Ele morreu em 1978, aos 41 anos. "Só porque fez um filme genial", como diz Olney Filho
Olney São Paulo se estivesse vivo completaria 86 anos neste domingo, 7. Ele foi sempre presente nos movimentos artísticos e culturais da Feira de Santana, com destaque para o cinema, seja como ator, autor, diretor e mestre dos amantes da Sétima Arte nesta cidade. Vale sempre a pena lembrar da trajetória de Olney e estamos sempre lembrando. E quem lembra de Olney em Feira de Santana?
Olney morreu
de câncer aos 41 anos, em 1978. Nesse período, o Blog Demais tem
publicado matérias sobre o autor e sua obra. Também em jornais, revistas e
programas de rádio sobre este personagem da cidade.
Durante cerca de oito anos, convivemos com o cineasta - entre 1970 até
sua morte, em 1978, através de contatos pessoais quando ele vinha do Rio de
Janeiro para Feira de Santana dando notícias sobre seus filmes, bem como por
meio de cartas que ele escrevia para este jornalista, também dando conta de
suas realizações e andanças, até internacionais.
Junto com Olney, a visão de vários de seus filmes, inclusive "Manhã
Cinzenta", em sessões clandestinas, com projetores 16mm conseguidos por
mim em instituições, em paredes brancas da casa de meus pais e de seus
familiares. Em 1973, a ajuda para conseguir exibição de "Como Nasce uma
Cidade", realizado para comemorar o centenário de Feira, junto ao Cine
Timbira. Primeiro em uma sessão matinal privada com ele, o então prefeito José
Falcão, secretários e convidados. Depois, incluindo o filme em programação
regular do cinema, durante cerca de uma semana. Ainda a lembrança de que no
início de 1976, assistimos juntos ao filme baiano "O Pistoleiro", de
Oscar Santana, também no Cine Timbira, em sessão noturna.
No Clube de Cinema de Feira de Santana, que reativei nos anos 70, a
exibição de muitos de seus filmes, a exemplo de: "O Profeta de Feira de Santana",
"Cachoeira, Documento da História", "Teatro Brasileiro I:
Origens e Mudanças", "Teatro Brasileiro II: Novas Tendências",
"Sob o Ditame de Rude Almagesto: Sinais de Chuva", "O Grito da
Terra". Também o filme "Memórias de um Fantoche", do seu filho Ilya
São Paulo (também falecido).
Depois de sua morte, como diretor Executivo da Secretaria de Turismo,
Recreação e Cultura, participei ativamente da promoção de mostra em memória com
exibição de seus filmes "Um Crime na Rua" (fragmentos), "Ciganos
do Nordeste" e "Pinto Vem Aí", no auditório da Biblioteca
Municipal Arnold Silva. Seu último filme, "Dia de Erê", também foi
exibido pelo Clube de Cinema.
Ainda sobre Olney São Paulo, exemplares do seu livro de contos "A
Antevéspera e o Canto do Sol" foram deixados em consignação comigo para a
venda direta a pessoas interessadas na obra. Para o jornal "Feira
Hoje" e também para a "Folha do Norte", principalmente, foram
entrevistas, matérias e notas produzidas sobre o cineasta. Depois de sua morte,
registros sobre Olney para que permanecesse na memória de Feira de Santana.
O cineasta feirense também mereceu biografia em livro, "Olney São
Paulo e a Peleja do Cinema Sertanejo", de Ângela José do Nascimento. Em
paralelo ao livro, Ângela José realizou o vídeo "O Cineasta do
Sertão", um documentário biográfico cheio de respeito e ternura para com
Olney, com depoimentos de colegas, familiares e amigos. O vídeo - foi
apresentado no final dos anos 80 nesta cidade, no Feira Palace Hotel - tem
texto de Olney Júnior, trilha sonora de Ilya, narração de Irving e participação
de Pilar - os quatro filhos dele - e presença de Maria Augusta, sua mulher.
Olney São Paulo deu nome a Cine Clube - que não está mais em
atividade. Seu filme "Grito da Terra" virou nome de jornal - também
extinto. Teve mesa com seu nome no Balcão Di Vidros - um bar que já
fechou. Foi nome de premiação, em 1994, do Salão Universitário de Artes
Plásticas, do Museu Regional de Arte.
O cinema brasileiro, através da Associação Brasileira de Documentaristas
e Curta-metragistas (ABD), comemora desde 2011 o Dia do Documentário, em 7 de
agosto. A data lembra o dia de nascimento do cineasta em 1936.
