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domingo, 26 de outubro de 2008

O Brasil e as urnas

Do Blog Reinaldo Azevedo, postado antes das eleições:
O PT não vai eleger o prefeito de nenhuma capital da Região Sul. Deve tomar uma surra em Porto Alegre. Parece que os gaúchos não querem mesmo mais saber do partido. Mesmo o Chico Buarque emprestando algumas redondilhas para Maria do Rosário...
Na Região Sudeste, o partido vai ter de se contentar com Vitória - a menos que você acredite, leitor, que a possível eleição de Márcio Lacerda, em Belo Horizonte, deve algo ao petismo. Perguntem ao ministro petista Patrus Ananias para ver. Ele não acredita. Tampouco o presidente do partido, Ricardo Berzoniev... No Rio, o fato de o governo federal estar apostando em Eduardo Paes, neoconvertido do tucanismo ao PMDB de Sérgio Cabral, evidencia o óbvio: o partido inexiste na cidade e no Estado. E esse apoio a Paes só é tão explícito porque Fernando Gabeira (PV) é inequivocamente de oposição, apoiado pelos tucanos e pelo DEM.
No Nordeste do onipresente Bolsa Família, só duas capitais ficaram com o partido: Recife e Fortaleza. Na Norte, outras três: Rio Branco, Porto Velho e Palmas. Ah, sim: poderia ter sido uma vitória arrasadora, acachapante, se levasse Porto Alegre, Salvador e São Paulo. Mas não vai. O PMDB - este, de fato, um dos grandes vitoriosos dessa jornada de 2008 - ficará com as duas primeiras. E São Paulo (re)elege - de fato, elege - um prefeito do DEM. Essa é a dor maior do petismo, é indisfarçável. Além de Gilberto Kassab ser uma das lideranças mais importantes do partido que o PT verdadeiramente detesta, o prefeito é aliado incondicional do cada vez mais presidenciável José Serra (PSDB), governador de São Paulo.
Sim, há dois meses, PT e setores da imprensa - que Diogo Mainardi já apelidou de “Fada Sininho”, sempre levando as bombas dos piratas para estourar longe de Lula - divertiam-se a valer com as trapalhadas dos tucanos em São Paulo, o desastre da candidatura Kassab, o racha do PSDB, o risco de o democrata terminar a disputa atrás de Paulo Maluf, o malogro do projeto presidencial de Serra etc etc etc. Eu já escrevi aqui várias vezes: não tomo 2008 como prévia de 2010 - “eles” é que tomavam. Mas, curiosamente, isso só valia se o PT ganhasse de lavada. Como não ganhou, então não tocam mais no assunto. O cenário, como está, já não é animador para os petistas. Uma eventual vitória de Gabeira no Rio assumiria, aí, sim, ares de desastre.
“Reinaldo, afinal, é antecipação de 2010 ou não?”. Não! Mas serve para os jogadores tomarem posições, não é? Além do presidente Lula, quem é o Poderoso do Bairro Peixoto do PT? Ninguém! Tarso Genro e Dilma Rousseff apanharão no Rio Grande do Sul; o grupo de Marta levará uma carraspana histórica em São Paulo (a despeito do que diga Gilberto Dimenstein, a Fada Sininho da ex-prefeita); Jaques Wagner será derrotado na Bahia pela união do PMDB com o DEM; em Minas, o PT é um gato tão pardo quanto o PSDB de Aécio Neves; no Rio, não se sabe nem o endereço do partido. Em Pernambuco, João Paulo não é mais do que uma influência local. Olhem que Luisianne Lins, a prefeita reeleita de Fortaleza, ainda acaba como a estrela em ascensão do partido... E, é bom que se diga, contou com o apoio do governador Cid Gomes (PSB).
Mas, claro, vocês lerão nos próximos dias que a oposição quebrou a cara em 2008 e que o governismo teve uma vitória esmagadora etc e tal. Porque, evidentemente, na conta do governismo estarão, por exemplo, os votos do PMDB. É , faz sentido... O PMDB é quase sempre governista, o que não quer dizer “petista” ou “lulista”.
O resultado de agora não antecipa nada, mas informa algumas coisas. É evidente que Lula, numa disputa presidencial, tem mais poder de transferência de voto do que na eleição municipal. As questões locais não contarão nada, e ele falará de suas realizações como presidente, tentando transferir à ungida ou ao ungido parte de seu prestígio. Mas já dá para perceber que é essa uma operação de risco, como Aécio Neves e Fernando Pimentel sabem muito bem: seu candidato só emplacou em Belo Horizonte quando deixou de ser visto como um boneco de ventríloquo. O eleitor parece não gostar de tutelados. A propósito: parte da imprensa paulistana tentou atribuir essa condição a Kassab. Não colou porque Serra, de fato, ficou longe dos holofotes publicitários. O prefeito conseguiu construir a sua própria imagem, ganhou personalidade. E quem assumiu ares de tutelada - de Lula - foi Marta.
Está claro, também, que 2009 não será um grande ano para a economia brasileira - e mundial. Vamos ver 2010. O governismo sempre tem mais força na abastança, como sabem o FHC de 1998 e o PSDB de 2002... Um partido que, nas disputas eleitorais, não consegue formar líderes novos, ficando na dependência de Lula, o “One man show”, conseguirá fazer de Dilma a figura a incendiar os corações Brasil afora?
Eles baterão bumbo: “Saímos das eleições mais fortes do que entramos”. Bem, escrevi acima o que acho dessa análise. Ademais, é preciso considerar: esses são os resultados eleitorais com o governo Lula no auge da sua popularidade. Agora, a tendência é começar a descida.

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