão virtuosa na cidade. Na entrevista que ele me concedeu logo depois que Marta reconheceu a derrota (ver acima), ele deixou isso muito claro. Engenheiro, foi digamos, muito concreto ao especular sobre as razões de sua vitória: 110 AMAs, dois hospitais, asfaltamento etc.
Mas é evidente que a população de São Paulo, que aprova, majoritariamente o governo Lula, sabia que não votava no PT; sabia que votava nos dois - ou três, já que o PPS se juntou no segundo turno - partidos que se opõem ao presidente. E a legenda de Kassab o faz, na esfera federal, com especial dureza. Não, não quer dizer que vá votar necessariamente contra o candidato do presidente Lula em 2010 - eu realmente acho que aquela é outra eleição e que o potencial de transferência de voto, quando se trata de cargo idêntico, é maior.
A população de São Paulo rejeitou o que eu chamaria, aqui, de uma espécie de tutela ideológica, que esperava que ela abandonasse os dados da realidade para se fixar em artificialismos puramente ideológicos ou valorativos. Ele deveria esquecer, então, as AMAs, os hospitais, o Remédio em Casa, o Mãe Paulistana, as duas professoras em sala, o Cidade Limpa. Tudo em nome de abstrações e demonizações propostas pelo PT, a saber:
A – “Não nos contentamos com pouco”;
B – “Não vote no DEM; esse partido está acabando”;
C – “Você não conhece Kassab” (como não, se a Prefeitura do homem atingia aprovação inédita?);
D – “Ele é casado e tem filhos?”
E – E, claro, o maior de todos os fatores que procuravam tirar o eleitor do mundo real para empurrá-lo para esse universo só das idéias atendia pelo nome de Lula.
Sim, ele entrou de cabeça na eleição paulistana, à diferença do que se diz por aí. No primeiro turno. No segundo, já procurou manter certa distância. Gilberto Carvalho, seu braço direito, ainda tentou o socorro, mas constatou que era inútil e se arrancou antes do fim do jogo. No debate da Globo, como escrevi aqui - aquele em que só Nelson de Sá, da Folha, viu a esmagadora vitória de Marta -, a petista estava sozinha.
É assim que São Paulo disse o “Non ducor, duco”:
- rejeitou a baixaria;
- rejeitou a tutela do presidente Lula;
- rejeitou a arrogância do petismo;
- rejeitou uma eleição baseada só num conjunto de sensações;
- rejeitou a vergonhosa exploração que se tentou fazer da greve da Polícia Civil e da tragédia de Santo André.
Claro, fosse a cidade um "bolsão do bolsismo", com o carente contentando-se em receber a sua ração mensal - e foi em áreas assim que o PT obteve boa parte do seu êxito -, talvez as coisas fossem diferentes. Mas até quem, em São Paulo, recebe Bolsa Família sabe que tem de se virar para complementar o ganho. O Lula Messias, o Lula Salvador, o Lula Doador, tem importância muito reduzida na cidade e no Estado. E, se vocês pensarem bem, esse modelo não chega a ser mesmo um prodígio eleitoral - mesmo hoje, com a economia “bombando”, como diz Marta (os efeito da crise ainda não chegaram à base).
O PT claramente não estava preparado para enfrentar um prefeito que, a exemplo de Kassab, também foi para a periferia, disputando votos com obras e organização. Nos extremos mais pobres da cidade, é verdade, Marta teve um desempenho um pouco melhor. Impossível competir com os, digamos assim, métodos do partido ali nas franjas onde várias misérias se juntam - inclusive as éticas. Mas Kassab cresceu também por lá - porque levou a governança da prefeitura.
Isso explica o resultado histórico que obteve. Ocorre que a eleição começou de um modo estranho por aqui por conta do fator Alckmin, que dividia aqueles que era eleitores de um dos lados. À medida que foi ficando claro que Kassab estava diretamente envolvido com as melhorias reais da cidade, a eleição foi, então, assumindo o perfil que vimos neste domingo.
“Non ducor, duco”. Não sou conduzido, conduzo. Todas as tentativas do PT de criar factóides que não guardavam relação direta com a administração da cidade foram de pronto repudiadas. E Marta viu a rejeição a seu nome crescer à medida que intensificava os ataques. Lembrem-se que o Planalto mandou para a cidade uma espécie de Força Nacional de Segurança Petista - os 11 ministros... E nada!
As Fadas Sininho (a imagem é de Diogo) que gostam de levar as bombas para estourar longe de Lula agora se apressam em dizer que ele nada tem a ver com isso. Aliás, ele próprio fez um comentário muito interessante, que merecerá um post à parte (abaixo). Mas o fato é que tem, sim. Não, a eleição de 2008 não demonstra uma rejeição à pessoa de Lula. Mas ela indica que o eleitor rejeitou as suas recomendações. É como se lhe dissesse: “Vá cuidar de governar o Brasil, Lula, que a gente sabe em quem votar”. E houve quem votasse até no PT. Mas não porque ele recomendou.
No Brasão de São Paulo, lê-se “Non ducor, duco”. Mas há muitas outras capitais que poderiam adotá-lo.

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