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sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Feira pode viver sem o busto de Lucas

Por Batista Cruz

Busto para Lucas. A idéia só pode ser coisa de um gozador ou de quem desconhece - ou não a conhece bem - a história deste larápio e assassino que apavorou a região no século XIX. Ele não tem nada de herói. Como se sabe, Lucas não foi um contestador social ou enfrentou os poderosos do seu tempo com o objetivo de melhorar a vida dos seus semelhantes. Formou um bando para assaltar e roubar - e não raramente matar. Pura e simplesmente. Só não roubava a negrada porque ela não tinha o que ser roubado.
Homenageiam-se as pessoas pelas coisas boas que elas fizeram - pelo menos a parte oficial. Lucas, pelo que se sabe, não fez nada de bom (pelo menos no sentido `bom´ da palavra). Muito pelo contrário. Apavorou por décadas os feirenses ou quem passava por terras locais. Roubava, saqueava e às vezes matava - pelo menos é que se conta. Existem histórias de estupros. O lucas feirense deve ser escrito com inicial minúscula, dada a sua importância.
Pela quantidade de lucas que a cidade tem não se pode argumentar que o Lucas da Feira não recebe homenagens. É Lucas dos Santos, Nery, de Jesus, de Souza, da Conceição, Machado. De tudo quanto é sobrenome. Tem Lucas até com sobrenome coreano. Não se sabe se os pais resolveram batizar seus filhos porque o nome é bonito, se queriam homenagear a São Lucas, ou ao dito cujo - acredito que alguns, pelo sobrenome, prestaram uma homenagem ao Lucas local.
Ele não tem uma história romanceada. Não dá nem uma bela história de trancoso, visto que a violência pontuaria em todos os parágrafos. Teria um assalto ou morte pelo meio. Compará-lo a Robin Hood, também personagem da ficção inglesa, é uma ficção. Segundo o estudioso Joaquim da Gama, o lado social de Lucas era dividir, com seus asseclas, em partes iguais os roubos e furtos. Nisso era justo: não queria ganhar mais do que nenhum dos seus comparsas.
Lucas não merece estátua nenhuma. Merece, sim, o limbo da história. Homenagear bandido não é uma das atitudes das mais inteligentes. Homenagear alguém que dizem ter sido um revoltado do seu tempo é muito pouco. Porque foi oprimido não justifica que tenha se tornado um assassino, que dizem ter sido dos mais cruéis. Porque foi enforcado também não. Foi levado ao patíbulo porque mereceu.
Se fosse para homenagear negro que se revoltou contra o sistema, este país ficaria engarrafado de bustos. Lucas, o feirense, não foi o primeiro - tampouco o último. Neste ponto de vista, sobraria pouco espaço neste país sem um busto. Ruas e estradas ficariam como uma fotografia tirada por Reginaldo Pereira da entrada de Santa Luz, onde as placas de obras no município estão umas sobre as outras.
Não se tem conhecimento de que se tenha imagem exata de como era o rosto do bandido. Se se não se tem idéia de como ele era, como vão lhe prestar homenagem? Já sei: vai ser o rosto do negro desconhecido. Ou será que vai cristianificá-lo, como fizeram como Tiradentes? Com barba e tudo - menos os cabelos grandes e loiros, claro. Ao contrário de como costumam iniciar seus textos alguns intelectuais, Lucas não foi um herói do seu tempo - e pelo que fez em tempo algum.
É muita história. Chamemos, então, o jornalista e historiador Eduardo Bueno para reescrever a nossa história. Com graça, ele vai nos contar tudinho. A vida no período aporrinhado por Lucas como ela foi. Depois disto, duvido muito que o debate não se acalore - por enquanto está com um pé na fogueira e outro na geleira - ou seja: na temperatura média.
Como podemos chamar as pessoas que se orgulham de um bandido a ponto de querer que a cidade o homenageie com uma estátua? Sei lá. Pode-se argumentar que a cidade tem estátuas e bustos de quem não os merecem. Aí é outra história.
Batista Cruz é jornalista.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá meu caro Dimas,
Quero apenas deixar aqui algumas palavrinhas sobre este post.
Muitos são os "Lucas" que já estão no limbo da História,o que pretende-se é tirá-los de lá...com estátua ou não !Muitos são os "Lucas" da atualidade, que roubam o direito de inúmeras famílias de ter uma vida digna, todos sob o ar condicionado...
Lucas viveu num determinado contexto histórico, filho de Feira de Santana e daí?
" Só não roubava a negrada porque ela não tinha o que ser roubado."
Que grosseiro... É sobre as atrocidades sofridas por essa "negrada" e por todas as formas de resistência ao escravagismo que estamos interessados!Quanto a estátua de Lucas está já existe há 200 anos na memória histórica desta cidade...e este fato nossa amigo Batista não poderá açoitar ao limbo.