Mais: na Universidade Estadual de Feira de Santana
(Uefs) existe (?) o Coletivo Olney São Paulo, entidade formada por professores
e alunos para estudar cinema. Na Galeria Carmac tem um espaço chamado praça
Olney São Paulo. No bairro Aviário existe uma extensa rua com seu nome. Ele
também denomina a praça de alimentação do Boulevard Shopping.
O cineasta continua sendo fonte constante de estudos acadêmicos de relações entre literatura e cinema no Brasil.
Em 2011, a Câmara Municipal criou a Medalha de Honra ao Mérito Olney São Paulo, projeto de resolução de autoria do então vereador Ângelo Almeida, a ser concedida anualmente a duas pessoas ou entidades que tenham contribuído na difusão da cultura e da arte e na revelação de jovens artistas no âmbito do Município. Pelo que consta, ainda não foi concedida.
Seu filme "Manhã Cinzenta" foi apresentado em vários festivais internacionais, como Pesaro (Itália), Cracóvia (Polônia), Mannheimm (Alemanha) - onde foi premiado com o Filmdukaten, em 1970, e causou curiosidade nos alemães com sua presença, pois ele foi para o festival de sandálias de tiras de couro cru, naturalmente compradas na feira livre de sua terra -, Londres (Inglaterra), Havana (Cuba), e Viña Del Mar (Chile).Olney foi elogiado por Orson Welles (realizador do maior filme de todos os tempos, "Cidadão Kane"), para quem "Manhã Cinzenta" era um filme extraordinário.
Glauber Rocha, que filmou em Feira de Santana o prólogo de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", em 1964, chamou Olney de "mártir do cinema brasileiro", disse mais que ele "é a metáfora de uma alegoria. Alegorias estas que muitas vezes foram barradas, mas que nunca deixaram de ser registradas".
Em 7 de agosto de 2009, com coordenação de Dimas Oliveira a realização do evento memorialista "Tributo à Olney São Paulo", na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), pela Fundação Municipal Cultural Egberto Tavares Costa e Fundação Senhor dos Passos, com presenças de Olney Júnior e Ilya São Paulo, filhos de Olney, mais os cineastas José Umberto, Roque Araújo e Tuna Espinheira, crítico André Setaro. Um "ato carinhoso para alguém muito ligado a história de Feira de Santana", como considerou Ilya São Paulo sobre homenagem póstuma prestada "para manter viva na lembrança a obra do cineasta".
No catálogo oficial do I Mille Occhi, oitava edição do Festival Internacional de Cinema e de Arte, realizado em Triestre, na Ítália, entre 18 e 26 de setembro de 2009, consta artigo de Dimas Oliveira, especialmente escrito (e traduzido do inglês para o italiano), sobre "Grito da Terra", de Olney São Paulo, que foi exibido no festival. A atriz Helena Ignez - que atuou na realização feirense - foi destacada com o "Premio Anno Uno" e teve mostra de seus filmes no evento. O catálogo dedica 26 páginas (29 a 54) a Helena Ignez, sendo as duas últimas destinadas ao filme de Olney São Paulo.
No dia 3 de dezembro de 2011, Olney foi homenageado
dentro da mostra de curtas do Tocayo, evento multimídia que ocupou o Galpão da
Ação da Cidadania, no Centro do Rio de Janeiro. Ao todo foram exibidos quatro
títulos do cineasta: "Manhã Cinzenta" (1968), obra que culminou em
sua prisão; "Grito da Terra" (1964); "Sob o Ditame do Rude
Almajesto: Sinais de Chuva" (1976); e "Pinto Vem Aí" (1976). A
12ª edição do Tocayo que vai reunir cerca de 50 artistas, ocupando 5.000 m² de
área com 12 horas de atividades culturais.
Primeiro filme
Outra destacada homenagem feirense ao cineasta se
deu no dia 9 de agosto de 2013 - dois dias depois do 35º aniversário de
falecimento de Olney -, a exibição e lançamento em DVD do seu primeiro filme
"Um Crime na Rua", um documento histórico sem precedentes, realizado
em 1955, no evento "Tributo a Olney São Paulo 2013", no Centro
Comunitário Ederval Fernandes Falcão.
Esse filme foi encontrado pelo cineasta Henrique
Dantas no Arquivo Nacional, em pesquisa realizada para o projeto "Peleja".
O filme é originalmente mudo e em preto & branco.
A Fundação Senhor dos Passos, através do Núcleo de Preservação da Memória Feirense, foi quem resgatou, digitalizou e lançou em DVD. A instituição trouxe à tona para o público a importância do cineasta Olney São Paulo, muitas vezes esquecido da memória coletiva.
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