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quinta-feira, 3 de julho de 2014

"Felipão brinca com fogo"

Por José Sámano
Populista como é, Luiz Felipe Scolari sofreu um perigoso ataque de demagogia. Mais um, mas desta vez ele ultrapassou alguns limites que podem se voltar contra a própria seleção brasileira e contra todo um país que torce por ela sem outra fissura além do puro debate boleiro.
A Copa abriu um parêntese nas ruas, onde, ao contrário do que se viu na Copa das Confederações, um ano atrás, as pessoas interromperam os protestos sociais e, ao menos até agora, apenas se divertem com a sua equipe e com o resto do torneio. Enquanto o povo decidia só discutir sobre este ou aquele jogador, ou sobre o sistema tático, Scolari achou melhor começar a espalhar álibis para o caso de a bola lhe ser infiel. Agora, ele vê conchavos da Fifa e de seus poderosos para evitar o triunfo brasileiro. Um irresponsável contando histórias. Mensagens assim, no caso de uma derrota puramente esportiva, podem ter consequências muito turvas, ainda mais numa nação que se amotinou contra os gastos feitos para a Copa. Só faltava que, além de um circo injustificado, a própria equipe local fosse tratada como pária. Um coquetel explosivo. Pode ser que Scolari não esteja consciente… Ou pode ser que esteja. Talvez apelar a todos os estamentos seja a única coisa que lhe resta. De futebol, nem pensar.
Em meio à trégua, o técnico brasileiro começou a armar seu próprio incêndio, acusando a Fifa e o departamento de arbitragem de conspirarem contra a seleção Canarinho. "Estamos sendo muito educados e cordiais com os adversários (...), não estou mais conseguindo segurar essa educação. Os árbitros estão meio reticentes com o Brasil", disse Felipão após a angustiante partida contra o Chile, pouco depois de o assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, ter se desentendido com o jogador chileno Pinilla. O Brasil havia visto o lobo, e o pavor disparou todos os alarmes. Faltava o segundo capítulo de Scolari e suas preocupações com esse imaginário e irrisório complô. De futebol, nem pensar.
Como se fosse pouco, dias atrás ele convocou um grupo minuciosamente escolhido de jornalistas brasileiros para soltar seus rojões: "A Fifa quer fazer o projeto do hexacampeonato fracassar", disse. Tal é o seu ataque de pânico que, entre as provas arroladas, estava o fato de Van Gaal não ter sido punido por ter apontado certo favorecimento ao Brasil, nem Robben por admitir que se atirou num lance de pênalti. Em sua tentativa de cerrar fileiras, também recriminou a imprensa brasileira por não ter sido mais beligerante no caso do gol de Hulk anulado pelo inglês Howard Webb no confronto com o Chile, depois de gastar tanta tinta com o pênalti forjado pelo centroavante Fred na partida inaugural, contra a Croácia. De futebol, nem pensar.
O angustiante transe com o Chile e a paúra de alguns jogadores, como o capitão Thiago Silva, que apavorado pelo drama dos pênaltis pediu para ser poupado das cobranças e se isolou do grupo durante a disputa, deixou Scolari em estado de comoção. Poucos como ele sabem o que é um fracasso monumental em casa. E não se trata do Maracanazo, ocorrido quando Felipão não tinha nem dois anos, e sim da Eurocopa de 2004, quando o Portugal de Scolari, jogando em casa e tendo Figo, Cristiano e companhia no elenco, perdeu a final em Lisboa para a Grécia. Aflito pelo susto diante dos chilenos, Scolari quis se blindar e começou o tiro ao alvo: deixou os jogadores em maus lençóis ao proclamar aos quatro ventos que teria novamente pedido a ajuda de uma psicóloga, porque via seus atletas emocionalmente abalados. Também revelou, sem citar nomes, que se arrependia de ter convocado algum deles. Não satisfeito em fazer intriga com seus jogadores, que se sentiram desnecessariamente expostos ao verem o chefe revelar sua suposta fragilidade, abriu uma divisão dentro da imprensa ao escolher determinados mensageiros em detrimento de outros.
Obviamente, colocou a Holanda, possível futura rival, no olho do furacão, e atirou a Fifa, já suficientemente vilipendiada por si só, à fogueira popular. De futebol, nem pensar.
O tema futebol é assunto de ilustres como Tostão, que, em suas colunas, lamenta haver tão pouco talento e tanta mesquinharia. Ou de Carlos Alberto Torres, o inesquecível capitão do mágico Brasil de 1970, o ponto final da melhor jogada coletiva que o futebol recorda, o 4 x 1 sobre a Itália naquela final mexicana: "A equipe chora quando canta o hino, quando se machuca, quando bate pênaltis… Já chega de chorar!".
E o que diz Scolari? Ouvidos moucos e a melhor pirotecnia em um país que não está para atirar fósforos. De futebol, nem pensar.
Fonte: "El País"

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